
A ilus�o de dinheiro f�cil do tr�fico, dos roubos e dos furtos cobra seu pre�o de um contingente cada vez maior de jovens em Minas. Rendidos aos apelos do universo da criminalidade, pelo menos 248 adolescentes s�o levados � frente das autoridades policiais e da Justi�a, a cada dia, no estado. A capital, que tem hoje a maior estrutura para receber esses infratores e para cumprimento de medidas socioeducativas, concentra 11,4% das apreens�es, com m�dia di�ria de 28 meninos e meninas detidos, considerando dados de janeiro a novembro de 2014. Historicamente, s�o menores envolvidos principalmente com o com�rcio de drogas, delito que, em 2013, somou 21,2% dos atos infracionais cometidos por essa parcela da popula��o. Mas o envolvimento com entorpecentes vem perdendo for�a para ocorr�ncias contra o patrim�nio, que crescem ano a ano nessa faixa et�ria. Uma situa��o que ajuda a tornar ainda mais acalorado o debate acerca dos projetos de redu��o da maioridade penal, discutida pela C�mara dos Deputados, em Bras�lia, na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 171/93.
Em meio a um debate que parece cada vez mais distante do consenso, dados da Secretaria de Estado de Defesa Social mostram que em Minas menores de idade v�m sendo cada vez mais aliciados para o roubo, delito cujo envolvimento dessa faixa et�ria cresceu 167% entre 2011 e 2014. Nesse intervalo de tempo, o n�mero de jovens com menos de 18 anos detidos por roubar saltou de 1.063 para 2.838. A participa��o percentual de adolescentes em crimes do tipo tamb�m vem crescendo. Enquanto de janeiro a novembro de 2011 eles representavam 19,6% dos flagrados por roubo, nos 11 primeiros meses de 2014 j� eram 33,1% dos detidos. Nas tentativas de roubo, a presen�a de menores tem sido ainda maior e saltou de 26%, em 2011, para 35,1% no ano passado.
Um dos aliciados pelo crime na capital, o menor M., de 17 anos, morador da Regi�o Leste de BH, teve sua primeira experi�ncia com o roubo de uma mochila e de um celular em um ponto de �nibus no Bairro Floresta. Foi h� dois anos, dias depois que M. viu a m�e morrer – assassinada na sua frente, por traficantes –, e o irm�o ser preso, tamb�m por venda de drogas. Na �poca, o menino arrancou a bolsa de um estudante e fugiu levando dinheiro e celular da v�tima. Atualmente, o adolescente, que nunca teve contato com o pai, est� no comando de uma boca de fumo, usando um rev�lver calibre 38 para garantir a hegemonia do ponto. “Roubei, porque queria ter uma boa condi��o. Ter vida boa, ter as coisas que todo mundo tem. Um bom t�nis, celular, moto. O crime faz voc� conseguir isso r�pido. Hoje, vendo drogas para me sustentar”, diz o rapaz, que estudou at� o 8º ano, j� n�o frequenta a escola e passa o dia � espera de “clientes”.
Mesmo com a rotina criminosa, o adolescente nunca foi detido. Daqui a 16 dias, a maioridade vai bater � porta, e M. j� teme pelas consequ�ncias de seu atual comportamento. “Tenho vontade de sair do tr�fico, mas j� tentei arrumar emprego e n�o consegui. Quando estiver com 18 anos, n�o vou ‘dar mole’ como dou hoje”, disse ele, referindo-se ao modo como se exp�e na venda de maconha e crack, na vila onde mora.