
Ita�na – Todo m�s, pelo menos 530 toneladas de lixo chegam � Usina de Reciclagem de Ita�na, no Centro-Oeste de Minas. O material, antes jogado em lix�es de forma inadequada, ganhou novo destino e se transforma em fonte de emprego e renda. A mudan�a come�ou em 1999, pelas m�os de Madalena Duarte Rodrigues. Com a ajuda de catadores e sindicalistas, ela fundou a Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicl�veis de Ita�na (Coopert), hoje respons�vel pela coleta seletiva na cidade.
Filha de dona de casa e de trabalhador rural, Madalena, hoje com 52 anos, come�ou a trabalhar em meio aos res�duos ainda crian�a. Aos 7 anos, decidiu, com as duas irm�s, de 8 e 10, que era hora de ajudar em casa. O pai tinha que sustentar 15 filhos. Para ter mais conforto, Madalena passou a distribuir o tempo entre a escola e o lix�o. “Ficava estudando at� as 11h. Das 12h as 19h, ficava no lix�o. Quando recebia o dinheiro, compr�vamos g�s de cozinha, leite, p�o e outras coisas de comer para a fam�lia.”
Conta que a m�e n�o gostava de ver as filhas pequenas no lix�o e constantemente pedia que elas parassem de ir. “Mas a vida era muito apertada e precis�vamos de dinheiro”. A ideia de trabalhar em meio aos detritos surgiu quando ela e as irm�s passaram a observar duas catadoras e pensaram: por que n�o fazer o mesmo para ajudar nas despesas? “V�amos a dona Mariinha e dona B�rbara sair de manh� e voltar � tarde. Carregavam material recicl�vel at� na cabe�a e vendiam para um atravessador. Um dia, decidimos fazer a mesma coisa.”
USINA Em meados da d�cada de 1990, Madalena assistiu na TV a uma mat�ria sobre a Associa��o dos Catadores de Papel, Papel�o e Material Reaproveit�vel de Belo Horizonte (Asmare). Ela, que sonhava “humanizar” o trabalho no lix�o, percebeu que era preciso criar uma cooperativa para organizar o servi�o e garantir os direitos dos catadores. Em 1999, quando Ita�na passou por uma crise financeira, que o projeto deslanchou. “Houve desemprego na �poca e o Sindicato dos Metal�rgicos nos procurou para ajudar no projeto da cooperativa, que havia sa�do do papel mas ainda n�o estava estruturado. Montamos a usina de reciclagem e muita gente que estava sem emprego conseguiu se restabelecer trabalhando conosco. Quando a crise passou, alguns voltaram para a ind�stria. Outros continuaram.”
Hoje, 86 pessoas trabalham na Coopert e o sal�rio m�dio � de cerca de R$ 2,5 mil. Madalena conta que das quase 530 toneladas recolhidas ao m�s, 121 v�o para o aterro. O restante � comercializado e o lucro dividido entre os cooperados. “Depois de pagarmos as contas, rateamos o restante entre os cooperados, levando em conta as horas trabalhadas. Antes da cooperativa, trabalh�vamos sem perspectiva. Hoje, todos t�m condi��o de ter casa e garantir um bom estudo aos filhos.”
Madalena sente orgulho em contar que as duas filhas estudam e uma delas cursa pedagogia. Nenhuma frequentou o lix�o ou trabalhou com reciclagem. “Consegui dar �s minhas filhas um futuro melhor, gra�as ao lixo. Nunca precisaram trabalhar como eu. Puderam estudar e est�o encaminhadas na vida. De todas as minhas vit�rias, essa � a mais importante.”
Al�m de fundadora da Coopert, ela � coordenadora do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicl�veis (MNCR), cofundadora e membro da Rede Cataunidos e representante do Brasil na Rede Latino-Americana. J� foi premiada e homenageada em v�rias oportunidades, inclusive no Chile e na Col�mbia. Recentemente, foi indicada ao Pr�mio Betinho – Atitude Cidad� 2013.
Emocionada, se diz realizada ao fazer a diferen�a na vida de pessoas que n�o tinham expectativa e que hoje est�o empregadas. “Nunca imaginei fazer tudo isso. Queria melhorar a minha vida e a de todos que trabalhavam comigo. Lembro que em 1999 quando, gra�as ao apoio da Asmare, conseguimos fazer um curso de capacita��o na Faculdade Milton Campos, teve catador que chorou porque pela primeira vez entrava em uma universidade. Hoje, geramos emprego, renda e ajudamos a preservar o meio ambiente.”