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Estado de Minas PROVAS DE F�

Gravidez de professora considerada inf�rtil levou � beatifica��o de Padre Victor

Quarta reportagem sobre peregrina��es ajuda a entender por que milhares de pessoas fazem romarias aTr�s Pontas, no Sul de Minas, para celebra��es religiosas em torno de Padre Victor, como no 23 de setembro, anivers�rio de sua morte. S�o muitos milagres atribu�dos a ele


postado em 14/10/2015 11:00 / atualizado em 12/11/2015 09:14

Maria Isabel e as duas graças alcançadas: a filha Sofia e a segunda gravidez (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Maria Isabel e as duas gra�as alcan�adas: a filha Sofia e a segunda gravidez (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

A professora Maria Isabel de Figueiredo, de 37 anos, moradora de Tr�s Pontas, no Sul de Minas, sempre quis ser m�e. Sonho que se intensificou depois que ela se casou com o cabeleireiro Jos� Maur�cio Silv�rio, hoje com 39 anos, em 2007. Mas as v�rias tentativas de engravidar culminaram num aborto espont�neo, na descoberta de que uma das trompas era totalmente obstru�da e numa gravidez tub�ria – decorrente de ovula��o induzida –, que a obrigou, dois meses depois (em novembro de 2009), a retirar a trompa boa. Cientificamente,  estava inviabilizada qualquer chance de concep��o natural. Maria Isabel perdeu o ch�o, mas saiu do hospital decidida a ser m�e. Se n�o conseguisse gerar um beb�, tentaria de outro jeito. Sua primeira provid�ncia foi, com o marido, entrar na fila de ado��o. Nove meses depois, em agosto de 2010, o cadastro do casal foi aprovado. Mas, no mesmo dia, para sua surpresa, Maria Isabel descobriu que estava gr�vida.

“Foi um milagre inesperado”, resume a professora, que atribui a gravidez, imposs�vel para a ci�ncia, a um pedido que havia feito durante a novena de Padre Victor, religioso que viveu em Tr�s Pontas entre 1807 e 1905, considerado santo, mesmo antes de morrer, pelos moradores da cidade e de outros munic�pios da regi�o. A concep��o foi a pe�a que faltava para a beatifica��o do p�roco – autorizada pelo papa Francisco em junho deste ano e aprovada por unanimidade por cardeais um m�s depois. O processo ser� coroado com uma celebra��o a c�u aberto, em 14 de novembro, no aeroporto local.



Antes da decis�o do papa, a gravidez inexplicada foi reconhecida na Santa S� por m�dicos e uma comiss�o de te�logos. A tentativa de beatificar Padre Victor remonta a 1993, lembra padre V�nis Vieira da Cunha, de 36 anos, p�roco em Campos Gerais, vizinha de Tr�s Pontas. De acordo com ele, desde ent�o foram enviados pelo menos 15 casos de “milagres” atribu�dos a Padre Victor ao Vaticano, mas at� aparecer Maria Isabel, nenhum havia sido reconhecido como tal.

O fruto dessa gra�a � a menina Sofia de Figueiredo Carvalho, hoje com 4 anos, que acaba de ganhar uma irm�zinha, Alice de Figueiredo Carvalho, nascida h� 13 dias, fato considerado pela professora uma “confirma��o do milagre”, j� que os exames comprovam que sua �nica trompa continua inteiramente obstru�da. A ginecologista da “miraculosa”, como Maria Isabel passou a ser conhecida na cidade, � M�rcia Andr�a Mesquita, de 50 anos. A m�dica explica que a paciente teve uma gravidez ect�pica (fora do �tero) na tuba uterina esquerda e que, antes disso, um exame por imagem de seu aparelho reprodutor mostrara a obstru��o da tuba direita, o que ocasionava infertilidade. “Ela poderia tentar a fertiliza��o in vitro, mas engravidar naturalmente seria imposs�vel”, atesta a especialista. Quando soube da gravidez de Maria Isabel, a ginecologista levou um susto. “Ela chegou com atraso menstrual e um teste positivo. N�o havia nenhuma explica��o plaus�vel”, disse. A segunda gravidez de Maria Isabel foi outra surpresa. A professora repetiu o exame, e a obstru��o tub�ria continua l�.

“Hoje, se a gente pensar em resultados falsos-positivos e negativos de exames como esses, pode, pelo menos teoricamente, tentar encontrar uma explica��o para o fato de Maria Isabel ter engravidado duas vezes, mas, na pr�tica, � muito do dif�cil que isso ocorra. � medida em que a medicina vai avan�ando, podemos encontrar alguma raz�o cient�fica, mas, por enquanto, n�o h� nenhuma”, diz a ginecologista.

M�rcia Mesquita e outros m�dicos foram entrevistados pelos representantes da Santa S�, que estiveram em Tr�s Pontas para investigar o caso. O parecer de todos foi o mesmo. “A entrevista foi bastante t�cnica, eles perguntam tudo sobre o caso”, revela a ginecologista. Para reconhecer um “milagre”, o Vaticano faz um profundo estudo sobre a hist�ria e as virtudes do candidato. O primeiro passo antes da beatifica��o � constatar a vida virtuosa do religioso, que ent�o � declarado “vener�vel”. Isso ocorreu com Padre Victor em 2012, por meio de um decreto assinado pelo Papa Bento XVI, em Roma, na It�lia. Depois da beatifica��o, o passo seguinte para a canonizar o religioso � a comprova��o de um outro milagre.

