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Estado de Minas

Afluentes podem ajudar a recuperar o Rio Doce

Comunidade e ambientalistas se unem em a��es para tentar salvar o que conseguiu resistir � trag�dia decorrente do rompimento da barragem do Fund�o, em Mariana


postado em 22/11/2015 11:00 / atualizado em 22/11/2015 12:29

Águas ainda densas do leito principal sufocam vida aquática, derrubam a oxigenação, matam peixes e espantam animais que se alimentam deles(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
�guas ainda densas do leito principal sufocam vida aqu�tica, derrubam a oxigena��o, matam peixes e espantam animais que se alimentam deles (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Colatina – Ainda � cedo para afirmar com certeza quanto tempo levar� a revitaliza��o do Rio Doce, o maior leito em extens�o do Sudeste brasileiro (853 quil�metros). Os mais pessimistas acreditam que ela pode nunca ser completa. Mas uma coisa � certa: os afluentes da calha principal ser�o indispens�veis para que a vida aqu�tica possa voltar ao leito arrasado pelo rompimento da barragem da Samarco, no dia 5. At� l�, comunidade e ambientalistas se unem em a��es para tentar salvar o que conseguiu resistir � trag�dia. “Os afluentes representar�o as �reas de onde ser� iniciada a recoloniza��o da calha principal. Isso dever� ser ainda mais importante nas regi�es mais pr�ximas do local do acidente, onde, possivelmente, a fauna de peixes foi severamente afetada”, avalia o bi�logo F�bio Vieira, um dos maiores especialistas na ictiofauna da Bacia do Rio Doce.


Por�m, continua ele, todos os tribut�rios devem ser encarados como importantes. “E isso n�o depender� do tamanho e diversidade de esp�cies de peixes que abrigam. Em fun��o da proximidade com a barragem que se rompeu, eu destaco primeiramente o Gualaxo e o Piranga. Na regi�o do m�dio Rio Doce, destacaria o Santo Ant�nio, o Sua�u� Pequeno e o Sua�u� Grande”, afirma.

Especialistas como o professor Abraão Elesbon trabalham em projetos de resgate da fauna e repovoamento(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Especialistas como o professor Abra�o Elesbon trabalham em projetos de resgate da fauna e repovoamento (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Enquanto isso n�o acontece, saudade � o que resta a ribeirinhos como Jo�o Beraldo Guedes, de 75 anos, que mora a menos de 500 metros do encontro dos rios Piranga e do Carmo, na �rea rural de Santa Cruz do Escalvado, a cerca de 100 quil�metros das barragens da Samarco. “A �gua do Piranga era clara. A do Carmo, escura. Agora � tudo marrom, de min�rio. Tor�o para que o leito volte a ser como antes. Dava gosto ficar �s margens vendo o Doce nascer.”


Jo�o pescava bagres, cascudos, piabas e outras esp�cies que garantiam a ele e � mulher, Maria, uma saborosa refei��o acompanhada das verduras e legumes que o fazendeiro cultiva. Homem de boa prosa, ele se recorda de como a avalanche de lama veio destruindo a mata ciliar e o leito do rio. “N�o gosto de lembrar. Desceu muito boi. A correnteza levou tudo o que encontrou pela frente. Vi uma charrete ser carregada. D� uma revolta grande”, indigna-se o fazendeiro. A companheira tamb�m n�o esconde a ira: “N�o h� mais peixes por aqui”.

O pescador Élcio Alves viu as lontras desaparecerem e, como elas, não sabe mais onde achar seu sustento(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O pescador �lcio Alves viu as lontras desaparecerem e, como elas, n�o sabe mais onde achar seu sustento (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

LONTRAS A morte chegou pelo leito tamb�m a locais como Galileia, a 380 quil�metros de Belo Horizonte. L�, por�m, al�m dos peixes, havia lontras. Moradores contam que os animais morreram ou deixaram a regi�o em raz�o da falta de alimento. “Elas descansavam em cima das pedras ao longo do leito. Gostavam de ir atr�s do pescado que ficava preso nas redes dos pescadores”, recorda �lcio Santos Alves, de 31, que deixou o emprego na balsa local por acreditar que a pescaria lhe traria remunera��o maior.


“N�o sei como vou ganhar dinheiro com essa destrui��o”, lamenta. �lcio, que mora a menos de 50 metros do rio, costumava observar as lontras da janela de casa. “Bicho arisco. Quantas vezes arrebentaram as minhas redes...” Sem o pescado, continua, os animais que conseguiram escapar migraram para outras bandas. Ele n�o pode fazer o mesmo. E n�o esconde a revolta quando se depara com peixes mortos em raz�o do min�rio. “Na quinta-feira, tirei da �gua um pacam�o morto. Pesava mais de 10 quilos. Uma pena”, lamenta.

FUGA DAS AVES Algumas dezenas de quil�metros adiante, numa �rea em Resplendor ocupada pelos �ndios krenak, foram os patos selvagens que desapareceram. “A gente usava as penas para artesanato, para o cocar. Mas n�o sobrou um”, conta Itamar Krenak. Outra ave comum ao longo do rio, conta ele, tamb�m n�o � mais vista na aldeia desde que a lama chegou a Resplendor. “N�o tem mais gar�a. Desapareceram”, lamenta o krenak.

NO�S �S MARGENS
DA DEVASTA��O


T�o importante quanto a preserva��o dos afluentes do Doce � um projeto implantado por ambientalistas do Esp�rito Santo. O grupo captura esp�cies nativas e end�micas da bacia desde que a lama mostrou que n�o haveria obst�culos que a impedissem de chegar ao estado vizinho. “Levamos as esp�cies para tanques, onde tentamos a reprodu��o em cativeiro. O objetivo � repovoar o rio tanto quando poss�vel”, conta o pesquisador e professor Abra�o Alexandre Alden Elesbon, do Instituto Federal do Esp�rito Santo (Ifes).


H� quatro pontos de captura: em Reg�ncia (pr�ximo � foz), em Linhares, em Colatina e em Baixo Guandu. Abra�o tamb�m � um dos coordenadores do projeto Arca de No�, no qual pescadores capturam o maior n�mero poss�vel de peixes com finalidade de repovoar o Doce. A diferen�a, contudo, � que este �ltimo n�o se resume apenas �s esp�cies nativas e end�micas. Animais ex�ticos da bacia, como o dourado e a til�pia, tamb�m s�o resgatados, principalmente os que t�m grande valor comercial.


De acordo com F�bio Vieira, a Bacia do Doce conta com pelo menos duas esp�cies end�micas reconhecidas. Mas esse n�mero pode aumentar, em raz�o de estudos detalhados em andamento.

TARTARUGAS Outra grande preocupa��o dos ambientalistas capixabas � com os ninhos de tartarugas-gigantes em Reg�ncia, distrito do munic�pio de Linhares onde fica a foz do Doce. O lugar, protegido pelo Projeto Tamar, tamb�m � ocupado por caranguejos e outras esp�cies. Ambientalistas do Tamar passaram a �ltima semana transferindo os ovos de tartaruga para lugar seguro.

 


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