
As hist�rias de f� se repetem. Mas, desta vez, a confian�a de que os desejos se tornar�o realidade � mais forte. H� 365 dias, tr�s sobreviventes de Bento Rodrigues contaram em cartas publicadas no Estado de Minas o desespero enfrentado na tarde de 5 de novembro de 2015, quando a barragem de rejeitos de min�rio da Samarco se rompeu, e revelaram o que desejavam para 2016. Um ano depois, a educadora Eliene Santos, o estudante Fabr�cio Liquesley e o aposentado Jos� Nascimento de Jesus refor�aram os votos de esperan�a pela constru��o do novo povoado.
Eliene, diretora da �nica escola do lugarejo, entrou para a hist�ria como a mulher que salvou mais de 50 estudantes – a maioria de 11 a 16 anos de idade. Quando a Barragem do Fund�o se rompeu, liberando mais de 20 milh�es de toneladas de rejeitos, ela reuniu os alunos e os levou para a parte mais alta de Bento, �nico lugar do vilarejo poupado pela avalanche de lama. Poucas paredes do povoado resistiram ao tsunami de rejeitos.
H� um ano, emocionada, ela escreveu: “Para o ano de 2016, espero e confio em Deus que se concretizar�, que a nossa comunidade seja reerguida para, enfim, darmos continuidade a nossa hist�ria ou, quem sabe, reescrever uma nova hist�ria, n�o marcada por essa trag�dia, mas pelo milagre da vida”. Agora, para 2017, ela espera que os sobreviventes continuem “com a mesma f� e esperan�a”. “A comunidade est� unida. Teremos a constru��o de um novo Bento Rodrigues”.
O projeto do novo vilarejo, j� aprovado por uma comiss�o de moradores, ser� apresentado �s demais fam�lias em 28 de janeiro pr�ximo. A expectativa � que a terraplanagem comece no fim de junho. “A mineradora estima que o futuro Bento fique pronto em 2019, mas temos a esperan�a que poder� ser em 2018”, diz Jos� Nascimento, o Zezinho, presidente da Associa��o dos Moradores.
Homem de modo simples, ele agora vive num apartamento alugado pela mineradora. E usa um espa�o no im�vel para cuidar de uma pequena horta. Na carta redigida h� 12 meses, o aposentado recordou “as amizades com todos os amigos e amigas, principalmente, as crian�as” e lamentou que “s� resta esperar um novo Bento e outro local para ver se vamos nos acostumar”.
Localiza��o
Poucas semanas depois de expressar seu sentimento em papel, a comunidade escolheu o lugar para a constru��o do novo Bento. Fica pr�ximo ao povoado destru�do pela lama, de duas a tr�s l�guas do Centro Hist�rico de Mariana, numa regi�o de montanhas cortada por estrada de ch�o. L� h� bastante �rvores e riacho, do modo que os sobreviventes pleitearam � mineradora.
Fabr�cio, o estudante, n�o v� a hora de morar na futura comunidade. No fim de 2015, ele expressou no papel a tristeza de v�rios alunos que n�o sabiam onde estudariam no ano seguinte: “O rompimento da barragem ficar� para sempre marcado em minha mem�ria e na de todas as v�timas dessa enorme trag�dia. O que eu espero para 2016 � reencontrar todas as pessoas, colegas e continuar estudando, recome�ar tudo”, escreveu.
As crian�as e os adolescentes de Bento estudaram o ano letivo de 2016 em salas cedidas por uma escola em Mariana. Na pr�tica, era como se houvesse uma escola dentro de outra. A partir de mar�o, este sonho de Fabr�cio ser� realizado, pois um im�vel em Mariana ser� readequado para receber apenas os alunos do vilarejo. Entretanto, um alerta escrito no fim de 2015 pelo garoto, hoje com 13 anos, segue atual: ele deseja que “a trag�dia de Mariana seja um exemplo para que o homem cuide mais do planeta”.