
“Achamos melhor n�o colocar os 114 textos dentro de envelopes individuais. Numa �poca de tanta tecnologia, todas foram manuscritas”, diz Sirlei. Durante as aulas, os estudantes escreveram primeiro no caderno, como um rascunho, e depois passaram para a folha de papel alma�o, aplicando os conhecimentos de reda��o de cartas e documentos. Em seguida, a professora leu uma por uma. “Foram, na verdade, v�rios tipos de aula para uma mesma atividade. Eles pesquisaram poemas de Carlos Drummond de Andrade, como Lira Itabirana, e outros divulgados na internet, como o de autoria de uma moradora de Mariana.”
PROSA E VERSO Numa sala da prefeitura, a funcion�ria da Ouvidoria Viviane Aniceto Pires mostra alguns trechos de cartas que est�o abertas e trazem as mensagens positivas dos “guris e gurias” curitibanos. Ao lado das letras impec�veis, h� desenhos de cora��o, adesivos divertidos, dobras criativas, fugindo do modelo tradicional de um envelope, e emo��o em cada linha. Pensando nos meninos e meninas que perderam familiares e conhecidos, a casa e o lugar onde nasceram, um estudante da Escola Estadual Santa C�ndida registrou: “Fiquei muito triste com o acontecido...pelas mortes: sei que � ruim sair do lugar onde voc�s vivem h� anos e ir para um lugar que n�o se conhece nada”.
E h� mais tantas outras mensagens que, certamente, v�o levar alegria e alento aos pequenos moradores de �reas hoje cobertas de lama e que ainda se dividem entre hot�is e casas alugadas. A entrega ser� feita durante a comemora��o do Natal dos Correios, com Papai Noel, decora��o t�pica do per�odo e apoio da prefeitura local. A festa para 300 crian�as contar� com a presen�a de um grupo de volunt�rios de S�o Jos� dos Campos (SP), que chega amanh� � cidade e participou intensamente da campanha SOS Mariana. A turma generosa, respons�vel at� por um Rock Beneficente para ajudar os desabrigados, vai trazer guloseimas, brinquedos, palha�os e outras divers�es para a garotada de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo.
Os estudantes Curitiba est�o na faixa de 11,12 anos e demonstram sentimentos nobres – e tudo indica que poder� surgir, desse primeiro contato, grandes amizades. Uma menina se mostrou disposta a ajudar nesses tempos de tristeza e ainda incertos quanto o ao futuro. “Quero te ajudar a esquecer a dor que deve ser perder tudo que tem, porque d�i, n�? Tente n�o pensar nunca mais naqueles momentos”. Outro, em versos, fez men��o � mineradora controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton: “O rio? Sumiu/A Vale? Caiu/Antes fosse/Mas levou o Rio Doce”.
INDIGNA��O A professora Sirlei Cavalli ressalta que, desde o dia da trag�dia, ficou indignada com a situa��o nas comunidades de Mariana e passou a acompanhar depoimentos nas redes sociais, at� que leu o relato de um professor. “Cada vez mais, fui ficando impressionada, preocupada, e levei o caso para discuss�o na sala de aula. Os alunos dessa escola t�m acesso a informa��es, �s not�cias, e tamb�m come�aram a questionar, a falar sobre a gravidade do rompimento da barragem e a vida das pessoas atingidas”. A leitura de reportagens e o aprofundamento di�rio no assunto renderam tamb�m um jogral.
Inicialmente, os alunos pensaram em fazer uma campanha para arrecadar donativos e �gua, mas desistiram, tendo em vista o excesso de material que chegou a Mariana. “Imaginaram, ent�o, algo singelo, com carinho e alento. E, assim, surgiu a ideia das cartas. Com a letra deles no papel, para mostrar a identidade de cada um.” Como a sabedoria popular diz que toda carta merece resposta, resta agora acompanhar a rea��o das crian�as de Mariana e o desenrolar desta hist�ria de amizade e esperan�a.
CORA��ES ABERTOS
Veja algumas frases contidas nas cartas
“Eu queria ajudar voc� com uma palavra amiga”
“Choro n�o limpa o rio, nem devolve a vida ao ch�o (...) Que Deus te aben�oe”
“Fiquei muito triste com o acontecido...pelas mortes: sei que � ruim sair do lugar onde voc�s vivem h� anos e ir para um lugar em que n�o se conhece nada”
“Quero te ajudar a esquecer a dor que deve ser perder tudo que tem, porque d�i, n�? Tente n�o pensar nunca mais naqueles momentos”