
O cotidiano de Maria Jos� Almeida Santos Ribeiro, de 31 anos, nunca foi como um mar de rosas. Mas essa quitandeira, que vizinhos garantem ser de m�os cheias, jamais se curvou �s dificuldades enfrentadas por uma m�e de dois garotos cadeirantes – Caio, de 8, e V�tor, de 4. Em busca de um futuro melhor para os filhos, se tornou um exemplo de mulher. Talvez n�o seja apenas coincid�ncia o fato de ela carregar na certid�o de nascimento os nomes da m�e e o do pai de Jesus.
De ter�a a sexta-feira, Maria Jos� encara uma longa viagem do Bairro Tancredo Neves, na periferia de Ribeir�o das Neves, na Grande BH, ao Mangabeiras, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, para levar as crian�as � fisioterapia. O trajeto � feito em dois �nibus. Ainda h� uma caminhada de quatro quarteir�es, sendo dois numa subida �ngreme. O desafio fica maior para quem empurra um filho numa cadeira de roda e carrega o outro no “canguru”. “V�tor, que vai no meu colo, pesa 13 quilos. As costas doem todos os dias”, revela.
A hist�ria de Maria Jos�, Caio e V�tor foi relatada pelo EM em abril de 2014. Agora, a luta da fam�lia volta a ser not�cia por um motivo que rendeu um largo sorriso na quitandeira: a BHTrans estuda a viabilidade de alterar o itiner�rio da linha 4108 (Pedro II/Mangabeiras). O novo caminho diz respeito a apenas quatro quarteir�es. Pode parecer uma mudan�a irris�ria para muitos usu�rios do transporte coletivo, mas trata-se justamente das quadras que dona Maria Jos� tem que caminhar entre o ponto de �nibus e a Associa��o Mineira de Reabilita��o (AMR).

“Para piorar, h� coletivo que n�o tem elevador para subir e descer a cadeira. H� at� motorista que n�o para no ponto. � humilhante! Cheguei algumas vezes atrasada � fisioterapia e, por causa disso, meus filhos correram o risco de perderem a vaga na AMR. Eles precisam dos servi�os dos profissionais de l�”, justifica Maria Jos�.
Oficialmente, a mudan�a depende de condicionantes, como a aprova��o da comunidade e interven��es nas quatro quadras, sobretudo pinturas de faixas para travessia de pedestres e instala��o de pontos de �nibus. Extraoficialmente, entretanto, tudo indica que o itiner�rio ser� alterado. Tanto que a autarquia informou ontem que, se n�o houver contratempo, o novo trajeto ser� implantado na segunda quinzena de outubro.
Na pr�tica, trata-se de uma vit�ria de Maria Jos�. Ali�s, dela e de dezenas de fam�lias que dependem da AMR e, por algum tipo de dificuldade de locomo��o, enfrentam uma lenta caminhada entre o ponto do 4108 – na Avenida Agulhas Negras – e a AMR – na Rua Ot�vio Coelho de Magalh�es. Mas a prov�vel mudan�a � consequ�ncia de uma situa��o que a m�e de Caio e V�tor n�o gosta de recordar.
H� alguns anos, o coletivo em Ribeir�o das Neves que ela usa para chegar ao Centro de Belo Horizonte arrancou do ponto com um dos filhos a bordo. “O outro ficou para tr�s”, conta Maria Jos�. A quitandeira procurou a Defensoria P�blica de Minas Gerais. Resultado: uma a��o por dano moral foi ajuizada contra a empresa do coletivo e a BHTrans.

Representantes da firma e da autarquia da prefeitura foram convocados pelo juiz. O defensor p�blico Estev�o Carvalho, coordenador da �rea especializada em assuntos envolvendo idosos e deficientes f�sicos, explica que o magistrado aproveitou a audi�ncia para uma sugest�o aos r�us: “Orientou que o advogado da BHTrans solicitasse aos t�cnicos da autarquia a viabilidade de mudan�a no itiner�rio (de forma a beneficiar dona Maria Jos� e os filhos)”.
A audi�ncia, em princ�pio para discutir apenas o dano moral, j� teve resultado pr�tico. A BHTrans convidou a quitandeira para duas viagens em �nibus que transitam pelo Mangabeiras. Durante os trajetos, ela exp�s observa��es sobre a linha. As sugest�es foram anotadas pelos especialistas. At� o fim de outubro, acredita a quitandeira, pelo menos parte do seu drama – e de outras tantas fam�lias – ser� amenizada.

DIFICULDADE A a��o por dano moral ainda n�o foi julgada pelo juiz. Enquanto aguarda a senten�a, Maria Jos� luta contra outros problemas. As duas �ltimas contas da energia el�trica de sua casa, nos valores de R$ 112,82 e R$ 127,49, ainda n�o foram pagas.
“Corro o risco de a Cemig cortar a luz. Estou sem dinheiro, porque o forno que uso para fazer as roscas e os biscoitos que vendo queimou. N�o d� para consert�-lo mais, pois � bem antigo. Um novo custa em torno de R$ 500. N�o tenho esse dinheiro no momento”, lamentou.
O defeito no forno trouxe outro problema � fam�lia: a quitandeira ficou sem dinheiro para comprar a quantidade necess�ria de fraldas para o ca�ula. Trata-se de Paulo, de 1. Diferentemente de Caio e V�tor, o garoto nasceu sem a mobilidade comprometida. Mas ela n�o desanima. A f� de Maria Jos� parece mover montanhas. Um dia, ela acredita, todo o esfor�o ser� compensado.