Em que pese o significado do aval da Igreja em processos como esse, parte dos milh�es de fi�is que participam de festas religiosas – como o anivers�rio da morte de Padre Victor, lembrado em 23 de setembro – tem uma hist�ria de pedidos atendidos para contar, evidenciando que a f� n�o pode ser imposta. Nesse universo misterioso, milagres, gra�as, sacrif�cio e esfor�o humano se misturam na edifica��o da f�, sentimento hist�rico que emana das ra�zes e da cultura do povo brasileiro. “� dif�cil ter um milagre reconhecido. Mas Padre Victor � considerado santo n�o s� em Tr�s Pontas, como em toda a regi�o (Sul de Minas). A devo��o � espont�nea e vem de fora, do peregrino. Em vida, as pessoas j� tinham uma confian�a muito grande nele”, observa padre V�nis, respons�vel por enviar o caso de Maria Isabel ao Vaticano.

Depoimento da rep�rter

A multiplica��o dos p�es

“Quando cheguei � Associa��o Padre Victor, em Tr�s Pontas, pouco depois do meio-dia na v�spera do anivers�rio de morte do religioso, fui convidada a conhecer a estrutura que existe por tr�s da lojinha de rel�quias e do memorial do beato. Descendo as escadas, me deparei com um sal�o onde havia pacotes de a��car empilhados, freezers com embalagens de leite, al�m de grandes sacos de caf� e um enorme saco pl�stico cheio de p�es.

Ao retornar ao local, tr�s horas depois, algo havia acontecido. Os freezers, antes com poucas embalagens com leite, agora estavam abarrotados. A pilha de pacotes de a��car tinha se agigantado e o mesmo havia ocorrido com o n�mero de sacos e pacotes de caf� depositados ao fundo da parede, � esquerda de quem entra no sal�o, e com a quantidade de sacos de p�o fresquinho que chegavam. Estava selado o ‘milagre’ da multiplica��o dos alimentos.

(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Adriana, secret�ria da entidade, explica que os mantimentos s�o doa��es de moradores – dos mais ricos aos mais pobres. Tradicionalmente, nessa data de celebra��o, eles oferecem aos peregrinos que chegam – muitos vencendo mais de uma centena de quil�metros a p� – �gua, caf�, leite e p�o com manteiga ou margarina. A partir das 18h do dia 22, os romeiros j� faziam fila na barraca montada no adro da igreja de Nossa Senhora da Ajuda, onde volunt�rios (s�o mais de 300 durante a festa) serviriam dezenas de milhares de pessoas at� as 22h do dia 23.

O ‘milagre’ da solidariedade tamb�m se materializa nas estradas de acesso a Tr�s Pontas, onde volunt�rios montam estruturas para oferecer �gua, caf� e banheiros aos romeiros. Enquanto isso, em frente � matriz, em missa a c�u aberto, ocorria a cerim�nia da queima dos pedidos. Sa�dos de um ba� de madeira, que em dias normais fica dentro da igreja, centenas de bilhetes e cartas com desejos e agradecimentos iam direto para um cesto de lat�o que ardia em chamas durante a celebra��o ao ar livre.

A festa de f� prosseguiu noite e madrugada adentro. �s 3h30 da manh�, uma via-sacra que reunia centenas de pessoas come�ava uma caminhada de ida e volta em dire��o � Capela da Faxina, seis quil�metros distante de Tr�s Pontas. Era onde Padre Victor costumava descansar. Do outro lado da cidade, sob um calor escaldante e ao som de Moacyr Franco, Roberto Carlos ou de um sertanejo universit�rio, barraqueiros, que acompanham os romeiros por todo o Brasil, vendiam ma��s do amor, roupas de crian�a, CDs e DVDs, cobertores, carregadores de celular, panelas ou panos de prato, agregando � religiosidade popular um caleidosc�pio da cultura brasileira.” (ZF)

Maria Teresa Corrêa de Brito, de 67 anos, agricultora
Maria Teresa Corr�a de Brito, de 67 anos, agricultora
Aconteceu comigo

“Sou devota de Padre Victor e fa�o a novena dele h� 25 anos. Faz tr�s anos, eu e minha fam�lia fomos passear em um peda�o de terra que temos no Lago de Furnas, durante o Carnaval. Meu neto de 15 anos estava esquiando na represa, puxado por uma corda ligada a um jet ski. Foi a� que passou uma lancha que atingiu a corda e ele tombou na �gua, enforcado. Minha nora e eu est�vamos na beira da represa e vimos tudo acontecer. Pessoas que estavam na �gua foram chegando de barco, mas ningu�m conseguia tir�-lo. Meu neto j� estava com os olhos e a boca roxos, ele afundava, as pessoas o traziam de volta, mas ningu�m conseguia desatar a corda. A agonia durou meia hora. Em certo momento, a m�e dele e eu ca�mos de joelho e pedimos que Padre Victor intercedesse e que nenhum mal acontecesse ao nosso menino. Ent�o, do nada, no meio do lago, surgiu um desconhecido que, com uma faca, cortou a corda. Ningu�m nunca mais deu not�cia dessa pessoa. Meu neto foi retirado da �gua e levado ao hospital. Ficou 24 horas em observa��o, fez todos os exames. Saiu sem nenhuma sequela. Durante muito tempo, ficou com a marca da corda no pesco�o. Para mim, esse foi um milagre verdadeiro. Posso afirmar que Padre Victor � santo.”

Peregrina��es


O Estado de Minas publica desde domingo a s�rie especial “Provas de f�”, revelando as demonstra��es de devo��o que movem romeiros pa�s afora. Na estreia, foram retratadas as multid�es que peregrinam a Congonhas e Bel�m (PA), em busca de gra�as ou de agradecer por elas. No dia da padroeira do Brasil, as reportagens mostraram as romarias ao Santu�rio de Nossa Senhora, em Aparecida (SP). Amanh�, a viagem prossegue com as homenagens a Padre Lib�rio, em Leandro Ferreira.



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