
Depois de fazer mais de 15 pris�es em ocorr�ncias variadas, um guarda municipal que ser� identificado como J. foi amea�ado por um dos criminosos que deteve, dentro de uma delegacia. O epis�dio serviu como motiva��o para que comprasse uma pistola, hoje levada em um compartimento que mandou fechar com z�per no colete. “O bandido falou at� o nome da rua onde eu moro com minha fam�lia. Foi para intimidar, e isso acontece sempre. Uma vez, a nossa viatura foi fechada por traficantes armados em uma favela. Mandaram a gente ir embora e n�o voltar nunca mais”, conta. “A arma � para nossa seguran�a, j� que a corpora��o n�o nos fornece. Imagine ficar em uma escola lidando com irm�o de traficante, ou estar em um parque e desconfiar de uma pessoa. O suspeito pode estar com um rev�lver e atirar em voc�”, argumentou. Apesar da amea�a da Pol�cia Militar de prender guardas que estiverem armados, a situa��o � de conhecimento dos militares, segundo agentes. “Na greve que fizemos em abril, nos recusamos a sair da base. A PM amea�ou invadir e avisamos que havia 250 guardas municipais com armas l� dentro”, disse outro servidor, que ser� identificado como C.
Somando todos os registros de a��es da Guarda, foram 35.279 interven��es desde 2010, totalizando 25 por dia, at� hoje. Especialistas e sindicato da categoria creditam a participa��o mais ativa no controle da criminalidade a um aumento das ocorr�ncias em BH. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), de janeiro a novembro BH teve 20,3% mais registros de crimes violentos – como homic�dios, roubos e estupros – do que no mesmo per�odo do ano passado. Foram 27.775 ocorr�ncias este ano, contra 23.088 em 2013.
Para o presidente do Sindguardas-MG, Pedro Ivo Bueno, a Guarda Municipal de BH � a mais atrasada em termos de equipamentos entre todas as capitais brasileiras. “Somos a �nica capital em que os guardas andam desarmados, mas enfrentam os mesmos crimes que policiais. Por isso, muitos agentes est�o garantindo a pr�pria seguran�a comprando armas de fogo”, admitiu. De acordo com a Ouvidoria Geral do Munic�pio, os casos de pris�es ocorrem por “leg�tima defesa pessoal ou de terceiros”. Bueno diz que os guardas agem para n�o se tornar alvos. “Quando detectamos um crime, sabemos que os bandidos podem nos ver como policiais e atirar. Por isso, � prefer�vel arriscar e prend�-los. Em 2008 isso aconteceu comigo. Dois ladr�es roubaram uma joalheria, nos viram e atiraram, atingindo um colega na tarjeta que tinha no peito. Conseguimos dar cobertura a um policial civil que os prendeu depois”, conta Bueno.
Afronta

A GMBH informou que os funcion�rios que forem pegos com armas de fogo sofrer�o penalidades administrativas e est�o sujeitos �s san��es do Estatuto do Desarmamento, que prev� deten��o de 1 a 3 anos por posse de arma n�o registrada e de 2 a 4 anos por porte ilegal, sendo o crime inafian��vel se o armamento n�o for registrado.
O que diz a lei
Guardas municipais em cidades com mais de 500 mil habitantes podem usar pistolas e rev�lveres no desempenho da fun��o, segundo a Lei 10.826/2003, o Estatuto do Desarmamento, desde que o estado ou o munic�pio regulamente esse uso, permitindo a retirada do porte com a Pol�cia Federal. Mas a regulamenta��o ainda n�o ocorreu em Belo Horizonte. A autoriza��o para porte de arma de fogo pelas guardas municipais “est� condicionada � forma��o funcional de seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade policial, � exist�ncia de mecanismos de fiscaliza��o e de controle interno e observada a supervis�o do Minist�rio da Justi�a”, de acordo com a legisla��o.