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Estado de Minas

A luta de um ex-policial para abandonar o crack

Em tr�s reportagens publicadas na edi��o impressa do Estado de Minas, dez pessoas usu�rias de crack revelaram seus dramas e a dor de suas fam�lias. Elas foram acompanhadas, durante seis meses, pelos rep�rteres Guilherme Parana�ba e Sandra Kiefer. Estima-se que, em todo o pa�s, haja 1,3 milh�o de dependentes desta droga. Conhe�a outras tr�s delas que a reportagem acompanhou e cujo relato � publicado, com exclusividade, no EM.com.br


postado em 14/08/2013 06:00 / atualizado em 24/08/2015 08:10

O ex-usuario de crack, Rubem Pereira foi acolhido pela irmã na rua Marilândia, 25, bairro Ribeiro de Abreu. (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press )
O ex-usuario de crack, Rubem Pereira foi acolhido pela irm� na rua Maril�ndia, 25, bairro Ribeiro de Abreu. (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press )


Investigador da Pol�cia Civil durante quase 20 anos, Ruben teve a profiss�o interrompida em 2009, quando foi demitido sob acusa��o que ele garante ser injusta. O desemprego e o fim da carreira de policial complicaram ainda mais a vida conjugal de 15 anos, que tamb�m j� estava desgastada, causando efeito cascata em sua vida. Primeiro veio a depress�o, mas, em seguida, o crack, que levou seus familiares a lev�-lo para tratamento. Seis meses depois, ele est� de volta ao conv�vio social, mas segue na busca por emprego para retomar a vida. O primeiro encontro com a reportagem aconteceu no fim de dezembro do ano passado. Sete meses depois, no fim de julho, o rep�rter e o ex-policial se encontraram pela �ltima vez.


EXCLUSIVO NO EM.com.br:
O caminho precoce para o v�cio em crack
Reca�da e desespero de um usu�rio de crack

Mais de vinte anos de servi�os prestados � seguran�a p�blica em Minas Gerais. Um ano como militar do Batalh�o de Pol�cia de Tr�nsito (BPTran) e o restante como investigador da Pol�cia Civil. Mas a premissa de portar armas de fogo para fazer valer a seguran�a dos outros n�o serviu para garantir o pr�prio bem estar, especialmente da cabe�a e das ideias. � assim que come�a a hist�ria do ex-policial civil Ruben Pereira, de 45 anos, na luta contra o dom�nio devastador do crack.

Com tr�s filhos, ele � um exemplo de como derrotas sucessivas no plano familiar e no trabalho criaram um efeito cascata em sua vida. Em 2009, Ruben j� vinha enfrentando problemas conjugais, que come�ou em 1994, quando recebeu duro golpe. Depois de ser acusado de desviar pe�as de um ve�culo numa delegacia da Pol�cia Civil em 1997, crime que garante que n�o cometeu, foi exclu�do da corpora��o 13 anos depois. Provou a inoc�ncia nos processos criminal e administrativo, mas diz ter sido demitido por conta de uma perda de prazo para recurso na a��o civil p�blica, que decretou o fim de uma carreira e a exonera��o da PC. “Fui acusado de uma coisa que n�o cometi. Foi uma injusti�a”, diz ele.

A falta de dinheiro come�ou a bater na porta e a depress�o chegou. Com a ajuda do irm�o, Ruben se recuperou da depress�o em 2009 por conta pr�pria. “Meu irm�o o levou para dentro de casa e ajudou demais. Depois disso, o Ruben veio morar comigo”, conta Virg�nia Pacis Pereira Moreira, de 51, a mais velha dos cinco irm�os dele, que vive no Bairro Ribeiro de Abreu, Nordeste da capital. Dois anos depois, Ruben voltou a morar sozinho em im�vel alugado pelos familiares.

Nessa �poca, um irm�o de Ruben e Virg�nia foi assassinado em Sabar�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. “At� hoje n�o se sabe o que aconteceu. Ele tinha necessidades especiais e foi morto de maneira b�rbara, esquartejado”, diz Virg�nia. O crack apareceu como o escape. A mulher precisou ligar para os cunhados e relatou que a situa��o do marido era preocupante, afundado no crack.

Em 14 de dezembro de 2012, Ruben entrou num centro de recupera��o em Ravena, distrito de Sabar�, na Grande BH. Duas semanas depois, contou seu drama ao Estado de Minas. Muito magro, ele contou a vergonha que sentiu, j� que passou a fumar no bairro onde era conhecido. Ele morou e tamb�m trabalhou em uma delegacia do Bairro Boa Vista, Leste de BH. “As pessoas apontavam. Olha ali! Depois perguntavam: � aquele policial civil?”, diz ele. A decad�ncia foi aumentando. “Sentava ao lado de moradores de rua debaixo de um viaduto para fumar o crack. A droga mudou minha vida”, relembra.

