Luiz Ribeiro

Com o baixo n�vel do Rio S�o Francisco, os pescadores fisgam mais peixes do que seria normal nesta �poca. E ficam at� satisfeitos. Mas a alegria de hoje pode ser a tristeza de amanh�. A dr�stica redu��o do volume de �gua tamb�m representa s�ria amea�a do fim dos cardumes. A situa��o � agravada pela pesca predat�ria. O pescador Osvaldo Pinto de Souza, o Baiano, presidente da Col�nia dos Pescadores de Pirapora, comemora a “boa fase” da atividade nos �ltimos dias. “Tem sa�do bastante peixe. Todos os dias os pescadores t�m voltado para casa com muito peixe. O meu congelador est� lotado”, diz. Por outro lado, ele lamenta a degrada��o do rio por conta do desmatamento e da retirada de matas ciliares.
O ambientalista Roberto Mac Donald, de Pirapora (Norte de Minas), explica que, como o n�vel do rio baixou muito e os peixes est�o migrando � procura de lugares de maior profundidade, chamados de “bols�es”, ficou mais f�cil localizar os cardumes. “Assim, os peixes do S�o Francisco tornaram-se presas f�ceis. O problema � que apareceram at� pescadores de S�o Paulo, que est�o usando arp�o, praticando a pesca predat�ria”, afirma Mac Donald.
Ele denuncia que, al�m da retirada de um maior volume de peixes, ao se aproveitar da condi��o de o rio estar mais raso, os praticantes da pesca predat�ria est�o fisgando as matrizes, exatamente quando se aproxima a piracema, per�odo de reprodu��o dos peixes, que come�a em novembro e vai at� fevereiro. “� necess�ria uma a��o emergencial dos �rg�os ambientais de refor�ar a fiscaliza��o contra esta atividade para salvar os peixes do S�o Francisco.”
No fim da primeira quinzena de setembro, Roberto Mac Donald fez o percurso entre a barragem de Tr�s Marias e o munic�pio de Pirapora, justamente o trecho do rio em piores condi��es por causa da redu��o da vaz�o da usina hidrel�trica, cujo reservat�rio encontra-se com apenas 6% da capacidade. “H� locais em que o rio tem menos de um metro de profundidade. Os cardumes est�o subindo o rio e, como a �gua � pouca, eles ficam muito vis�veis e se tornam presas f�ceis para os pescadores”, disse o ambientalista, que comandou a expedi��o Caminhos das �guas. Foi a 25ª edi��o da viagem, feita anualmente no mesmo percurso, com o objetivo de avaliar as condi��es ambientais da bacia. “Infelizmente, al�m do n�vel muito baixo, constatamos que o rio est� muito assoreado e as matas ciliares diminu�ram muito”, revela.
O professor e pesquisador Hernando Baggio, que, durante oito anos desenvolveu estudos no Velho Chico em Pirapora, lembra que outra amea�a � vida no S�o Francisco � o secamento das lagoas marginais. “As lagoas servem como ber��rios. Durante as cheias do rio os peixes v�o para a lagoas, onde se reproduzem. Sem as lagoas, a reprodu��o n�o ocorre”, comenta Baggio.
O coordenador do Projeto Manuelz�o, Apolo Heringer Lisboa, tamb�m alerta sobre a amea�a que a dr�stica redu��o do n�vel da �gua do Velho Chico representa para os peixes. “Ao se aproveitar da situra��o para pegar mais peixes, os pescadores pegam tamb�m as matrizes, prejudicando o repovoamento do rio no futuro. Acho at� que a pesca no S�o Francisco deveria ser suspensa nesse per�odo de seca”, sugere o ambientalista.
Heringer Lisboa tamb�m lembra que, com o baixo volume, aumenta concentra��o de esgoto, agrot�xicos e outros poluentes no rio. “Se diminui a vaz�o, a �gua fica mais t�xica. Com a evapora��o, aumenta a quantidade de algas verdes e cianobact�rias, que s�o muito t�xicas. Isso pode provocar uma grande mortandade de peixes’, explica. “O �nico jeito � rezar para chover para evitar esses problemas”, complementa.
Navega��o prejudicada
A redu��o do n�vel do Velho Chico provocou um fen�meno: o aparecimento de corredeiras e pedras em alguns pontos que nunca foram vistas antes. O ambientalista Robert Mac Donald conta que, durante a Expedi��o Caminhos das �guas, verificou essas cenas no trecho entre Tr�s Marias e Pirapora. Perto da Foz do Rio Abaet� (no munic�pio hom�nimo), a profundidade do S�o Francisco, que chegava a at� cinco metros, hoje varia entre 1,5 metro e 2 metros.
Com isso, surgiram corredeiras entre pedras que ficaram expostas no meio do rio, dificultando a navega��o, como no local conhecido como “Escadinha” , 30 quil�metros abaixo de Tr�s Marias. No local, a profundidade, que era superior a dois metros na �poca da seca, agora foi reduzida para 1 metro. Pr�ximo de Pirapora, num ponto chamado “Formoso”, a profundidade � de apenas 90 cent�metros, deixando � mostra uma grande quantidade de pedras no meio do rio.