
Pernambuco e Bahia – Ap�s quatro dias sem comida, a taxa de glicose no corpo humano despenca. O organismo � obrigado a consumir as pr�prias reservas. A press�o arterial se altera e os �rg�os encolhem, at� entrar em colapso, levando � morte. Processo semelhante ocorre em um rio contaminado: se n�o � alimentado por �gua de qualidade nas cabeceiras, a polui��o e o assoreamento se concentram, bact�rias proliferam e consomem o oxig�nio dos outros seres vivos, at� que o corpo d’�gua morra. Em 2005, para defender o Rio S�o Francisco de um projeto de transposi��o que n�o previa a recupera��o da bacia, o bispo de Barra (BA), frei dom Luiz Cappio, arriscou a pr�pria sa�de e fez de seu corpo o drama do Velho Chico, ao encarar 11 dias de greve de fome. A m� propaganda, que chamou a aten��o at� do papa Bento XVI, fez com que o ent�o presidente da Rep�blica, Luiz In�cio Lula da Silva (PT), entrasse em negocia��es pela revitaliza��o. Passados 10 anos, mais uma vez, a hist�ria de frei Luiz se confunde com a do rio: as promessas feitas a ambos n�o foram cumpridas, o S�o Francisco definha a uma velocidade que surpreende os mais pessimistas e a transposi��o, apresentada como panaceia para matar a sede no Nordeste, n�o apenas avan�a a passos tr�pegos, como zomba de sertanejos, ao lhes negar acesso at� � pouca �gua que tinham antes do in�cio da obra. Foi o que descobriu o Estado de Minas, ao percorrer 3.500 quil�metros de seca, assoreamento, polui��o e descaso, entre Minas, Bahia e Pernambuco, para a s�rie de reportagens apresentada a partir de hoje.
Diante dessas caracter�sticas, a transposi��o � considerada pelo franciscano dom Luiz Cappio o maior s�mbolo das promessas descumpridas ao rio com nome de santo. “Um projeto falido, que nunca se preocupou em trazer �gua para o povo, apenas para a irriga��o do agroneg�cio e das elites produtoras. Um monumento � corrup��o e ao desperd�cio de dinheiro e �gua”, dispara. “Demos um grito (em 2005) para acordar o Brasil, diante desse absurdo que vinha ocorrendo com o Rio S�o Francisco. Depois de negociar com o presidente (Lula), recebi garantias de que a transposi��o seria paralisada, a revitaliza��o come�aria e outras formas de fornecimento de �gua � popula��o seriam estudadas; mas s� a transposi��o avan�ou e nada mais foi feito. Fui enganado; me senti tra�do”, afirma. O desabafo retrata a realidade de um rio de pouca �gua e muita polui��o, sobretudo por esgoto. Sem a recupera��o ambiental, cada vez mais o que resta para ser dividido com o Nordeste � a sede.