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Estado de Minas

No pa�s dos crimes transf�bicos, travestis e transexuais lutam por visibilidade

O Estado de Minas conversa com cinco pessoas que contam como lidam com o preconceito e as batalhas para serem reconhecidas, no dia dedicado � comunidade


postado em 29/01/2017 06:00 / atualizado em 29/01/2017 08:55

“Em todos os meus anivers�rios, eu soprava a vela do bolo e fazia o mesmo pedido: quero ser um menino.” J� aos 3 anos de idade, Nathan Phellipe, de 25, identificado como mulher ao nascer, em virtude de seu sexo biol�gico, percebeu que n�o se encaixava com o g�nero imposto. Agora, reconhecido legalmente como homem, ele mostra com muito orgulho seu novo documento de identidade. No Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais, comemorado hoje, Nathan, Anyky Lima, de 61, Gisella Lima, de 35, e Lucca Najar, de 25, relatam como encaram o preconceito di�rio e as lutas por direitos de reconhecimento perante a lei e a sociedade.

(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS)
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS)
Com uma camisa polo azul, cabelo cortado rente � cabe�a, barba aparada e perfume caprichado, Nathan Phellipe � um cidad�o como outro qualquer – ou ao menos gostaria que assim fosse. Ao contr�rio do que muitas pessoas ainda pensam, g�nero n�o � uma op��o. “Desde muito pequeno sabia o que sou. Lembro-me de quando vi minha m�e trocando o absorvente e perguntei: ‘O que � isso?’ e ela respondeu: ‘Voc� vai saber quando ficar mocinha’. Foi ent�o que pensei e disse: ‘N�o, n�o serei mocinha porque eu sou um menino.”’ E foi dessa maneira ing�nua e, ainda, espont�nea, que a “garotinha”, que chorava durante a noite por n�o pertencer �quele corpo, se afirmou pela primeira vez. Inicia-se, assim, uma nova etapa da vida.

Hoje, formado em design e cursando a segunda gradua��o, o jovem vive com a leveza de se sentir seguro em rela��o � pr�pria identidade, mas ainda enfrenta os preconceitos da sociedade por ser um transexual. Dados divulgados pela ONG Transgender Europe (2016) apontam que o Brasil ocupa o 1º lugar em crimes por transfobia no mundo. Em Belo Horizonte, 96,4% dessa popula��o j� sofreu algum tipo de viol�ncia f�sica, 74,5% suportou amea�as e 46,8% foi estuprada. S�o os n�meros mais recentes da pesquisa “Direitos e viol�ncia na experi�ncia de travestis e transexuais na cidade de Belo Horizonte: Constru��o de um perfil social em di�logo com a popula��o”, do N�cleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os dados foram tabulados em 2015.

“Minha m�e n�o me aceitava. Quando crian�a, ela me batia com uma panela de press�o”, afirma a travesti exemplo de luta e resist�ncia Anyky Lima, de 61, vice-presidente do Centro de Luta pela Livre Orienta��o Sexual de Minas Gerais (Cellos). “� por isso que visibilidade trans � importante, justamente, para mostrar que n�o existe foco para essa popula��o. Meninas e meninos s�o assassinados com requintes de crueldade diariamente e n�s n�o temos nenhum �rg�o de compet�ncia que nos apoie. � como se n�s n�o exist�ssemos”, diz.

Aos 12 anos, Anyky foi expulsa de casa e passou dias na rua. Foi quando conheceu uma pessoa que a levou para Vit�ria (ES). A partir dali, ela se prostituiu at� completar 50 anos. Outra militante da causa trans, Gisella Lima, de 35, explica como o preconceito afeta direitos b�sicos como cidad�, levando pessoas trans a buscar trabalhos informais. “Era adolescente quando fui expulsa da escola por conta da discrimina��o de professores e colegas de turma”, conta Gisella. O estudo da UFMG aponta tamb�m que somente 59,4% das travestis e transexuais de Belo Horizonte completaram o ensino m�dio. “A prostitui��o pode ser uma op��o para pessoas que querem o of�cio, mas n�o pode ser a �nica. � importante ter a garantia do emprego formal”, afirma Gisella. “O lugar de uma pessoa trans � onde ela quiser”, completa.

