(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Tr�s anos ap�s as manifesta��es de 2013, restam processos, inqu�ritos n�o conclu�dos e a dor pela morte de dois jovens

Para Neide Maria Caetano de Oliveira, m�e de um dos jovens mortos, nada mudou desde ent�o. "Adiantou fazer manifesta��o, ir para a rua? O que mudou foi a minha vida".


postado em 15/05/2016 06:00 / atualizado em 15/05/2016 08:18

Neide Maria Caetano de oliveira, mãe de Douglas Henrique de Oliveira Souza, que morreu ao cair do viaduto em BH durante as manifestações de 2013(foto: Alexandre Guszanche/EM/D.A PRESS)
Neide Maria Caetano de oliveira, m�e de Douglas Henrique de Oliveira Souza, que morreu ao cair do viaduto em BH durante as manifesta��es de 2013 (foto: Alexandre Guszanche/EM/D.A PRESS)
Os sorrisos e afagos do filho querido se tornaram lembran�as. No cora��o de m�e, um vazio imenso nunca mais ser� preenchido. O futuro n�o aconteceu e do passado ficar� a eterna interroga��o. Talvez pulso firme teria impedido Douglas Henrique de Oliveira Souza, de 21 anos, de sair de casa naquela quarta-feira, 26 de junho, quando sua vida foi interrompida de forma tr�gica. Ele foi um dos dois jovens que morreram depois de cair do viaduto Jos� Alencar, na Pampulha, em Belo Horizonte, durante as manifesta��es de 2013. Para a dom�stica Neide Maria Caetano de Oliveira, de 46, passados quase tr�s anos, restou a ferida para sempre aberta e nenhuma das mudan�as pelas quais o filho saiu para lutar. Para a Justi�a, o movimento resultou em pelo menos tr�s processos envolvendo os chamados “black blocs”, grupo acusado de atos de vandalismo naquela �poca.

Neide n�o entrou com qualquer processo contra o poder p�blico nem pensa em faz�-lo. Do inqu�rito policial tampouco tem not�cia. O que n�o quer � apenas deixar o filho cair no esquecimento. “N�o vai adiantar, n�o vai trazer meu filho de volta. N�o quero isso para mim. Quando minha ferida come�a a cicatrizar, vou cutucar de novo?”, questiona. “A situa��o do Brasil n�o muda. A �nica coisa que muda s�o nossas vidas perdendo os filhos. A tend�ncia � s� piorar. Mudou alguma coisa? Adiantou fazer manifesta��o, ir para a rua? O que mudou foi a minha vida. Fiquei sem o sorriso, sem o abra�o dele. Minha sensa��o � de que tudo foi em v�o”, diz.

Ela se lembra dos �ltimos momentos com Douglas, quando pediu para ele n�o ir � manifesta��o. Menino trabalhador – acordava �s 5h para pegar servi�o �s 6h e entregava um quarto do sal�rio de R$ 800 � m�e para ajudar em casa – n�o tinha v�cios nem se envolvia com nada il�cito. Sem liga��o com movimentos sociais ou partidos pol�ticos, foi com alguns colegas para a rua protestar contra a situa��o do pa�s por acreditar que aquilo era o certo e necess�rio. “Se eu pedisse com mais energia para ele n�o ir, porque eu n�o queria, ele n�o iria. Por v�rios dias me cobrei por n�o ter sido mais en�rgica”, recorda-se. M�e tamb�m de duas filhas e av� de uma neta, Neide se agarra � fam�lia, que sofre junto com ela, para continuar em frente.

A cena do filho caindo no viaduto a persegue at� hoje. “Quando eu vi aquilo, falei: ‘Senhor, seja feita a sua vontade. Me d� for�as, Pai.’ E continuo contando com a for�a do Pai”, relata. Douglas morreu horas depois, no Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII, na Regi�o Hospitalar da capital. Acordar de madrugada com o rosto do filho � comum para Neide. Acender a luz e v�-lo, sereno, olhando para ela, tamb�m: “Ningu�m separa esse elo e esse amor. Meu filho e os colegas n�o eram pessoas de bagun�a. Foram por um ideal mesmo. Infelizmente, eu falava naquela �poca e repito agora: n�o tem jeito, n�o tem para onde caminhar. O povo vai continuar votando e vai continuar ningu�m fazendo nada. O que mudou? Nada. � o que mais me revolta. Saber que nada mudou, nada muda.”

