
A estudante V., de 30 anos, queria ter a liberdade de fazer um carinho na namorada, C., professora de 33, quando elas est�o na fila do teatro. �s vezes, a car�cia nos cabelos � autom�tica, em outras causa apreens�o ao casal. Juntas h� pouco mais de quatro anos, elas ainda t�m medo da exposi��o. “Tenho vontade de agir mais livremente”, afirma C., que evita redes sociais, para preservar a vida particular. Ela contou � fam�lia sua op��o aos 24 anos. Foi dif�cil, disse, mas o tempo passou, ela foi paciente e os pais agora agem com mais naturalidade. C. diz que os parentes at� se manifestam em favor das causas LGBT, algo dif�cil de imaginar em outros tempos. Mas essa realidade fica apenas entre os mais pr�ximos. No trabalho, ningu�m sabe que a professora � l�sbica, e ela pretende que a situa��o continue assim.
V. se revelou para a fam�lia aos 19 anos, mas diz ainda sofrer com a falta de liberdade. “Voc� tem que ficar se vigiando o tempo inteiro, o que vai falar, n�o pode passar a m�o no cabelo da outra pessoa, porque olham diferente, parece at� uma agress�o. Se fosse uma amiga qualquer, ningu�m interpretaria de forma negativa. � muito ruim”, disse. No bar, quando as duas saem para tomar uma cerveja juntas, as m�os se encontram debaixo da mesa. “� muito constrangedor. Seria muito bom que as pessoas vissem de uma forma natural.” Mesmo com os desafios, elas pensam em se casar e em criar um filho. “� uma pessoa que nunca imaginei que fosse encontrar, queremos viver o m�ximo de tempo juntas”, declarou V.
Jailane, servidora p�blica de 26 anos, e Ana Carolina, professora de 25, enfrentaram fam�lia, levantaram a bandeira, se mudaram para um apartamento na Regi�o da Pampulha, em Belo Horizonte, e, juntas, criam um filho de 9 anos. Mesmo t�o novas, sabem o que querem: “Somos uma fam�lia, com companheirismo, respeito, amizade e amor, que � fundamental”, disse Jailane. At� chegar a essa maturidade, encontraram percal�os. O �ltimo deles h� menos de um ano, quando em um bar os tr�s juntos receberam a conta do gar�om sem que a tivessem pedido. Questionaram e receberam a resposta: “Aqui � um ambiente familiar”. Se indignaram e rebateram: “N�o est�o reconhecendo uma fam�lia?”. Essa foi uma das v�rias vezes que foram expulsas de estabelecimentos. Em duas, chamaram a pol�cia. “No meu caso foi complicado assumir, mas foi bom quando decidi. N�o poderia ficar me escondendo, existia algo maior, que � o amor”, contou Ana.
Em Divin�polis, no Centro-Oeste de Minas, P., advogada de 49 anos, viveu incertezas, como Daniela Mercury. Foi casada por 25 anos, teve quatro filhos, mas n�o era feliz. H� quatro anos vive com a auxiliar de escrit�rio P.V., de 28. “Voc� n�o pode viver negando quem �”, disse. Levar a p�blico o que sentem ainda � dif�cil, dizem. “Fui agredida fisicamente e verbalmente quando assumi minha op��o sexual, at� mesmo por pessoas da minha fam�lia. Para meus filhos foi muito dif�cil. Eles ficaram um tempo afastados, mas agora temos uma boa conviv�ncia. At� hoje h� pessoas que viram a cara quando me veem na rua”, contou. P. e P.V. criam juntas um filho de 2 anos, que chama ambas de m�e. “Temos uma fam�lia aben�oada”, disse a advogada. “Ser gay, l�sbica, bissexual n�o � vergonha. Precisamos continuar lutando para conseguir o respeito da sociedade”, completou.

Casamento
A t�cnica de enfermagem Vanderleia, de 34, e a companheira, Rivane, de 40, moram em Montes Claros, no Norte de Minas. Na segunda-feira elas pretendem oficializar a uni�o no cart�rio da cidade. Rivane assumiu a homossexualidade h� apenas tr�s meses, quando o relacionamento come�ou. Elas tentam n�o se importar com o que os outros falam, mas sofrem. “Por causa dessa resist�ncia, precisamos ser comedidas nas manifesta��es de carinho em p�blico”, disse a t�cnica de enfermagem, que, aos 22 anos se casou com um homem. A rela��o, por�m, durou apenas quatro anos.
Todas as mulheres que contaram suas hist�rias concordam com a atitude da cantora baiana. Acreditam que a revela��o vai contribuir para a diminui��o da homofobia e dos crimes de preconceito. Mas a professora C. tem uma opini�o particular: “Acho que ela tamb�m sofreu muito. Ela n�o virou l�sbica da noite para o dia; tem filhos criados, foi casada... Com certeza tamb�m enfrentou muitas dificuldades”.