Ouro Preto e Congonhas – O novo ano ser� um marco na hist�ria das cidades mineiras reconhecidas como patrim�nio da humanidade pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco). Em Congonhas, ser�o comemoradas de janeiro a dezembro, inclusive como tema do carnaval, tr�s d�cadas do t�tulo concedido ao Santu�rio do Bom Jesus de Matosinhos, enquanto Ouro Preto chega aos 35 e Diamantina, ca�ula do grupo, acaba de completar 15 anos e vai comandar, no per�odo letivo, programa de educa��o patrimonial nas escolas. Belo Horizonte tamb�m quer ser “do mundo”, ter� o dossi� sobre a Pampulha entregue � Unesco, em Paris (Fran�a), em fevereiro, e aguarda a visita de t�cnicos internacionais. Resposta s� em 2016. Moradores se orgulham de viver em munic�pios t�o especiais, pois a honraria abre portas, garante visibilidade e chama turismo, mas especialistas alertam ser preciso manter a preserva��o e zelar pelos monumentos, para que o nome na lista n�o se torne simples recorda��o.
“Ouro Preto � cosmopolita, tem um passado forte. A cidade est� viva, n�o � um museu, embora haja problemas do s�culo 21 numa estrutura arquitet�nica do s�culo 18”, diz o maestro Rodrigo Toffolo, de 37 anos, regente da Orquestra Ouro Preto.
“Ser patrim�nio da humanidade representa algo muito importante e fico pensando no futuro. Devemos ter mais investimentos na cultura para n�o depender da extra��o mineral, como ocorreu antes com o ouro e agora com o min�rio de ferro”, diz Toffolo. Na avalia��o do maestro, os ouro-pretanos e universit�rios devem se orgulhar de viver numa cidade muito especial e fazer tudo para preserv�-la.
Caminhar pelo munic�pio distante 95 quil�metros de BH significa mergulhar na hist�ria de mais de 300 anos. O grande entrave ao prazer do passeio, no entanto, � o tr�nsito, que entope as ruas e ladeiras de pedras e causa desconforto nos visitantes. O secret�rio municipal de Cultura e Patrim�nio, Jos� Alberto Pinheiro, considera a mobilidade o maior desafio a ser encarado nos pr�ximos dois anos.
Pinheiro anuncia a constru��o de um grande receptivo tur�stico na entrada de Ouro Preto, na regi�o denominada Jacuba, que permitar� aos visitantes deixar o carro ali e seguir rumo ao Centro Hist�rico em vans ou micro�nibus. Outra iniciativa est� na implanta��o de estacionamento com 600 vagas, na �rea central. Sobre o estacionamento, o secret�rio prefere n�o apontar o local, mas explica dever� ser no sistema de parceria p�blico-privada (PPP). Ainda no Centro Hist�rico, basta olhar para o alto e ver outro desafio gigantesco, que � a ocupa��o dos morros, numa amea�a constante � seguran�a das fam�lias e polui��o visual do cen�rio barroco.
Novo secret�rio de Estado da Cultura de Minas, �ngelo Oswaldo, resume bem o significado do t�tulo da Unesco: “Trata-se de uma chave que abre portas, mas deve ser usada e jamais deixada na gaveta”. Para ilustrar, ele cita frase de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), escrita com fina ironia. “Qualquer hora, Ouro Preto, se torna patrim�nio interplanet�rio e seus problemas continuam os mesmos”.
CENTRO DE CULTURA Congonhas, a 89 quil�metros de BH, entra firme nas comemora��es dos 30 anos de conquista do t�tulo da Unesco, diz o presidente da Funda��o Municipal de Cultura, Lazer e Turismo (Fumcult), S�rgio Rodrigo Reis, ressaltando que, em 2014, foi lembrado o bicenten�rio de morte de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814), que tem obras-primas no Santu�rio do Bom Jesus de Matosinhos, como os 12 profetas e as 64 esculturas nas cinco capelas dos Passos da Paix�o de Cristo. Em 2015, haver� a��es de educa��o patrimonial (exposi��es, oficinas, palestras etc.), carnaval com o tema Patrim�nio da Alegria e atividades para mostrar �s pessoas que elas est�o “num lugar especial”.