 

Ruben lembra que se tornou figura sombria, que tinha h�bitos parecidos com os de um animal. “Eu pensava que ficaria s� mais uma hora, mas sempre chegava mais algu�m com a pedra. Quando olhava, j� estava ali um dia inteiro. Comecei a mudar meu jeito de falar e a usar g�rias do mundo das drogas”, desabafa.


No pr�ximo encontro com a reportagem, no in�cio do m�s de fevereiro, a melhora f�sica era gritante, como acontece com todo dependente no come�o de um tratamento. As pessoas deixam de comer para fumar a pedra e rapidamente perdem muito peso. Na conversa de fevereiro Ruben tocava em um �nico assunto. A fam�lia n�o sa�a da cabe�a do ex-policial e a preocupa��o maior era com o filho mais velho, hoje com 19 anos e portador de autismo. A demiss�o da Pol�cia Civil representou o fim de um conv�nio m�dico de quase 20 anos, o que tamb�m refletiu no tratamento e acompanhamento do filho. “O m�dico que cuidava do Rodrigo tratava ele desde beb� e acabei perdendo isso com a minha demiss�o injusta”, diz Ruben.

No segundo m�s internado, Ruben ainda queriam reconquistar a confian�a da fam�lia. Mais de dois meses depois, em 24 de maio, uma novidade levanta d�vidas sobre o tratamento de Ruben. Ele recebe a reportagem em Lagoa Santa, na Grande BH, onde funciona outro s�tio do Centro de Recupera��o para Dependentes Qu�micos (Credeq). “Tive uma discuss�o com um novato em uma partida de futebol e acabei sendo desligado do tratamento”, anuncia.

“Andei a p� at� a BR-381 e l� em cima expliquei a um motorista de �nibus que eu estava sem dinheiro e precisava chegar a Belo Horizonte para tentar tratamento”, conta. Conseguiu a carona, encontrou outra irm�, Virg�na, e ficou na casa dela por dois dias at� conseguir autoriza��o para continuar o tratamento em Lagoa Santa, para onde foi em 16 de maio.
“Na minha cabe�a s� pensava que nunca mais queria voltar ao crack. Muitas pessoas, na minha situa��o, venderiam at� as roupas para usar a droga de novo. Essa dificuldade serviu de incentivo para mostrar supera��o”, afirma.


Uma semana depois, j� ambientado em Lagoa Santa, Ruben elogiou a nova casa, onde ficaria por mais um m�s, at� completar seis meses de interna��o. Apesar do tumulto que quase o derrubou na luta contra o crack, Ruben preferiu exaltar o lado positivo da hist�ria. “Aprendi que se eu discutir com algu�m, mesmo a pessoa estando errada, tenho que me controlar. Se eu quisesse evitar aquela briga, poderia ter pensado duas vezes”, afirma.

Em 23 de julho, Ruben mais uma vez passa a morar na casa de Virg�nia. No Bairro Ribeiro de Abreu, Nordeste de BH, ele tenta reconstruir a vida. Os cabelos cresceram e a fisionomia d� a sensa��o de que ele est� com energia de sobra para recome�ar. “J� renovei minha carteira de habilita��o para facilitar na busca por um emprego. Tamb�m j� mandei curr�culo para v�rios lugares e agora vou me inscrever em ag�ncias de trabalho”, conta animado.

DESAFIOS

Sete meses depois da entrada no Credeq, ele relembra como estava quando chegou ao s�tio em Ravena. A cabe�a assombrada pelos piores pensamentos e um sentimento de depress�o profundo, que s� piorou nos primeiros dias internado. “Com aquele tanto de pessoas desconhecidas fiquei ainda pior. Mas a cada dia comecei a perceber um �nimo maior”, relembra. Uma vez por semana ele frequenta as reuni�es que fazem parte do p�s tratamento e j� arriscou algumas palavras para encorajar aqueles que est�o entrando agora e costumam aparecer em alguma sess�es.

O desafio agora � controlar a ansiedade e estabilizar a rela��o com a ex-mulher, com quem ainda � casado no papel. Para os parentes, quando conseguir se reestruturar e conquistar de novo uma condi��o est�vel, Ruben ter� pela frente um marco em sua vida. Se conseguir lidar bem com o fim de seu casamento estar� apto a seguir livre das drogas. Ele prefere n�o entrar nesse m�rito, jogando para frente o futuro com a m�e de seus filhos. “Estou preocupado comigo. Primeiro quero estar bem para poder definir o futuro”, afirma.


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