
“O impacto na regi�o marinha vai ser dezenas de vezes maior do que o que est� ocorrendo ao longo do Rio Doce. O desastre no mar � crime internacional. � como se tivesse destruindo n�o o Rio Doce, mas o Rio Amazonas”, afirma Ruschi, salientando que a contamina��o por metais pesados vai matar esp�cies mar�timas, diminuindo a produ��o de pescados. Os rejeitos devem chegar ao mar at� meados desta semana, depois de percorrer mais de 853 quil�metros.
Ontem, a lama atingiu a cidade de Baixo Guandu, no Esp�rito Santo. O n�vel de turbidez estava entre 10 mil e 50 mil NTU (Unidade Nefelom�trica de Turva��o), de acordo com o Servi�o Geol�gico do Brasil (CPRM). A intensidade considerada normal � de 100 NTU.
Ruschi explica que os rejeitos atingir�o um importante ecossistema, em uma �rea de reprodu��o marinha que se estende por cerca de 10 mil quil�metros quadrados, pr�ximos da foz do Rio Doce. Muitas esp�cies, como baleias, marlins e tubar�es, al�m de tartarugas, buscam aquela �rea para se reproduzir, tendo o Rio Doce como fornecedor de nutrientes. “O litoral do Esp�rito Santo � a ‘Amaz�nia marinha’ do mundo. A regi�o conta com uma grande biodiversidade que ajuda a processar a energia solar e filtra 15% do g�s carb�nico do planeta. Temos ali o maior banco de algas, calc�rio e corais do mundo”, diz o pesquisador , diretor da Esta��o Augusto Ruschi, acrescentando que, se o ecossistema morrer, pode haver significativo aumento na temperatura do planeta.
Ele observa que, al�m de peixes, outras esp�cies da fauna marinha ser�o afetadas, e avalia que os efeitos da polui��o poder�o ser sentidos durante s�culos. “Se retirarem a lama do fundo do rio, os danos v�o demorar 100 anos para ser recuperados. Se n�o, o meio ambiente vai demorar 1.500 anos para voltar ao que era antes da trag�dia”, afirma.
A presen�a elevada de metais pesados no Rio Doce foi constada em an�lise feita pelo Servi�o Aut�nomo de �gua e Esgoto (Saae) de Baixo Guandu (ES). O Estado de Minas recebeu c�pia do laudo, que aponta a contamina��o por ars�nio em 263 vezes acima do permitido, sendo observada tamb�m a concentra��o elevada de outros elementos como chumbo, mangan�s, alum�nio, b�rio e cromo. Isso contraria a alega��o da Samarco de que a lama n�o � t�xica. A presen�a de metais pesados tamb�m foi constatada em an�lises do Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam).
Alimentos O bi�logo Ricardo Motta Pinto Coelho, do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas da Universidade Federal de Minas Gerais , refor�a a avalia��o dos que alertam para a destrui��o da vida no Rio Doce. Ele v� risco de contamina��o de alimentos. “Isso pode gerar um problema de sa�de p�blica, a partir do momento em que as pessoas se alimentarem de peixes ou produtos de hortas cultivadas em �reas pr�ximas do rio, tamb�m sujeitas � contamina��o”, explicou.
Entrevista
Marcos Freitas - Coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudan�as Globais
"O maior acidente da hist�ria"
A trag�dia de Mariana � o pior acidente da hist�ria mundial em volume de rejeitos de minera��o. Os 62 milh�es de metros c�bicos de lama s�o duas vezes e meia mais que o segundo pior desastre do setor, em 2014, na mina canadense de Mount Polley. A afirma��o � do pesquisador Marcos Freitas, coordenador executivo do Instituto Virtual Internacional de Mudan�as Globais, vinculado ao Instituto de P�s-Gradua��o e Pesquisas de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um dos criadores do Grupo de Recomposi��o da Bacia do Rio Doce, iniciativa acad�mica que surgiu ap�s o desastre, ele falou ao Estado de Minas sobre a cat�strofe.
Como o senhor avalia a trag�dia?
Foi o maior acidente da hist�ria da minera��o no mundo em volume de material, ainda que n�o em n�mero de mortes, normalmente usado para medir a gravidade de trag�dias como essa.
Qual a dimens�o dos danos?
S�o dif�ceis de dimensionar. Primeiro, temos de considerar a �rea de um raio de 30 quil�metros das barragens onde houve uma grande destrui��o, atingindo a fauna e flora de forma agressiva. As esp�cies foram mortas tanto por asfixia quanto por envenenamento. Depois, a polui��o atingiu toda a Bacia do Rio Doce, o leito e as margens.
Quanto tempo levar� a recupera��o?
� dificil prever. Ser� preciso um esfor�o de todos os �rg�os e elaborar um projeto bem planejado. Primeiro, � necess�rio cuidar da qualidade da �gua, para garantir o abastecimento das cidades e a dessedenta��o de animais. Depois, v�m as outras etapas de recomposi��o da fauna e da flora. � preciso avaliar tamb�m o aspecto da contamina��o do solo.