
Barra Longa e Mariana – Dos 5.660 cart�es de aux�lio ou indeniza��es pagas pela mineradora Samarco pela perda da atividade econ�mica devido ao impacto da avalanche de rejeitos que desceu da Barragem do Fund�o, em Mariana, nada ainda chegou para ajudar os trabalhadores do povoado de Camargos. A trag�dia, que neste dia 5 completa seis meses, arrastou uma ponte sobre o Rio Gualaxo do Norte, que fazia a liga��o da comunidade com Bento Rodrigues. Foi o que bastou para quebrar a �nica pousada do local e o �nico restaurante que funcionava por l�. A ponte n�o estava em um local qualquer: era parte da Estrada Real e percurso tradicional de ciclistas, motociclistas, jipeiros e turistas, que tiveram de mudar de rota. Com isso, a pousada fechou e o restaurante montado pela comerciante Silv�nia Aparecida de Souza Coelho, de 41 anos, n�o serve mais refei��es. Um semestre depois da cat�strofe, se os transtornos ainda s�o grandes para quem entrou nos programas de ajuda da empresa, s�o ainda piores para quem n�o os conseguiu.
O sustento da comerciante de Camargos e dos nove filhos que cria no local sossegado, a quase 18 quil�metros de Mariana, vinha do restaurante que ela montou na frente de sua casa. Al�m dos turistas, servia almo�o e jantar para funcion�rios de uma empresa de reflorestamento, outra de levantamento de fauna e flora e estava negociando a presta��o de servi�o para uma terceira. O baque foi grande, justo quando o neg�cio prosperava. “No dia 6 (dia seguinte ao rompimento da barragem), as empresas j� ligaram cancelando. Os ciclistas e motoqueiros que passavam pela Estrada Real tamb�m mudaram a rota e n�o comem mais aqui. N�o justifica virem aqui, j� que n�o tem mais ponte ligando a estrada”, disse Silv�nia, que encontrou como �nica solu��o para sobreviver a atividade de faxina em resid�ncias na cidade de Mariana. “As empresas eram todas ligadas � Samarco e, com essa trag�dia, acabaram ficando sem o servi�o. Um grupo deles podia at� ter perdido a vida, j� que estavam fazendo pesquisas no meio do rio. A sorte � que tinham viajado no dia do desastre. Mesmo assim, se foram todas as pesquisas e equipamentos que estavam usando”, conta.
Para os desalojados de Bento Rodrigues, a indecis�o sobre o local de reconstru��o do povoado e a necessidade de morar na �rea urbana de Mariana por motivos de trabalho t�m sido um tormento. “As pessoas de Mariana acham que a gente est� se aproveitando da Samarco. Falam que se fosse uma enchente que tivesse destru�do nossas casas, ia ser pior. Mas, se fosse uma enchente, a gente voltava e reconstru�a, um ajudando o outro. Agora a Samarco tomou conta da nossa �rea. Se tivesse entregue o local sem lama, a solidariedade da nossa gente j� tinha servido para levantar ao menos dois c�modos e banheiro para todo mundo”, disse a comerciante Sandra Dometirdes Quint�o, de 43, que era dona de um bar ao lado da Capela de S�o Bento, em Bento Rodrigues.
Para ela e para a filha Ana Am�lia Quint�o Messias, de 3, as recorda��es da trag�dia ainda est�o vivas. “Estava na porta do meu bar recebendo uma encomenda e passou uma mulher de moto dizendo que a barragem tinha estourado. Tive tempo de tirar meu carro e de avisar minha irm�, que n�o acreditou. Achou que era poeira da mineradora. Foi muito r�pido. N�o tive tempo nem de recolher meus documentos. Quando estava no alto, pude ver minha casa, que tinha dois andares, rodopiando no meio da lama at� sumir”, lembra. O pesadelo, para ela, agora � outro: “Acordo de manh� esperando estar em minha casa de Bento e vejo que estou em uma casa alugada no Centro de Mariana. Nunca tive em mente vir para c�. Tudo que conseguia usava para reformar e ampliar minha casa”, lamenta. At� que o novo Bento Rodrigues seja reconstru�do em local que ainda ser� decidido pela maioria em vota��o, Sandra tenta conseguir da Samarco um ponto de com�rcio para abrir uma lanchonete. “Enquanto isso, vendo meus congelados numa barraca na feira”, disse.