Um dos momentos mais esperados � a inaugura��o do Museu de Congonhas –Centro de Refer�ncia do Barroco e do Estudo da Pedra, parceria entre Unesco, Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) e prefeitura local. O custo do projeto lan�ado em 2002 � de R$ 20 milh�es. “A cidade sempre foi um lugar de devo��o, peregrina��o, milagres, f� e arte. Al�m de ser um centro irradiador de cultura, o museu ser� importante para mostrar �s pessoas o s�tio hist�rico no qual Congonhas se situa”, diz Reis. Ele diz que o t�tulo de patrim�nio da humanidade foi fundamental para o Centro de Refer�ncia do Barroco e do Estudo da Pedra se tornar realidade e anuncia novidades, como implanta��o pioneira, entre os s�tios brasileiros, da sinaliza��o interpretativa da Unesco (cores, s�mbolos e iconografia) para facilitar a vida dos visitantes.
“O maior desafio � conservar o patrim�nio e valoriz�-lo cada vez mais”, afirma o guia de turismo e dono de pousada Warley Pereira, de 39, “dos quais, 33 anos aqui”, diz enquanto abre os bra�os diante da pra�a da bas�lica e seus profetas de pedra-sab�o.

Visibilidade � terra de Chica da Silva
O t�tulo de patrim�nio da humanidade, conquistado h� 15 anos, deu mais visibilidade a Diamantina, terra de Chica da Silva e do ex-prefeito de BH, governador de Minas e presidente da Rep�blica Juscelino Kubitschek (1902-1976). Poucos meses antes da defini��o da Unesco, conforme mostrou o Estado de Minas, a cidade, chamada nos tempos coloniais de Arraial do Tijuco, era tomada por placas comerciais de todos os tipos, o que encobria a beleza dos pr�dios e monumentos. O historiador Erivaldo Mauro Nascimento de Jesus tamb�m se orgulha do t�tulo que a cidade ostenta, e proclama: “Diamantina � de todo o mundo”.
Entre os ganhos, Erivaldo diz que o destaque serviu para atrair mais estrangeiros, pois a cidade se tornou conhecida internacionalmente; criou oportunidade, no setor da gastronomia, para fam�lias de baixa renda; abriu portas para a chegada de verbas; e fortaleceu o patrim�nio vivo, principalmente a m�sica. Nesse aspecto, ele d� o exemplo da Vesperata, que surgiu com no calor da campanha para tornar Diamantina patrim�nio da humanidade. Mesmo com os avan�os, o historiador diz que o patrim�nio edificado sofre com a falta de conserva��o, e cita os pr�dios da prefeitura e da c�mara. Outras falhas, acrescenta o historiador, pode ser vistas pelos turistas. Um delas � a quantidade de buracos nas tradicionais pedras capistranas do Centro e placas de sinaliza��o de tr�nsito, que poluem o Centro Hist�rico.
O secret�rio municipal de Cultura, Turismo e Patrim�nio, Walter Cardoso Fran�a J�nior, anuncia um programa de educa��o patrimonial nas escolas t�o logo comece o ano letivo. “Muitas vezes, o tombamento pelo Iphan ou reconhecimento pela Unesco n�o � bem compreendido pelas pessoas, por isso � fundamental trabalhar o tema. Todos devem se apropriar da cidade e senti-la como um bem deles”, afirma J�nior, lembrando que o crescimento do turismo foi not�rio nos �ltimos 15 anos, com maior oferta de leitos e servi�os.
Em 2015, entram em cena a despolui��o visual do Centro Hist�rico e mudan�as na ocupa��o do espa�o urbano e recupera��o de 13 pr�dios com recursos federais do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC das Cidades Hist�ricas), incluindo o da prefeitura, Secretaria de Cultura, Clube Social da Pra�a de Esportes, projeto de Oscar Niemeyer (1907- 2012). Sobre as ruas, ser� feita uma oficina aberta de calceteiros, para formar m�o de obra e trabalhar no restauro das vias p�blicas hist�ricas. (GW)