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Estado de Minas ESPERAN�A REESCRITA

Moradores de Bento Rodrigues falam das expectativas para 2016

Eles relatam em cartas o drama que viveram no dia em que a Barragem do Fund�o se rompeu e contam o que esperam para o ano que come�a amanh�


postado em 31/12/2015 07:00 / atualizado em 31/12/2015 07:48

“Mariana, dezembro de 2015.

O ano de 2015 me marcou muito por causa da trag�dia em Bento Rodrigues, no dia 5 de novembro. O rompimento da barragem ficar� para sempre marcado em minha mem�ria e na todas as v�timas (…) Espero em 2016 reencontrar todas as pessoas e colegas, e continuar estudando, recome�ar tudo. Conquistar pouco a pouco tudo que se perdeu naquela enorme avalanche de lama. E que a trag�dia de Mariana seja um exemplo para que o homem cuide mais do planeta.”

O autor dessa carta, Fabr�cio Liquesley dos Santos, ex-morador de Bento Rodrigues, tem apenas 12 anos, mas j� consegue traduzir em palavras e sentimentos a esperan�a de toda uma comunidade arrasada h� quase dois meses pelo rompimento da Barragem do Fund�o, em Mariana. O adolescente fugiu da avalanche e escapou ileso da sala de aula. Saiu com uma mochila de material escolar, deixada na correria no meio caminho rumo � vida. Hoje, ele guarda na mem�ria as lembran�as de um tempo dividido pelo maior desastre socioambiental da hist�ria do Brasil. Assim como ele, outros moradores do povoado escreveram cartas ao Estado de Minas nas quais expressam as marcas deixadas pelo ano de 2015 e o que esperam para 2016.

Os textos mostram que nem mesmo o desastre foi capaz de apagar os sonhos do povo de Bento Rodrigues. No texto de Fabr�cio, por exemplo, ainda est� viva a esperan�a de ver o distrito ser reconstru�do o quanto antes. “Quero voltar a morar no Bento. L� a gente brincava na rua, jogava bola na quadra, brincava de pique-esconde e morava perto da casa dos amigos. Agora ser� um novo Bento, mas quero que seja da mesma forma”, diz o garoto, referindo-se a um lugar quase imagin�rio.

Fabr�cio estudava na Escola Municipal Bento Rodrigues e foi um dos 47 alunos salvos da lama quando a diretora da unidade, Eliene Santos, e outras funcion�rias os chamaram para abandonar o local �s pressas. Para Eliene, esse � o momento de 2015 que nunca vai sair da mem�ria dela. “No momento em que sa�mos da escola e entrei no carro com meu marido, senti uma dor inexplic�vel. Ver meus alunos e funcion�rios em crise de choque, desesperados, me fez sentir um desejo de acalm�-los, mas nem mesmo eu acreditava que sobreviver�amos”, conta a diretora na carta ao EM. Mas, quase que como um milagre, como ela define, “a m�o de Deus agiu naquele lugar. Diante do estrago que houve, s� aquele cantinho para onde corremos ficou ileso. E o povo de Deus estava ali para ser salvo. Passamos pela trag�dia da lama, mas experimentamos a vit�ria da vida”, desabafa.

Morando em uma casa alugada pela mineradora Samarco, no Bairro Dom Oscar, em Mariana, a educadora sonha com dias promissores em 2016. “Tomara que depois dessa trag�dia possamos pelo menos colher bons frutos. A gente n�o tem mais nossa escola, nossa hist�ria, nossa casa. Queremos que tudo seja reconstru�do”, disse. Assim como ela, o presidente da Associa��o de Moradores de Bento Rodrigues, Jos� do Nascimento de Jesus, cr� na retomada da vida em comunidade para os habitantes de Bento Rodrigues. O homem, que carrega no nome uma homenagem ao nascimento de Cristo, � devoto de S�o Bento e de Nossa Senhora das Merc�s. Ele espera que ainda em 2016 o novo Bento seja constru�do. “N�o vamos parar de lutar enquanto n�o conseguirmos isso. Com certeza n�o vai ter as mesmas caracter�sticas. Mas queremos ver nosso povo junto”, afirma.

