
A onda verde e amarela que tomou conta da Savassi escancarou, logo pela manh�, o otimismo dos brasileiros, que nem imaginavam o drama que se aproximava com a dif�cil classifica��o. “Meu palpite? 3 a 1 para o Brasil”, afirmou Rafael Nunes, de 32 anos. Esse placar era repetido por muitos. Mas, aos poucos, com o empate arrastado em campo, ningu�m mais arriscava palpites. A manh� de confian�a foi cedendo espa�o para uma tarde dram�tica, de choro, gritos e tens�o, at� a explos�o de al�vio depois do �ltimo p�nalti. Foi quando os torcedores chilenos foram embora e a Savassi definitivamente se tornou da torcida brasileira. Mais uma vez, o principal ponto de concentra��o de torcedores na Copa em BH ficou superlotado, com cerca de 20 mil pessoas esbanjando alegria.
No in�cio, rodas de amigos cantavam m�sicas sem parar. A torcida, que chegava aos montes � Savassi, carregava faixas, bandeiras e tinha rostos pintados de verde e amarelo. Logo no primeiro gol do Brasil, a maioria acreditava que seria uma vit�ria f�cil. Mas o 1 a 1 foi uma surpresa amarga. A Savassi estremeceu e se calou. Tudo havia ficado para os p�naltis. N�o havia, ali, na Pra�a Diogo de Vasconcelos, a euforia de antes.
O nervosismo tomou conta da torcida. Cada um dos brasileiros que acompanhava a partida nos bares teve que encontrar uma forma de extravasar a tens�o. A empres�ria Magda Cardoso, de 40 anos, n�o � cruzeirense nem atleticana. Torce pelo Brasil, por isso, estava indignada com o desempenho da sele��o. “O time est� parado, deixando o Chile dominar. Faltam garra e for�a”, reclamou, logo no in�cio da prorroga��o. Magda saiu de Contagem para assistir ao jogo na Savassi, imaginando que a vit�ria estaria garantida no primeiro tempo. Na esperan�a de motivar os jogadores, a empres�ria gritava “pra frente, Brasil!” e aplaudia cada vez que uma jogada dos chilenos dava errada.
N�o se ouvia a voz do t�cnico mec�nico Mauro S�rgio Lopes, de 29. Em vez de gritar e xingar os jogadores, ele acabou descontando o nervosismo nas unhas e roeu todas de uma s� vez. “O Felip�o j� vem errando desde o in�cio. O F�bio, do Cruzeiro, � o melhor do Brasil”, disse, antes que J�lio C�sar defendesse dois p�naltis e salvasse a sele��o. Mesmo discordando da escala��o, o torcedor n�o deixou de apoiar o time e seguiu a tradi��o de usar um chap�u diferente a cada jogo. Para as oitavas de final, escolheu um com as cores da bandeira brasileira e uma bola em destaque. At� durante os p�naltis, Mauro ficou em sil�ncio, mas com os olhos grudados na tela. Ele preferiu n�o vibrar em nenhum dos gols brasileiros. Deixou a comemora��o para o fim da dram�tica partida.
Aliviado, o engenheiro mec�nico Hevaldo Duarte, de 39, disse que o Brasil merecia a vit�ria. Depois do jogo, ele queria apenas comemorar e abra�ou at� quem n�o conhecia. “O nosso goleiro pegou os p�naltis na hora que precisava. Ningu�m acreditava nele”, comentou. Felip�o acreditou, por sorte. J�lio C�sar conseguiu defender dois chutes dos chilenos e definiu o resultado no Mineir�o.
O grito da classifica��o estava engasgado na garganta da fam�lia de Gisele Rodrigues, Tamires e Thais, que juntas assistiam ao jogo na Savassi. A agonia era tanta, que as m�os se apertavam cada vez mais. “Haja cora��o. Sinto que vou passar mal a qualquer hora. J� vi o Brasil ganhar v�rias Copas e agora � a vez de minha filhas terem essa alegria. Vai Brasil”, gritava Gisele.