Depois da lama, poeira e multa
Em Barra Longa, onde a lama que veio do Rio Gualaxo do Norte ingressou no Rio do Carmo e encobriu a �rea ribeirinha da cidade, 55% dos res�duos depositados foram removidos nestes seis meses. Devido ao tr�fego intenso de m�quinas pesadas e ao vento, boa parte da lama seca virou p�, que est� tomando conta da cidade, fato que culminou em uma nova autua��o do Ibama, lavrada sexta-feira, a 40ª feita pelo �rg�o ambiental federal contra a Samarco devido ao rompimento da barragem. Segundo a empresa, 58 casas foram reformadas na cidade e outras 11, que est�o condenadas pela Defesa Civil, ser�o reconstru�das a partir de julho.
O tsunami de rejeitos destruiu a oficina mec�nica e a casa da fam�lia de Andreza Ferreira Costa, de 27. “A Samarco disse que ia resolver tudo neste m�s: pagaram alguns boletos e o pr�dio vai ser liberado, mas falta nos ajudarem com as ferramentas que foram perdidas. Meu marido teve de mudar o trabalho dele para a porta da casa do pai. Passamos por muitos transtornos”, conta. O comerciante Marco Ant�nio Ferreira Xavier, de 74, se diz ansioso para voltar ao pr�dio onde mora e mant�m um sal�o de festas h� 41 anos, na pra�a central de Barra Longa. “Estava sentado na porta do sal�o, quando come�ou a vir a lama devagar. N�o acreditei que ia entrar no meu pr�dio. Tinha festas marcadas entre 7 de novembro e 2 de janeiro. Da� veio a enchente e levou tudo de mim. Fiquei sem as bebidas, aparelhagem de som, vasilhames. Mas acho que v�o me pagar tudo de volta. � o que espero”, disse.
A liga��o que ficou para tr�s
A Samarco vinha informando ter reformado todas as pontes que foram destru�das pela onda de rejeitos, que seriam sete. Agora, reconhece que a liga��o de Camargos n�o estava na lista. “A recupera��o desta ponte n�o estava prevista para este momento, por raz�es de seguran�a, uma vez que ela n�o deixava nenhuma comunidade isolada, somente permitia o acesso � regi�o de Bento Rodrigues – fechada a pedido das autoridades municipais – e ao distrito de Camargos, que tem outros acessos. A ponte ser� recuperada ap�s estudos e entendimentos com o poder p�blico de Mariana”, informou a empresa, por meio de nota.
O diretor de Projetos e Ecoefic�ncia da mineradora, Maury de Souza J�nior, afirma que os aux�lios est�o sendo dados a todos os que se cadastraram e que h� at� casos de suspeitas de fraude nas inscri��es, como j� denunciou o EM, em 30 de dezembro, casos entregues ao Minist�rio P�blico. “Nosso primeiro desafio foi auxiliar os atingidos de forma que nenhuma pessoa passasse uma noite sequer em abrigos. Depois, conseguimos hot�is e casas alugadas para que quase 100% das pessoas conseguissem passar o Natal em fam�lia. Agora vamos reconstruir Bento Rodrigues em um terreno escolhido pelos atingidos”, disse.
Segundo o diretor, nenhuma decis�o da Samarco � tomada sem reuni�es com a comunidade afetada e com as autoridades, e de uma vota��o dos atingidos. “Se quisessem que n�s limp�ssemos Bento Rodrigues para reconstruir l� a nova cidade, isso seria feito. Mas foi a maioria que decidiu a reconstru��o em outro local.”
Al�m de um sal�rio-m�nimo acrescido de 20% para cada dependente e de uma cesta b�sica para cada fam�lia, a Samarco informa que concordou em adiantar R$ 20 mil a t�tulo de indeniza��o aos atingidos e outros R$ 100 mil para quem perdeu parente no desastre. “Depois, nosso foco foi garantir que a �gua nas capta��es, feitas em 12 cidades diretamente no Rio Doce, fosse restabelecida. Posteriormente, ajudamos as v�rias pessoas que sobrevivem do rio, por seis meses – e esse prazo est� sendo estendido, segundo acordo feito com os estados e a Uni�o”, disse.