
Desde que se tornou impr�pria ao contato humano na d�cada de 1980, devido ao despejo de esgoto e � presen�a de metais pesados prejudiciais � sa�de, apenas tr�s estruturas navegaram e flutuam pelas �guas da Lagoa da Pampulha. As balsas da Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), que fazem a limpeza di�ria do espelho d’�gua; o chafariz que fica ancorado pr�ximo ao vertedouro e � barragem; e a sonda instalada pela Secretaria de Estado de Ci�ncia, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) para medir as condi��es da �gua do reservat�rio. Contudo, este �ltimo equipamento, lan�ado em 13 de dezembro de 2012, n�o emite mais informa��es sobre o reservat�rio desde 2014. Instalado sobre boias nas proximidades do Iate T�nis Clube, esse equipamento, considerado moderno, custou R$ 480 mil � �poca e deveria emitir para o Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam) informes a cada 30 minutos sobre a concentra��o de oxig�nio dissolvido, condutividade el�trica, salinidade, temperatura e pH em diferentes profundidades.
A sonda amarela que parece ser um submarino emergido � um dos destaques na paisagem n�utica da lagoa quando se navega por l�, como observou a reportagem do Estado de Minas ao percorrer o espelho d’�gua mais conhecido da capital mineira na balsa da Sudecap, a �nica embarca��o com tr�fego regular pela lagoa.
A balsa sai do Parque Ecol�gico, onde ficam outras tr�s embarca��es da Sudecap. Logo ao zarpar, depois de passar por cima de garrafas de pl�stico e sacos de lixo, uma estrutura de formato arredondado e de cor escura parece se movimentar entre o lixo. Mais alguns metros e enfim d� para ver na �gua verde e espessa uma cabe�a de r�ptil pendendo de um pesco�o comprido. � um dos c�gados que sobrevivem nesse ambiente e, de acordo com a Sudecap, acabam morrendo ao ingerir pe�as de pl�stico ou ter o pesco�o preso em tramas de mesmo material, linhas de pesca, de pipas e arames.
Depois de passar pela Ilha dos Amores, a navega��o � perigosa e s� pode ser feita por rotas previamente tra�adas, j� que o assoreamento tornou muitos espa�os rasos demais e capazes de encalhar a balsa. Mesmo esses caminhos n�o s�o seguros, j� que o processo de sedimenta��o pelos c�rregos afluentes continua a assorear o reservat�rio e pode bloquear essas passagens. Mas � nesse percurso, passando pelas v�rzeas alagadas e cobertas pelo mato alto dos bairros Copacabana, Vila Copacabana e Jardim Atl�ntico, que ficam tomando sol a maior parte dos jacar�s-do-papo-amarelo da Pampulha. S� nesta viagem a reportagem contou cinco deles, sendo tr�s grandes tomando banho de sol e dois pequenos, que expunham apenas suas cabe�as para fora da �gua e trataram de submergir com a aproxima��o da balsa. Bem perto, bandos de capivaras interrompem seu banho para observar a passagem da embarca��o, algumas com os pelos originalmente castanhos e grossos recobertos pela nata verde das algas.
A navega��o propicia um raro ponto de vista em que ao mesmo tempo se enquadram a Igreja de S�o Francisco de Assis e os est�dios do Mineir�o e do Mineirinho. Veem -se tamb�m os antigos ancoradouros do Iate T�nis Clube se projetando dentro do lago, mas onde n�o atracam mais qualquer embarca��o.
Pr�xima da barragem, �ltimo destino da viagem, se avista o chafariz que serve de paisagismo e tamb�m para oxigenar a �gua, mas tem sido pouco acionado. � composto por boias e mangueiras que s�o ancoradas por contrapesos no centro dos dois vertedouros que levam a �gua excedente da lagoa para o c�rrego da Pampulha, afluente do C�rrego do On�a, que des�gua no Rio das Velhas, em Sabar�, na Grande BH.
SUSTENTO Mesmo com as condi��es adversas da �gua da Lagoa da Pampulha, muitas pessoas tamb�m sobrevivem de atividades relacionadas diretamente �quele ambiente e em nada tur�sticas. O separador de material recicl�vel Adalto Alves Rocha, de 53 anos, natural de Conselheiro Pena, no Vale do Rio Doce, mora em BH desde os 8 anos e sempre frequentou a lagoa. Atualmente, mesmo morando e trabalhando no Centro, vai ao lago tr�s vezes por semana para lavar a roupa e tomar banho. “D� vontade de chorar de ver que ficou assim polu�da. Mas a �gua ainda � boa para o banho”, disse.
O pescador Ant�nio Carlos Barbosa, de 52, pesca desde a d�cada de 1970 e diz que num dia bom consegue fisgar at� 15 peixes para o sustento da fam�lia. Ele tamb�m � saudosista. “Antigamente, via a Casa do Baile repleta de carros e as pessoas se divertindo. A polui��o danou tudo. A �gua n�o era assim, o que tinha eram os aguap�s. Sumiram muitos peixes, como o carazinho, o car�, a tra�ra e a pirambeba.”