Al�m de Douglas, outras cinco pessoas ca�ram do Viaduto Jos� Alencar, que faz a liga��o entre as avenidas Ant�nio Carlos e Abrah�o Caram. Ele tentava pular a mureta para alcan�ar a outra pista, mas n�o viu o buraco entre as duas estruturas do elevado. Um desn�vel entre as pistas gera a falsa impress�o de que elas s�o unidas. O jovem Luiz Felipe Aniceto de Almeida, de 22, tamb�m perdeu a vida. Ele caiu no dia 22 de junho, quatro dias antes do acidente de Douglas, e ficou internado em estado grave no Jo�o XXIII por 19 dias.

O inqu�rito que apura as mortes ainda n�o foi conclu�do e est� sob a responsabilidade da 3ª Delegacia Noroeste. De acordo com a assessoria da Pol�cia Civil, todos os ind�cios at� o momento apontam que os �bitos foram causados por acidente. A conclus�o dos documentos aguarda a per�cia de algumas imagens recebidas pelo delegado. No m�s passado, houve pedido de extens�o do prazo, que seria de 30 dias.

APURA��ES

As tens�es e confrontos provocados pelos black blocs tamb�m est�o na mira da Justi�a. Tramita na 7ª Vara Criminal do F�rum Lafayette, em BH, processo com 11 r�us acusados de crimes contra a administra��o p�blica. A �ltima movimenta��o � de 3 de mar�o. A ju�za Ros�ngela de Carvalho Monteiro deferiu pedido da defesa, feito em setembro do ano passado.

Os advogados demandam a expedi��o de of�cio �s emissoras de televis�o para que remetam, na �ntegra, as grava��es � Justi�a; o encaminhamento � per�cia dos instrumentos apreendidos e considerados como armas e do DVD com as imagens das c�meras do Olho Vivo; e envio de of�cio ao Instituto de Criminal�stica requerendo a complementa��o do laudo com esse material. Um desses 11 r�us tem outro processo, sobre restitui��o de materiais apreendidos. No terceiro julgamento relacionado aos suspeitos de atos de vandalismo, j� arquivado, os r�us foram absolvidos.

VINTE DIAS DE TENS�O

As manifesta��es de junho de 2013 come�aram com o objetivo de contestar os aumentos nas tarifas de transporte p�blico e levaram, de in�cio, milhares de pessoas �s ruas de S�o Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Recife (PE). A partir da repress�o policial, os protestos ganharam forte apoio popular, principalmente de estudantes, estendendo-se a outras pautas, como os gastos p�blicos com a Copa do Mundo, a m� qualidade dos servi�os p�blicos, a reforma pol�tica e a corrup��o pol�tica em geral. Em BH, o ponto nevr�lgico foi a Pra�a Sete, no Centro, com a multid�o seguindo pela Avenida Ant�nio Carlos em dire��o  do Mineir�o, na Pampulha, onde estavam sendo realizados os jogos da Copa das Confedera��es. Por causa dos protestos, n�o houve aumento das tarifas de �nibus, mas a mobiliza��o deixou um saldo tr�gico: seis pessoas ca�ram do Viaduto Jos� Alencar e duas delas morreram. Houve atos de vandalismo que provocaram destrui��o, sobretudo na Avenida Ant�nio Carlos.



17 de junho

Nig�ria x Taiti

Em Belo Horizonte, 20 mil pessoas segundo a Pol�cia Militar e 50 mil de acordo com os manifestantes ocupam as ruas, com in�cio de protesto pac�fico na Pra�a Sete e caminhada pela Avenida Ant�nio Carlos, ocupando a pista no sentido Pampulha. Perto do c�mpus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), g�s lacrimog�neo e de efeito moral, tiros de balas de borracha, vandalismo, pelo menos seis pessoas feridas e cinco presas no confronto entre manifestantes e policiais militares. Durante a pancadaria, um jovem de 18 anos cai do Viaduto Jos� Alencar. Ag�ncias banc�rias e lojas s�o alvo de vandalismo.