Desespero

De 2015, ele guarda a marca da trag�dia e diz nunca ter sentido tanto desespero como naquele 5 de novembro. Seu peito ainda aperta pela perda das vidas varridas pela enxurrada de rejeitos que vazou da barragem. “O momento do resgate das v�timas foi horr�vel. Conhe�o todo mundo igual filho e ajudar os bombeiros a resgatar corpos de pessoas que a gente ama foi muito dif�cil. Me marcou demais. Era a gente trabalhando junto e chorando o tempo todo. Uma coisa que n�o quero para ningu�m e que n�o vou esquecer nunca daquelas imagens em minha mem�ria”, lembrou o homem, que ganhou o t�tulo de Zezinho do Bento na comunidade.

Enquanto representa a comunidade nas negocia��es e reuni�es com as autoridades e a Samarco, dona da Barragem do Fund�o, Zezinho alimenta a alma com o apoio da esposa e de um viol�o. Parceiro de tantas horas, o instrumento ajuda o ex-morador de Bento a expressar sua emo��o em can��es muitas vezes tocadas em rodas de amigos no povoado destru�do. “S�o coisas simples, mas que enchem o cora��o. Era a conversa no fim da tarde, as missas na igreja do Bento e as festas religiosas. Todo mundo era uma �nica fam�lia”, contou o l�der comunit�rio, que trabalhava como pedreiro “no Bento” e hoje, afastado do of�cio, virou construtor de sonhos � espera de respostas.

» Fabr�cio Liquesley dos Santos,
12 anos, morador de Bento Rodrigues

Mariana, dezembro de 2015

O ano de 2015 me marcou muito por causa da trag�dia em Bento Rodrigues, no dia 5 de novembro. O rompimento da barragem ficar� para sempre marcado em minha mem�ria e na de todas as v�timas dessa enorme trag�dia.

O que eu espero para 2016 � reencontrar todas as pessoas, colegas e continuar estudando, recome�ar tudo. Conquistar pouco a pouco tudo que se perdeu naquela enorme avalanche de lama. E que a trag�dia de Mariana seja um exemplo para que o homem cuide mais do planeta.

» Eliene Geralda dos Santos,
diretora da Escola Municipal de Bento Rodrigues

Mariana, dezembro de 2015

O que mais me marcou no ano de 2015 foi, sem d�vida, a trag�dia em Bento Rodrigues. No momento em que sa�mos da escola e entrei no carro com meu marido, senti uma dor inexplic�vel. Ver meus alunos e funcion�rios em crise de choque, desesperados, me fez sentir um desejo de acalm�-los, mas nem mesmo eu acreditava que sobreviver�amos. E l� no alto do morro, quando j� estava longe de tudo, vi a imagem mais triste da minha vida: vi ondas gigantescas de lama levando casas, �rvores, carros e destruindo a nossa querida escola. Naquele momento, pensei que minha vida tinha acabado e chorei muito, pois n�o pensei na possibilidade de haver sobreviventes diante de tamanha destrui��o.

Para o ano de 2016, espero e confio em Deus que se concretizar� que a nossa comunidade seja reerguida para enfim darmos continuidade � nossa hist�ria ou quem sabe escrever uma nova hist�ria, n�o marcada por essa trag�dia, mas pelo milagre da vida.

» Jos� do Nascimento de Jesus, o Zezinho do Bento,
presidente da Associa��o de Moradores de Bento Rodrigues

Mariana, dezembro de 2015

Eu, Jos� do Nascimento de Jesus, mais conhecido como Zezinho do Bento, ex-morador de Bento Rodrigues, relato alguns pontos que marcaram os meus 32 anos nesta comunidade simples, querida por todos os moradores e muito popular. Com as igrejas e a pra�a cheias de paisagens t�o bonitas que eram chamadas de cart�o-postal. Eu n�o vou esquecer nunca tudo isso.

As amizades com todos os amigos e amigas, principalmente as crian�as, por quem eu tenho muito carinho e que hoje s� resta saudade. Porque fomos cada um para um lado, se tornando muito sentimento em meu cora��o e essa preocupa��o do sentimento vai ficar no meu peito para sempre. As festas religiosas, como a da padroeira de S�o Bento, em julho, e Nossa Senhora das Merc�s, em setembro. As brincadeiras com todos os amigos e amigas e crian�as, as nossas cantorias, nas ruas e pra�as juntos com todos. As idas �s igrejas todos os dias para fazer minhas ora��es.

Agora, s� resta esperar um novo Bento e outro local para ver se vamos nos acostumar, porque do outro s� restam lembran�as, recorda��o e muito sentimento. Adeus, Bento Rodrigues, at� a pr�xima, se Deus quiser. Assino Zezinho do Bento, t�tulo que ganhei l� com muita honra.


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