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Estado de Minas

Estresse e quebra de rotina podem ter causado esquecimento e morte de crian�as

Com caso da crian�a deixada em carro em BH, chega a tr�s o n�mero de mortes semelhantes no pa�s em menos de uma semana. Especialistas atribuem situa��o a quebra de rotina, press�o do cotidiano e estresse. Para fam�lia, trauma � irrepar�vel e exige interven��o profissional


postado em 19/12/2014 06:00 / atualizado em 19/12/2014 07:37

Profissionais do Samu chegaram a tentar socorrer a menina, mas constataram que ela já estava morta (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A PRESS )
Profissionais do Samu chegaram a tentar socorrer a menina, mas constataram que ela j� estava morta (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A PRESS )
Como explicar de que forma tanto amor por um filho pode resultar em esquecimento e se transformar em uma trag�dia com impactos irrepar�veis para toda a fam�lia? Depois de o pa�s assistir a tr�s casos em menos de uma semana nos quais casais enterraram seus filhos mortos por terem sido deixados durante horas em carros fechados, especialistas tentam explicar o que pode levar adultos a “apagar” da mem�ria a presen�a dos pequenos nos ve�culos. Segundo eles, a vida moderna, o corre-corre cotidiano, as cobran�as do trabalho e os diversos recursos tecnol�gicos podem levar pessoas a deixar de registrar algo importante na consci�ncia. Embora chocante, o caso da m�e que deixou uma menina de quase 2 anos trancada enquanto trabalhava no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, na quarta-feira, est� longe de ser isolado. As circunst�ncias da morte da crian�a ser�o investigadas pela Pol�cia Civil, bem como dois epis�dios semelhantes, ocorridos em S�o Bernardo do Campo (SP) e no Rio de Janeiro desde a �ltima sexta-feira.

Em Belo Horizonte, o dia ontem foi de tentar entender a trag�dia para a fam�lia da crian�a, cujo corpo foi velado a partir das 11h no Bairro Barreiro de Baixo, Regi�o do Barreiro, e enterrado no Cemit�rio da Paz, no Bairro Cai�ara, Noroeste da capital. Aos poucos, parentes e amigos foram chegando para prestar a �ltima homenagem � menina, que n�o resistiu depois de passar cerca de cinco horas trancada no carro da m�e. A mulher, de 36 anos, � t�cnica em eletr�nica na Infraero, empresa na qual tamb�m trabalha o marido. Como o pai da crian�a, que normalmente levava a filha para o ber��rio, estava viajando, a m�e deveria deix�-la na escolinha. Por�m, a mulher seguiu diretamente para o aeroporto, como faz diariamente, tendo sa�do apenas na hora em que rotineiramente buscava a menina. S� ao chegar � unidade infantil ela percebeu o que havia ocorrido .

No vel�rio, a m�e da menina precisou ser amparada para conseguir caminhar at� a capela 1, onde o corpo era velado. Muito abalada, ela chegou com o marido, que retornou � capital na manh� de ontem. Assim como a mulher, ele n�o tinha condi��es de falar sobre o epis�dio. Os outros dois filhos do casal tamb�m estiveram no vel�rio. Um tio paterno da menina, que preferiu n�o ser identificado, disse que a cunhada � m�e cuidadosa, preocupada com os filhos e que o caso foi uma trag�dia.

PRESS�O DI�RIA

Para o psiquiatra e psicanalista M�rio Renato Villefort, o esquecimento da crian�a pode ter rela��o direta com o excesso de cobran�as do dia a dia. “As pessoas est�o sendo cada vez mais cobradas por metas, produtividade. Ao mesmo tempo, t�m uma conviv�ncia intensa com recursos tecnol�gicos, que est�o sempre � m�o. Ainda se sentem abandonadas pelo sistema e sofrem com a perda das rela��es interpessoais e dos la�os de fam�lia. Isso tudo somado pode resultar em esquecimentos como esses”, avalia M�rio. Ele lembra ainda que o m�s de dezembro, �poca de programa��o intensa, pode deixar as pessoas ainda mais estressadas e cansadas, o que pode resultar em alguma forma de neglig�ncia.

A quebra da rotina da m�e que esqueceu a crian�a no carro tamb�m foi destacada pelo m�dico psiquiatra Maur�cio Viotti Daker. Segundo ele, as pessoas, especialmente nos grandes centros, est�o vivendo de forma autom�tica e algo que mude esse cotidiano pode acabar sendo involuntariamente deixado de lado. O m�dico ressalta ainda os efeitos irrepar�veis do trauma: “Em casos como esse, o estresse p�s-traum�tico � enorme. Com certeza, essa fam�lia vai precisar de ajuda profissional para conviver com a perda da crian�a”.

No aeroporto da Pampulha, onde a maioria dos funcion�rios conhecia o casal, o clima ontem foi de consterna��o. “Estamos todos tristes e com muito pesar. Eles s�o muito queridos e muito conhecidos na empresa”, disse um colega de trabalho. Ainda segundo ele, a t�cnica atua na �rea de manuten��o eletr�nica, enquanto o marido trabalha no setor administrativo da regional da Infraero. “Ficamos todos chocados com a not�cia. Ela � uma pessoa muito respons�vel e uma m�e carinhosa e dedicada.”



A trag�dia hora a hora

Quarta-feira


12:30 A t�cnica em eletr�nica de 36 anos, m�e da menina de 1 ano e 11 meses, sai de casa para ir ao  aeroporto da Pampulha, onde trabalha. Presa a uma cadeirinha no banco traseiro do carro, um Fiat Uno, levava a filha, que deveria ser deixada no ber��rio onde passava o dia. Desacostumada da tarefa, normalmente desempenhada pelo pai, a mulher n�o foi � escolinha. Seguiu direto para o trabalho. A crian�a permaneceu esquecida dentro do ve�culo, no estacionamento do aeroporto.

17:30 A m�e sai do trabalho  na inten��o de buscar a filha. No caminho, n�o percebe a crian�a no banco traseiro. Ao chegar, � informada pelos funcion�rios da escola que a pequena n�o havia sido deixada na unidade naquele dia. A mulher corre at� o carro, abre a porta e se depara com a menina desfalecida, entrando em desespero: “Matei minha filha!”.

18:00 O Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia � acionado. Uma equipe do Samu comparece ao local e constata o �bito. O corpo da crian�a �  levado para o Instituto M�dico Legal (IML). Muito nervosa e traumatizada, a mulher � encaminhada a um hospital. Mesmo ap�s o atendimento, ela n�o reunia condi��es cl�nicas e psicol�gicas para prestar depoimento.

Quinta-feira

16:30 O  corpo da crian�a � enterrado no Cemit�rio da Paz, depois de ter sido velado durante toda a manh� na Regi�o do Barreiro.


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