
Ao todo, 131 pessoas, de 28 fam�lias, ainda esperam a oportunidade de trocar o quarto de hotel por algo que possam chamar de lar. Segundo a Samarco, 260 fam�lias foram alocadas em casas alugadas pela empresa e outras 110 permanecem em moradias de parentes. A companhia diz que tem feito todos os esfor�os para instalar os atingidos pelo desastre o mais r�pido poss�vel, mas o Minist�rio P�blico quer que esse trabalho termine, impreterivelmente, at� dia 24, para que todos passem a noite de Natal em uma casa alugada, o que torna a tarefa uma corrida contra o calend�rio. Depois que a empresa se recusou a assinar um compromisso que previa essa e outras determina��es, o promotor Guilherme de S� Meneghin entrou com uma a��o civil p�blica no F�rum de Mariana, acionando a pr�pria mineradora e suas controladoras, a Vale a BHP Billiton, para que garantam uma s�rie de direitos �s v�timas.
A sete dias da data-limite, enquanto permanece o impasse judicial h� moradores que sonham com uma casa como presente de Natal. Essa � a expectativa da auxiliar de servi�os gerais Vera L�cia Aleixo Silva, de 58 anos. Moradora de Gesteira, distrito do munic�pio de Barra Longa, ela est� morando com o marido, o filho e a nora na casa de um cunhado, na vizinha Mariana. At� agora, n�o h� nenhuma movimenta��o para a celebra��o natalina, principalmente pela dificuldade de preparar algo em uma casa que n�o � dela. “Se sa�sse a minha casa, com certeza seria um belo presente. Mas o Natal j� passou para n�s. N�o temos motivo para comemorar. Eu tinha �rvore de Natal em casa e ajudava a montar o pres�pio da igreja. Nasci e me criei em Gesteira, mas depois do que passei, n�o quero mais voltar”, contou, enquanto aguardava o transporte dos donativos que tinha acabado de pegar no Centro de Conven��es.
Apesar do clima dif�cil e do des�nimo em rela��o ao Natal, a lavradora Alenir Maria Alves, de 38, que ainda est� em hotel, espera conseguir alegrar a pequena Ana Clara, de 9, ca�ula de duas filhas. Morando h� 19 anos em Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana arrasado pela lama, ela estava acostumada a juntar a fam�lia todo ano e a ajudar a menina na montagem da pequena �rvore de Natal, enfeitada anualmente com acess�rios que hoje est�o debaixo da lama.
Sem eles, Ana Clara encontrou em um boneco de Papai Noel, resgatado pela m�e em meio a doa��es, um novo s�mbolo do Natal de agora em diante. “Quero guardar ele para sempre”, diz a crian�a. “O Natal para mim j� acabou. O que a gente tenta � levar as crian�as para se divertir”, afirma. Sem perceber, a m�e tamb�m acabou se apegando ao boneco. “Pegamos no meio de doa��es e combinamos que a �ltima de cinco fam�lias na pousada que estou levaria o boneco. Sobrou para mim. Vou mandar fazer uma cadeira para ele ficar no terra�o da casa que a Samarco vai alugar para minha fam�lia”, afirma.
EM CASA Quem j� conseguiu a moradia come�a a se adaptar � nova rotina, mas, mesmo assim, entrar no clima de festas tem se revelado um desafio. J�ssica Xavier, de 23, at� queria enfeitar a casa onde est� morando depois que precisou abandonar o lar destru�do em Bento Rodrigues. “Mas est� dif�cil pensar em qualquer outra coisa que n�o seja reorganizar a vida. Antes, Natal no Bento era �timo, a gente era uma comunidade. Agora, cada um foi para um canto.”
O pedreiro Fernando dos Santos sabe que este Natal ser� diferente, mas n�o perde a esperan�a, nem o divino esp�rito de compartilhar. Moradores h� 25 dias de uma casa alugada no Bairro Dom Oscar, em Mariana, Fernando, a mulher e o filho pretendem fazer uma ceia “como qualquer fam�lia brasileira”. “Vai ser tudo normal. Aqui na nossa rua, h� 10 fam�lias de Bento Rodrigues, que estavam em hotel e j� est�o em casa”, explicou. O vizinho Ant�nio Geraldo dos Santos, de 32, solteiro, mora com os pais e tamb�m pretende se juntar a outros amigos para celebrar o nascimento de Jesus. “N�o temos muito costume de fazer festa, a casa n�o tem decora��o de Natal, mas vamos fazer um churrasco”, adianta. (Colaborou Gustavo Werneck)

Os papais no�is de Mariana
Se a maioria nem teve tempo de pensar em algo para o Natal, h� entre os envolvidos na trag�dia de Mariana quem creia que a data � uma oportunidade de ser solid�rio e come�ar a reescrever as hist�rias dos atingidos. Uma desses papais no�is � o vigilante Jefeson Geraldo In�cio, de 28 anos, que viu em um gorro encontrado no meio das doa��es, no Centro de Conven��es, a possibilidade de amenizar o sofrimento dos atingidos, quase todos pessoas conhecidas, j� que ele tamb�m morava em Bento Rodrigues. “Peguei este gorro e comecei a ajudar, pois sou amigo do povo. Muitas vezes, as pessoas ficam nervosas com a situa��o e acabam se estressando na fila das doa��es”, afirma. Al�m de colaborar na organiza��o, Jefeson faz a alegria das crian�as, como a pequena Agatha, de 6 meses, e j� � considerado o Papai Noel oficial dos volunt�rios. “Pelo menos temos um pouco de alegria neste momento triste”, diz a m�e da menina, Priscila Dias, de 20, que tamb�m perdeu tudo em Bento Rodrigues.
Outro que n�o se abate e n�o desiste de fazer valer o esp�rito de Natal � o encarregado de obras Ant�nio Flor�ncio Lopes, de 40 anos, j� alojado em uma casa em Mariana. Ele ocupa com a mulher um dos tr�s andares de um sobrado que tamb�m tem como moradores a sogra e o cunhado, nos outros dois pavimentos. Ant�nio espera encontrar uma turma de Bento Rodrigues, depois de amanh�, em um almo�o promovido por uma r�dio local. “Quero conversar com as pessoas para combinar o que podemos fazer no Natal: uma ceia no dia 24 ou um almo�o no dia 25”, planeja. Ele conta que foi procurado por uma cl�nica de acupuntura de Belo Horizonte para receber doa��o de 200 cestas b�sicas. “J� consegui distribuir mais de 100 cestas. Estou entregando uma por fam�lia”, completa.