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Estado de Minas

Devasta��o no Rio Doce j� castigado por polui��o impressiona

Antes de ser atingido pelos rejeitos da barragem da Samarco, o Rio Doce j� era v�tima da sujeira e do desmatamento


postado em 13/12/2015 06:00 / atualizado em 13/12/2015 08:17

O Rio Doce em Governador Valadares ainda tem muita lama e o fornecimento de água para a população continua apresentando problemas(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
O Rio Doce em Governador Valadares ainda tem muita lama e o fornecimento de �gua para a popula��o continua apresentando problemas (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Aimor�s, Baixo Guandu e Governador Valadares – Antes do rompimento da Barragem do Fund�o, em Bento Rodrigues, as �guas polu�das em quase toda a extens�o de sua bacia hidrogr�fica, considerada uma das mais contaminadas do pa�s, e as matas que desapareceram para dar lugar sobretudo a pastagens eram as agress�es lentas que o Rio Doce vinha sofrendo ao longo de seu curso, mas que ainda n�o o tinham tornado invi�vel. Mas depois da trag�dia ambiental de Mariana, em 5 de novembro, a situa��o � de total desesperan�a.


No in�cio e no fim da viagem, nas regi�es metropolitanas de Belo Horizonte e de Vit�ria, quem viajava pela Estrada de Ferro Vit�ria a Minas (EFVM) avistava cursos d’�gua transformados em canais de esgotamento sanit�rio, mas ao chegar ao Rio Doce, ainda encontrava vida. Hoje, a lama e os detritos que vazaram da barragem da Samarco transformaram um dos principais rios brasileiros num veio de lama t�o hostil quanto esses canais de esgotos.

Ao passar pelo rio pela primeira vez, segunda-feira, em Ipatinga, no Vale do A�o, o estudante Pablo Martins de Barros, de 24 anos, j� esperava ver um rio devastado, mas se surpreendeu com o tamanho da destrui��o. “A gente reconhece que n�o h� preserva��o aqui no Brasil e depois que soube que a barragem tinha se rompido, minha expectativa j� era ruim. Meus pais falavam que quando fizeram essa viagem, s� o rio mesmo ainda era bonito, pois tinha muita devasta��o”, disse. O jovem, que foi com uma amiga at� Governador Valadares, onde pegaria um �nibus para ir ao show do cantor Luan Santana, em Te�filo Otoni, no Vale do Mucuri, lamenta que o Rio Doce chame a aten��o pela sua agonia e n�o pela sua conserva��o. “Disseram que a �gua era clarinha, mas hoje, com essa lama que desceu, todos est�o interessados em ver o estrago e n�o a beleza. Mais um lugar onde destru�ram tudo”, critica.

Na sa�da de Belo Horizonte, ao longo da Avenida dos Andradas, a vis�o do Ribeir�o Arrudas com sua �gua negra segue com os passageiros at� o encontro com o Rio das Velhas, entre Sabar� e Santa Luzia, outro local que parece puro esgoto, depois de passar por �reas de periferia com casas humildes e cachoeiras de pedra com lixo estocado em margens e rochas. Da destrui��o ambiental para um s�mbolo de desperd�cio no Brasil, antes de chegar perto da Esta��o de Tratamento de Esgoto (ETE) Arrudas. As janelas dos vag�es emolduram os gigantescos pilares de concreto abandonados sobre um vale. S�o as antigas funda��es da Ferrovia do A�o, que deveria ter sido implantada, mas que hoje serve apenas de poleiro para os urubus que se alimentam de carni�a nas �guas da ETE.

A realidade vista dos trilhos da EFVM deixou entristecido o pedreiro Roberto J�nior de Lima, de 42, que saiu de Betim para Governador Valadares a passeio e era um dos que mal podia acreditar no que se transformou o Rio Doce. “O que me deixa triste assim � ver que tudo isso aconteceu por causa da gan�ncia. Por causa do dinheiro. Assusta ver at� onde o homem vai e por cima de qu� � capaz de passar por causa de sua gan�ncia. N�o se importa com vidas, o rio representa vidas para n�s. E est� essa tristeza hoje”, disse. “Da outra vez que estive aqui, pelo menos a �gua do rio estava limpa. Agora, est� totalmente suja. Esta ferrovia era um cart�o-postal de Minas Gerais”, lamenta.

