As controv�rsias e problemas no Ci�ncia sem Fronteiras est�o na boca dos estudantes, estejam eles no exterior ou no Brasil. V�rios desses relatos est�o em uma p�gina no Facebook, chamada Ci�ncia com Fronteiras. Dificuldades financeiras enfrentadas pelos alunos do programa, atraso no pagamento de bolsas e at� hist�rias de quem foi orientado a racionar comida s�o acompanhados diariamente por quase 10 mil seguidores.
Igor conta que confus�es por causa da profici�ncia na l�ngua estrangeira t�m sido recorrentes. “O programa exige nota 5,5, mas n�o h� universidade no exterior que aceite menos de 6 no Ielts (o teste de l�ngua inglesa). Por isso, muitos ficaram no limbo, esperando alguma institui��o aceit�-los”, afirma.
Na Inglaterra, uma aluna que informa ter ficado tr�s meses sem receber a bolsa diz que dependia da ajuda do namorado. Em Portugal, um relato diz que a falta de pagamento da mensalidade por parte do governo brasileiro levou a universidade a cancelar a matr�cula. No Canad�, h� informa��es de que o atraso da bolsa durante um m�s motivou a entidade parceira a orientar os alunos a racionar a comida. “� um programa muito bom, mas foi feito �s pressas, para mostrar servi�o. O fato de estudantes sa�rem do Brasil sem uma grade de estudos � prova disso”, diz Igor Patrick Silva.
Receber a bolsa-alimenta��o com atraso foi rotina com a qual a estudante Let�cia Braga, de 22 anos, aluna do 6º per�odo de design gr�fico da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg) teve de se acostumar durante os nove meses em que esteve na Irlanda. O valor de 300 euros cumpria uma verdadeira via-sacra antes de chegar aos estudantes. O dinheiro � repassado ao governo do pa�s, que manda para a universidade, que, por sua vez, entrega aos estudantes.
Com tantas etapas burocr�ticas, o valor sempre chegava no m�s seguinte. Por isso, a jovem precisou v�rias vezes pedir socorro aos pais. “Quem n�o podia contar com a ajuda de casa economizava ao m�ximo para garantir a alimenta��o. N�o d� para saber de quem � a culpa, mas � uma burocracia que podia ser evitada.” Estudante do Instituto de Tecnologia de Isligo, ela relata que usou a estrat�gia de tentar entender os problemas e ter paci�ncia. Mesmo assim, Let�cia, que chega hoje ao Brasil, afirma que valeu a pena a experi�ncia.
A estudante, no entanto, aponta falhas no Ci�ncia sem Fronteiras e conta que s�o muitas as not�cias de problemas com bolsistas. “As dificuldades v�o desde os problemas com testes de profici�ncia em idiomas at� o comportamento dos alunos mesmo. Tem ocorrido relatos de muitos estudantes n�o se matricularem em todas as mat�rias que deveriam, porque n�o h� fiscaliza��o da Capes. Tem pouco t�cnico para acompanhar isso, ent�o, o processo n�o � rigoroso”, diz.
No in�cio do programa, os alunos fazem um plano de estudos, que deve ser apresentado � Capes e cumprido. “Isso deveria ser acompanhado e orientado, mas n�o �. �s vezes n�o tem mat�ria suficiente para estudar ou o aluno j� a cursou no Brasil, e tem ainda quem simplesmente n�o cumpre o curso”, relata.
JUSTI�A Os criadores da p�gina Ci�ncias com Fronteiras fazem parte de um grupo de estudantes que entrou na Justi�a para ter direito a uma vaga no programa, depois que o Minist�rio da Educa��o cortou cursos na �rea de ci�ncias humanas, fisioterapia e psicologia, em novembro de 2012. Foram 80 a��es individuais. Cinco estudantes j� conseguiram o direito de embarcar para a Inglaterra. Outros conseguiram liminar em primeira inst�ncia, mas a medida foi derrubada na segunda. No caso de Igor, a decis�o definitiva vir� tarde demais, j� que no �ltimo per�odo ele perde o direito ao programa, por ter cumprido mais de 90% da carga hor�ria do curso.
As mudan�as de regras motivaram tamb�m a��es de 300 bolsistas no ano passado, quando o MEC incorporou a nota m�nima de 600 pontos no Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) como pr�-requisito para participar do interc�mbio. Em Minas, pelo menos 30 universit�rios conseguiram liminar.