Mariana – Alexandra Matias Teixeira Silva, de 36 anos, n�o pisava em Bento Rodrigues desde 5 de novembro, quando fugiu da avalanche de lama de min�rio que vazou da barragem da Samarco. Ontem, diante de tanta devasta��o, ela sentiu uma dor como se o seu cora��o fosse cortado por a�o de navalha. E a ang�stia cresceu ao ser informada que sua fam�lia e a de outros desalojados v�o receber com atraso os cart�es do aux�lio mensal que a mineradora se prop�s a desembolsar. O prazo vence hoje.
“O cart�o da minha fam�lia e os de outras s� ser�o entregues daqui a mais ou menos 10 dias, segundo a mineradora”, lamentou Alexandra. H� quase um m�s morando com os dois filhos e o marido num hotel em Mariana, ela contava com o aux�lio para amenizar a dor causada pela lama. Procurada, a empresa n�o esclareceu o motivo do atraso.
Em nota, a Samarco informou que “iniciou a entrega a primeira remessa de 115 cart�es para as fam�lias cadastradas e validadas pela Defesa Civil e empresa. A entrega continuar� at� que todos os n�cleos familiares sejam atendidos. (…) O cr�dito � realizado at� o quinto dia �til de cada m�s e o valor � retroativo a 5 de novembro, independentemente do dia do recebimento do cart�o.” Segundo o texto, a pr�xima remessa de cart�es ser� entregue ao titular, indicado pelo n�cleo familiar.
A empresa justificou que o valor de um sal�rio-m�nimo e o do percentual por dependentes t�m como base um estudo desenvolvido pela pr�pria Samarco, em 2013, para caracteriza��o socioecon�mica de Bento Rodrigues. A mineradora, contudo, sugere que pode revisar a quantia.
Essa contraproposta da Samarco precisa ocorrer at� quarta-feira, quando dever� ser assinado termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Minist�rio P�blico em Mariana sob pena de a promotoria da cidade hist�rica incluir as duas controladoras da mineradora – a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton – na a��o civil p�blica que ir� cobrar das empresas a repara��o por danos morais e materiais.
Os moradores ainda querem R$ 10 mil por fam�lia para que eles recomecem suas vidas. Enquanto o dinheiro n�o chega para Alexandra, ela passa o dia se lembrando da �poca tranquila em que morava em Bento Rodrigues, o primeiro povoado destru�do pela lama. Boa parte da moradia dela foi jogada ao ch�o. M�veis, roupas e outros objetos foram levados para longe.
FELICIDADE Talvez outros possam ter sido levados por ladr�es. Apesar do sofrimento dos desalojados, invasores foram ao lugarejo e roubaram rodas de carros e v�rios objetos. Ontem, diante de tanta ang�stia, Alexandra decidiu garimpar seu passado. Depois de alguns minutos, achou documentos pessoais cobertos pelo min�rio. Retirou de l� sua carteira de identidade. Agora, deseja encontrar a mesma felicidade que tinha no povoado.