Mais adiante, antes da Esta��o Dois Irm�os, em Bar�o de Cocais, o trem passa sobre uma cratera com a extens�o de 145 campos de futebol. S�o sequ�ncias enormes de degraus que descem centenas de metros at� o fundo da cava aberta e servem de via para v�rios caminh�es fora de estrada que circulam trazendo o min�rio de ferro para ser carregado em vag�es de carga. A vis�o impressiona e faz com que muitos passageiros se levantem de seus assentos para ver de perto a grandiosidade da mina de Gongo Soco, da Vale, e que faz parte de uma fazenda importante para a hist�ria de Minas Gerais.

Da vila constru�da pelos ingleses no in�cio do s�culo 18 sobraram ru�nas e algumas edifica��es, poucas delas vis�veis do alto da estrada de ferro. Um dos pontos que ainda se pode reconhecer no meio do mato e dos coqueiros do cerrado � o antigo hospital da vila dos ingleses, estrutura que podia comportar oito leitos e onde historiadores encontraram instrumentos m�dicos como antigas seringas e frascos. O complexo fica dentro da �rea da mineradora e n�o � aberto � visita��o.

Ao longo dos trilhos da EFVM, outro ponto not�vel s�o os montes de min�rio que brilham ao sol e se acumulam no ch�o de terra e nos barrancos. Um dos locais onde essa situa��o � mais vis�vel � justamente dentro da reserva ind�gena dos Krenaks. Para se manifestar contra a polui��o do Rio Doce, que impediu atividades rotineiras da vida na aldeia e tamb�m espirituais, os �ndios chegaram a bloquear a estrada de ferro explorada pela Vale, uma vez que a empresa � uma das controladoras da Samarco, a propriet�ria da barragem que se rompeu em Mariana.

O estudante Pablo Martins observa o leito do rio tomado por lama(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
O estudante Pablo Martins observa o leito do rio tomado por lama (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Mais dramas ao longo da viagem


Em Caet�, as montanhas recobertas de mata atl�ntica dominam a vista do Parque Nacional da Serra da Gandarela, j� criado mas ainda n�o implantado. Na sequ�ncia, os trilhos acompanham o curso do Rio Piracicaba, entre ranchos de lazer e pesca e fazendas. A paisagem buc�lica cede lugar aos fornos e pr�dios da Arcelor Mital, em Jo�o Monlevade, o que desperta pouco interesse dos passageiros. Depois de Ipatinga, onde o Rio Doce se une ao Rio Piracicaba, logo ap�s o parque industrial da Usiminas, com in�meros vag�es carregados de bobinas de a�o, as �guas ainda impregnadas de lama causam o maior choque aos passageiros.

Em Governador Valadares, a exuber�ncia da mata atl�ntica, cujo verde contrasta com as �guas barrentas do rio, desaparece e d� lugar aos pastos para alimentar o gado bovino. A cidade, de pouco mais de 270 mil habitantes, ainda sofre com os problemas de abastecimento de �gua. A concentra��o de lama ainda � grande e as filas para a distribui��o de �gua mineral s�o comuns em v�rios pontos do munic�pio.

O drama de quem ainda sofre com a lama que vazou da Barragem do Fund�o acompanha os trilhos da ferrovia. Em Tumiritinga, as pastagens est�o vazias. O gado foi removido e os fazendeiros cercaram os acessos ao rio barrento, para que os animais n�o bebam a �gua e adoe�am.  Em Resplendor, cidade totalmente dependente da �gua do Rio Doce, os caminh�es-pipa tentam atender a popula��o.

J� em terras capixabas, o problema se mant�m. Em Baixo Guandu, a capta��o de �gua foi interrompida no Rio Doce e hoje a popula��o � abastecida pelo Rio Guandu. Em Colatina, o maior munic�pio do Esp�rito Santo v�tima da lama que vazou em Mariana, a cidade continua enfrentando falta de �gua. A distribui��o de �gua mineral � a sa�da encontrada para diminuir o problema. � o �ltimo munic�pio onde a estrada de ferro e o Rio Doce est�o pr�ximos.

 

 

 


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