Mariana – Diante das imagens do que um dia foi Bento Rodrigues, a voz da cozinheira some. Nem parece a mesma Terezinha Cust�dio Quint�o Silva, de 49 anos, que, antes de tomar nas m�os o tablet com os registros do Google Street View, falara por quase cinco minutos ininterruptos, destacando como enfrentou a onda de lama de dois metros para escapar da destrui��o que veio com o rompimento da barragem da Samarco no subdistrito de Mariana, na Regi�o Central de Minas. Mas, diante das imagens que registraram a casa onde cresceu, as �rvores que escalou na inf�ncia, o bar onde trabalhava, a saudade mais do�da entra no lugar das palavras.
A convite do Estado de Minas, alguns dos antigos moradores do povoado – o mais impactado com o desastre da mineradora – revisitaram, por meio de uma viagem virtual ao passado, a mem�ria afetiva dos ‘causos’ vividos entre as ruelas hoje devastadas por lama. As c�meras do servi�o do Google cristalizaram uma ensolarada tarde de julho de 2012, com imagens que, depois do acontecimento que varreu a hist�ria do local, soam doces e amargas ao mesmo tempo. Algumas beiram a morbidez: uma propaganda pr�ximo � capela de S�o Bento traz o slogan “Minas Sustent�vel”; uma picha��o em um dos muros pede “Eu quero �gua limpa”.
O carteado reunia o pessoal debaixo de sombra proporcionada por Jos� do Nascimento, o Zezinho do Bento, de 70. Ao ver a imagem da castanheira pr�xima ao bar, ele conta orgulhoso: “Fui eu que plantei essa �rvore e ela j� estava muito maior do que isso a�. Quando a gente estava escapando da cidade, no meio da correria, eu vi que ela estava ‘inteirona’ l�; fiquei com a impress�o de que ela queria me dizer alguma coisa”. Ao lado do bar, na regi�o da pra�a S�o Bento, a castanheira sobreviveu � avalanche, imponente.
O motorista Diego Henrique Alves, de 27, se emocionou com a imagem da casa que ele construiu durante tr�s anos, na Rua S�o Bento, n�mero 400: “Quando completaram dois meses que a gente tinha terminado de pagar, a lama veio e levou tudo. E era uma casa do jeito que eu queria, tinha uma garagem que cabia meu carro, minha moto; tinha a varandinha para minha menina brincar; tr�s quartos, uma sala, uma cozinha, uma �rea de lavar, uma �rea coberta para secar roupa; foi tudo”.
Com os dedos tr�mulos na tela do tablet, a aposentada Rosa Maur�lia Gomes percorreu novamente todo o caminho em que correu “at� o cora��o quase parar”, fugindo da lama que avan�ou sobre a cidade. As paredes ao ch�o s�o o de menos, para ela. Dona Rosa defende que reerguer Bento s� faria sentido sem dispersar os moradores, de maneira a manter, nas novas casas, o esp�rito que fazia a vida simples do povoado valer a pena. “Todo mundo no Bento se conhece. Todos nasceram, foram criados, se casaram, criaram fam�lias, casaram as fam�lias. A comunidade todinha quer uma outra vila igual”. Com 77 anos, ela deposita esperan�as em “come�ar uma nova vida, mas todo mundo unido, como era no antigo Bento. N�o � bom assim?”
Sobe n�mero de v�timas
O corpo de Samuel Vieira Albino, de 34 anos, um dos nove oper�rios que estavam na lista de desaparecidos devido ao rompimento da Barragem de Fund�o, foi reconhecido, de acordo com boletim divulgado pelo Corpo de Bombeiros ontem � noite. No informe, tamb�m foi confirmado o encontro de mais um corpo. O total de mortes agora j� soma 12, dos quais oito corpos identificados. Al�m de oito trabalhadores ainda desaparecidos, tr�s moradores de Mariana est�o sendo procurados pelas equipes de resgate, que a partir de hoje ganham refor�o de 26 bombeiros vindos de cidades do interior de Minas.
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�gua saud�vel em Governador Valadares
O ministro da Integra��o Nacional, Gilberto Occhi, afirmou ontem em Governador Valadares que a �gua captada no Rio Doce est� em condi��o de normalidade e pode ser consumida pela popula��o da regi�o,
ap�s o tratamento feito pelas companhias locais de saneamento. “N�o h� risco de contamina��o do rio, n�o h� metais pesados no rio. Queremos garantir � popula��o que a �gua tem qualidade normal e est�
sendo abastecida de maneira normal”, afirmou o ministro. Gilberto Occhi tamb�m disse que a mineradora Samarco se comprometeu a elaborar um projeto para a constru��o de uma adutora nos rios Sua�u� Grande e
Sua�u� Pequeno. Isso ser� alternativa para o futuro da seguran�a h�drica dos 278 mil habitantes de Valadares.
Vaquinha protesta contra lama da Samarco
A tradicional vaquinha da Rua Leopoldina, Bairro Santo Ant�nio, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, amanheceu pintada de marrom em protesto contra o desastre ambiental causado pelo rompimento da barragem da Samarco, em Mariana. Ela foi coberta de “lama” at� a metade e com o texto “Vaca Atolada”, al�m da logo da mineradora Vale, em uma a��o de integrantes do bloco de rua Mam� na Vaca, que desde 2010 convida diferentes artistas para pintar a est�tua durante o carnaval.
