
A lama da Samarco que, no dia 5 de novembro passado, arrasou o distrito de Bento Rodrigues, n�o passou nem perto de Mariana, mas levou para longe da cidade hist�rica os turistas e, com eles, o dinheiro. N�o bastasse o aumento repentino do desemprego, a popula��o tamb�m enfrenta hot�is cada vez mais vazios, o com�rcio de portas fechadas e os restaurantes �s moscas.
Os rejeitos de min�rio que vazaram da Barragem de Fund�o passaram a cerca de 20 km do centro hist�rico. Embora fa�a parte do munic�pio, o distrito ficava em uma �rea rural isolada. Por ter sido constru�da em um planalto, Mariana � considerada segura pela Defesa Civil mesmo que as outras duas barragens, de Germano e de Santar�m, se rompam.
A uma semana do carnaval, no entanto, enquanto faltam vagas nos hot�is da vizinha Ouro Preto, sobram quartos em Mariana. At� agora, o Provid�ncia, o maior da cidade, s� conseguiu reservas para um ter�o dos leitos dispon�veis, e a previs�o � pouco otimista. "Nesse per�odo, no ano passado, j� est�vamos lotados. A essa altura, todo mundo sabe onde vai pular o carnaval, e n�o vai ser em Mariana", disse o recepcionista Sidney Martins.
Desde que a barragem ruiu, a caixa de e-mail do hotel de Tane Oliveira enche de mensagens com cancelamento de reservas ou perguntas de turistas inseguros sobre a real situa��o de Mariana. "As igrejas tamb�m foram interditadas?", questiona uma das mensagens. "Tem como chegar na cidade? Tem �gua para beber?", pergunta outra. De acordo com ela, o que ajudou a segurar as contas no fim do ano foram as di�rias pagas pela Samarco em v�rios hot�is para hospedar os mais de 600 desabrigados por um m�s.
Movimento fraco
Se o setor hoteleiro conseguiu tirar algum proveito do problema, o com�rcio n�o v� o momento com o mesmo otimismo. O restaurante de Celso Neves, voltado para os turistas, mas que tamb�m costumava receber moradores, viu a receita cair 70% nos �ltimos tr�s meses. "Os turistas sumiram, e o pessoal que trabalha na Samarco, e que agora n�o sabe se vai ou n�o ser demitido, tamb�m n�o aparece mais."
O empres�rio adotou medidas para economizar nas contas, mas, se o movimento continuar fraco por mais tr�s meses, as demiss�es no restaurante ser�o inevit�veis.
Apesar da trag�dia, a prefeitura do munic�pio espera que os turistas de Ouro Preto se interessem tamb�m por Mariana e visitem a cidade no carnaval. Mesmo com os cofres desfalcados por causa da interrup��o dos trabalhos de extra��o da Samarco, a cidade prev� festa com blocos e desfiles durante todo o feriado. Os atrativos hist�ricos, por�m, deixam a desejar. A Igreja de S�o Francisco de Assis, do s�culo 18, um dos principais cart�es-postais de Minas que guarda obras de Aleijadinho, est� interditada desde 2012 por risco de desabar. As obras para a recupera��o do monumento ainda nem come�aram.
Para os empres�rios da cidade, se Mariana n�o investir no turismo poder� n�o superar a crise em que se encontra. "Isso aconteceu antes", lembra Neves. Em 1960, a cidade viu quase um ter�o dos moradores migrar para Bras�lia depois do fechamento de uma grande f�brica de tecidos. "Se essa depend�ncia do min�rio n�o acabar, Mariana pode voltar a ficar abandonada."