TRANSI��O O estudante Lucca Najar, de 25, usa o YouTube para levar informa��es sobre preconceito, conv�vio familiar, machismo, nome social e transi��o de g�nero. Lucca conta que tentou se encaixar em v�rias tribos femininas antes de se compreender como homem trans. Com a ajuda da fam�lia, da namorada e da psic�loga, ele se entendeu. Portanto, h� um ano, o jovem come�ou a medica��o com testosterona e registra em v�deo todo o processo: “Se assistir do primeiro ao �ltimo v�deo j� ver� a diferen�a. Olha! J� est� come�ando a nascer uma barbinha”, conta o jovem, alisando os pequenos pelos no rosto.

O processo de transi��o pode variar. Dalcira Ferr�o, psic�loga, conselheira do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-04) e militante LGBT, explica que a grande maioria das pessoas trans tem desejo em realizar processo de hormonioterapia para as modifica��es est�tico-corporais, “mas n�o necessariamente querem se submeter a procedimentos cir�rgicos”.

J� Clara Houri, de 20, decidiu passar pela cirurgia de transgenitaliza��o, imposto a ela por sua condi��o biol�gica. H� dois anos, faz uma ‘vaquinha virtual’ para realizar seu sonho. “Minha genit�lia me incomoda pra fazer coisas di�rias como xixi, tomar banho e ter rela��es sexuais. Eu n�o consigo nem pensar nela”, desabafa Clara. Para o procedimento, a jovem precisa de R$ 38 mil. No Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais, diversas atividades ser�o realizadas na capital mineira para repercutir o tema. Hoje, ocorrer� �s 14h a concentra��o para a “Marcha em luto pelo direito de viver – travesti e trans”, na Pra�a Sete, no Centro de BH. J� na ter�a-feira, ser� inaugurado o “Cine Diversidade”, onde ser�o exibidos filmes relacionados a temas do universo LGBT, no MIS. A programa��o completa pode ser conferida no em.com.br.

Voc� sabe as diferen�as?
G�NERO, SEXUALIDADE E SEXO BIOL�GICO
Ao contr�rio do que muitas pessoas pensam, g�nero � diferente de orienta��o sexual. Dalcira Ferr�o, psic�loga, conselheira do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-04) e militante LGBT, esclarece todos esses pontos.

Cisg�nero – Toda pessoa que se identifica com as caracter�sticas do g�nero designado a ela no nascimento.

Transg�nero – Toda pessoa que n�o se identifica com as caracter�sticas do g�nero designado a ela no nascimento. Nesse caso, podemos dividir entre o grupo denominado “dimens�o identit�ria” (travesti, mulher transexual e homem transexual) e “dimens�o funcional” (crossdressers, drag queens, drag kings e transformistas).

Identidade n�o bin�ria ou Genderqueer – Termo “guarda-chuva” para identidades de g�nero que n�o sejam exclusivamente homem nem mulher, estando, portanto, fora do binarismo de g�nero masculino e feminino e da cisnormatividade.

� importante ressaltar que o g�nero � diferente de orienta��o sexual, podendo se comunicar, mas um aspecto n�o necessariamente depende ou decorre do outro. Em outras palavras: “pessoas transg�nero s�o como as cisg�nero, podem ter qualquer orienta��o sexual – nem todo homem e mulher � 'naturalmente' cisg�nero e/ou heterossexual”, explica a psic�loga Dalcira Ferr�o.

Nome social O governador Fernando Pimentel garantiu, por meio de decreto publicado neste s�bado no Di�rio Oficial Minas Gerais, que em todos os segmentos da administra��o p�blica estadual, travestis e transexuais poder�o utilizar o nome social e ter�o reconhecida a sua identidade de g�nero.Organiza��es e coletivos voltados � prote��o e luta por direitos LGBTs, em especial os que visam � plena cidadania da popula��o de travestis, transexuais e transg�neros no estado, enviaram na �ltima semana a carta ao governador solicitando a assinatura de um decreto. O nome social refere-se � forma como a pessoa travesti ou transexual se identifica e � socialmente reconhecida. O intuito � garantir o direito de toda pessoa � livre express�o de sua identidade de g�nero, de forma que o nome de registro ainda n�o retificado n�o possa ser indutor de constrangimentos e preconceitos.


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