19 de junho


Os confrontos do primeiro protesto d�o lugar a manifesta��es pac�ficas em BH, numa marcha que se iniciou com estudantes da UFMG, no c�mpus Pampulha. A concentra��o, no acesso da Avenida Ant�nio Carlos, come�ou t�mida, reunindo cerca de 200 jovens no fim da tarde, mas ganhou for�a rumo � Pra�a 7, chegando a juntar quase 10 mil pessoas, numa uni�o e refor�o pela paz.

22 de junho
Jap�o x M�xico

Na capital, v�ndalos atacam policiais militares, interrompem manifesta��o pac�fica e transformam o entorno do Mineir�o num campo de batalha. Aproximadamente 120 mil pessoas v�o �s ruas. A manifesta��o tem in�cio pac�fico na Pra�a Sete, seguindo-se caminhada pela Avenida Ant�nio Carlos. Na esquina com Avenida Abrah�o Caram, perto do est�dio, manifestantes que queriam ultrapassar o per�metro de seguran�a estabelecido pela Fifa fazem barreiras, destroem equipamentos p�blicos, picham pr�dios e atacam concession�rias de ve�culos. Tr�s jovens, entre eles Luiz Felipe Aniceto de Almeida, de 22 anos, caem de uma altura de cerca de cinco metros do Viaduto Jos� de Alencar, na Avenida Ant�nio Carlos. Ele morreu depois de ficar internado em estado grave no Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII por 19 dias.

26 de junho
Brasil x Uruguai

O encontro de um batalh�o de policiais e 50 mil manifestantes explode em uma guerra de pedras, fogo, bombas de efeito moral e balas de borracha. O resultado � a Avenida Ant�nio Carlos arrasada: inc�ndio, saque e destrui��o em concession�rias, bancos, lojas e postos de combust�veis. No total, 24 pessoas s�o detidas e pelo menos 16 ficam feridas. Dois jovens caem do Viaduto Jos� Alencar. Um deles � o auxiliar de log�stica Douglas Henrique de Oliveira Souza, de 21 anos. Ele morre horas depois no Jo�o XXIII. Douglas tentava pular a mureta para alcan�ar a outra pista, mas n�o viu o buraco entre as duas estruturas do elevado. Um desn�vel entre as pistas gera a falsa impress�o de que elas s�o unidas. Na foto, familiares de Douglas prestam homenagem a ele no local da queda.

28 de junho

Cinco quil�metros da LMG-808, que liga Contagem a Esmeraldas, na Grande BH, s�o bloqueados por moradores durante 12 horas em protesto pela falta de �nibus para os bairros Novo Retiro e Monte Sinai. Tamb�m foram fechadas a BR-381 (Betim), BR-040 (Conselheiro Lafaiete), BR-116 (Governador Valadares), MG-010 (Cidade Administrativa), MG-424 (Vespasiano) e a LMG-806 (Ribeir�o das Neves). Em duas semanas, mais de 40 protestos fecharam rodovias que cortam Minas.

29 de junho


Na C�mara Municipal de Belo Horizonte, � votada a PL 417, que reduziria a passagem em R$ 0,10. Sem concordar com a decis�o, v�rios movimentos ocupam a sede do Legislativo municipal pedindo um corte de R$ 0,25.

7 de julho


Nove dias depois, os manifestantes decidem desocupar a C�mara, ap�s an�ncio do prefeito Marcio Lacerda (PSB) de redu��o de R$ 0,15 no pre�o da passagem, mais isen��o do ISSQN. Na sede do Legislativo, o protesto deixou um saldo de picha��es nos banheiros (foto acima), al�m de uma porta blindex e uma vidra�a quebradas.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)