
Buritis – Nas terras do fazendeiro Sebasti�o Pereira de Castro, de 72 anos, sob a sombra de uma �rvore t�pica do cerrado, o tingui, se estende uma dezena de l�pides antigas, algumas exibindo datas apagadas, a mais antiga de 1857. O marco de uma ocupa��o de mais de 150 anos � circundado por terras que sofreram por anos desmatamentos, inc�ndios e pastoreio predat�rio, at� entrarem em um processo cr�tico de degrada��o. "N�o tinha dinheiro para recuperar a terra, ent�o fui deixando se perder. A �gua da chuva virava enxurrada, limpava o ch�o, abria eros�es e ia parar na porta da minha casa", conta o produtor rural. A situa��o mudou quando, h� oito anos, a fazenda de Sabasti�o foi selecionada para um projeto piloto de recupera��o hidroambiental de �reas em processo de desertifica��o, que conseguiu financiamento do estado e foi implementada pelo Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio Urucuia.
Pelo levantamento feito pelo comit�, para deter o processo de desertifica��o em toda a sua �rea de atua��o seria necess�rio investir R$ 2,5 bilh�es em 30 anos. Mas o investimento d� retorno, como prova a �rea que recebeu interven��es na fazenda de Sebasti�o de Castro, que destoa do cerrado morto � sua volta, onde o solo � duro e est�ril. De acordo com o coordenador da CBH do Rio Urucuia, o engenheiro agr�nomo Julio Ayala, em cerca de 10 anos � poss�vel recuperar uma �rea em desertifica��o de 1 quil�metro quadrado ao custo de R$ 100 mil, para que se torne produtiva ou para suportar atividades como a agropecu�ria, desde que isso seja feito de forma sustent�vel. "A primeira coisa que precisamos corrigir � a absor��o da �gua pelo solo, que foi perdida com o desmatamento", afirma.
O pr�ximo passo � construir cacimbas para reter o excesso de �gua e impedir as eros�es por enxurradas. As estradas tamb�m s�o um elemento que precisa de estruturas eficientes de capta��o das �guas das chuvas, para que n�o provoquem eros�es nos terrenos pr�ximos. "Quando tudo isso estiver feito, � preciso arar a terra para quebrar a crosta dura que foi formada. Um estudo do solo posteriormente vai mostrar quais as corre��es qu�micas necess�rias para voltar a produzir. Mas essas a��es j� bastam para interromper o processo de desertifica��o e revigorar os aqu�feros subterr�neos", afirma Ayala.
Minist�rio admite revis�o de pol�tica
Apesar de o governo federal prever pol�ticas especiais e recursos que somam cerca de R$ 10 milh�es por ano para estudar os efeitos da desertifica��o apenas em terras da regi�o semi�rida brasileira, o diretor do Departamento de Combate � Desertifica��o, do Minist�rio do Meio Ambiente (MMA), Francisco Campello, n�o descarta a ocorr�ncia desse fen�meno em outros locais, como o Noroeste de Minas. "O processo ocorre em outras �reas. Uruguai e Cuba n�o t�m clima semi�rido, mas t�m processos de desertifica��o", afirma.
De acordo com o diretor, por haver indica��es de processos de desertifica��o fora do semi�rido brasileiro, a pol�tica nacional deve mudar em breve. "Vamos come�ar um trabalho de amplia��o das tratativas e observa��es para saber se os locais onde ocorre a degrada��o se inserem nas �reas de desertifica��o. Com isso, poder�o ser beneficiadas por linhas de cr�dito e pol�ticas de conviv�ncia com a semiaridez", disse.
Contudo, Campello afirma que cabe ao estado cadastrar no minist�rio as �reas que sofrem com o processo. "Temos deixado a autonomia com os estados. O governo federal prov� meios, como os fundos n�o reembols�veis Clima e Desertifica��o, do BNDES, e os estados os buscam", afirma. Segundo o diretor, a pasta ainda busca abrir um financiamento pelo Banco do Nordeste e h� projetos em andamento no Servi�o Florestal Brasileiro.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad) informou que sua regional de Una� acompanha a degrada��o ambiental no Noroeste de Minas. "Reconhecemos que a �rea tem car�ncia de recursos h�dricos e que necessita a��es de conserva��o e recupera��o ambiental – em especial as de recupera��o e prote��o de �reas de recarga h�drica, como as veredas – para garantir �gua em quantidade e qualidade para atendimento � popula��o e para a melhoria da qualidade ambiental da regi�o", informou a pasta. Entre as medidas j� adotadas est�o a extens�o para a regi�o das pol�ticas dirigidas ao Norte de Minas, o que se traduz em regras mais r�gidas para concess�o de outorgas e permiss�o de desmatamento, por exemplo.