O cora��o de Ros�ngela Figueiredo, de 60 anos, estava disparado. “Mais 10 minutos nesse sofrimento e eu n�o aguento”, dizia. Ela disse que rezou muito, pediu uma ajuda divina para que o Brasil passasse de fase. “Nunca mais vou ver uma Copa no Brasil, nunca mais uma festa como essa em BH. O Brasil tem tem que ser campe�o”, afirmou. (Colaborou Isabella Souto)
Loja vira bar

A festa na Savassi teve uma torcida espec�fica: a do lucro. Comerciantes da regi�o fizeram de tudo para atrair a clientela e faturar com a comemora��o. Nas lojas Ust e Choco Shoes, de propriedade da empres�ria Aila Portugal, as araras de roupas deram lugar a pilhas de cerveja, �gua e refrigerante. “N�o estava vendendo roupa e sapato porque a maior parte dos torcedores na Savassi s�o homens, e eles n�o v�o gastar dinheiro com isso”, conta. No cora��o da festa, Aila decidiu dan�ar conforme a m�sica e mudar temporariamente os neg�cios. “Na sexta, vendi 600 latinhas. Hoje (ontem) pretendo vender pelo menos 1 mil”, calculou, confiante.
Vizinhos das lojas de Aila, os bares Baiana do Acaraj� e Orizontino, no quarteir�o fechado da Rua Ant�nio de Albuquerque, tamb�m mudaram a forma de atua��o durante a transmiss�o dos jogos. Desde o in�cio da semana, passaram a limitar a entrada de clientes e cobrar R$ 20 de cada um, valor que n�o foi convertido em consuma��o. A justificativa dos estabelecimentos foi a mesma: dar conforto aos clientes e ter mais controle sobre a presta��o de servi�o. Log�stica que ambos garantem que v�o adotar a partir de agora em todos os jogos de grande movimenta��o, especialmente da Sele��o Brasileira.
“Investimos quase R$ 12 mil em novas televis�es e um tel�o de 70 polegadas. Al�m dessa estrutura, estamos oferecendo banheiro limpo o tempo todo, al�m do card�pio com os mesmos pre�os praticados antes”, garantiu Odair Melo, propriet�rio das duas unidades da Baiana do Acaraj�. Al�m da entrada, a expectativa do empres�rio era de um t�quete m�dio de R$ 50 a R$ 70 por pessoa. “Quando fechamos o espa�o e cobramos, as pessoas gastam mais”, afirmou.
A expectativa era receber 200 pessoas, tanto na Baiana do Acaraj� e no Orizontino. “Vamos garantir tamb�m mais seguran�a, j� que contratamos servi�o particular para monitorar todo o per�metro do nosso estabelecimento”, conta a propriet�ria Ademilde Fonseca Arreguy Maia. Os amigos Victor Hugo Duarte, Luciana Bahia, Frederico Souza, Patr�cia Guimar�es e Marielen Brand�o vieram de Sete Lagoas e Curvelo, na regi�o Central, para se encontrar na Baiana do Acaraj� e garantem que valeu a pena pagar pelo servi�o. “Quer�amos ter esse conforto de sentar, ser servido por um gar�om, comer um tira-gosto. Achamos o pre�o justo”, afirmou Luciana.

Pedro Ferreira e Isabella Souto
A festa na Savassi terminou mais cedo para muita gente que abusou da bebida alco�lica. No meio da tarde, mulheres apresentavam sintomas de embriaguez. Uma delas foi socorrida pelo Samu e levada de maca para uma ambul�ncia. No quarteir�o fechado da Rua Ant�nio de Albuquerque, uma mulher embriagada lutou com outra que n�o conseguia se manter de p�, de t�o alcoolizada. Um homem tentou dominar a agressora e ela reagiu, atacando-o tamb�m.
Na Avenida Get�lio Vargas, dois rapazes trocaram socos. No meio da multid�o, um tatuador estava b�bado. Depois de encostar um isqueiro acesso nas n�degas de uma mulher, segundo a Pol�cia Militar, ele jogou um copo de bebida em um tenente. Bastante alterado, ele foi dominado por v�rios policiais. Aos gritos, xingou os militares e foi preso por desacato. Algumas jovens, que tamb�m consumiam bebida alco�lica, agarravam rapazes para beij�-los, � for�a.
Outra briga foi causada por um homem que tamb�m assediou uma jovem. Diante da negativa, ele jogou um copo de bebida na mo�a, que foi socorrida por um seguran�a. A PM foi acionada e o rapaz, identificado como Rafael Silva, levado para a delegacia com a v�tima. Em outra briga, um torcedor chegou a jogar uma garrafa de cerveja na dire��o de um grupo, mas ningu�m se feriu.
O n�mero de PMs na Savassi n�o foi divulgado. Uma base m�vel foi montada na esquina da Getulio Vargas e com a Rua Alagoas, onde at� as 18h haviam sido registradas 20 ocorr�ncias, a maioria de furto de celular, carteiras e documentos. Nas Cristov�o Colombo e na Get�lio Vargas, v�rias viaturas formavam uma barreira, contendo o p�blico somente at� onde as ruas estavam fechadas para o fluxo de carros.