
Governador Valadares – O leve trepidar da cadeira de rodas na curta travessia da Rua Te�filo Otoni, entre o Pronto-Socorro de Governador Valadares e o Centro de Atendimento em Arboviroses, � suficiente para infligir intenso sofrimento ao artista Diones Cl�udio Kleiter, de 37 anos. Nesse curto espa�o de tempo, o homem se contorce em espasmos , que d�o a impress�o de ser aquela uma cadeira de tortura. At� a fisionomia dele muda a cada metro rodado. A express�o de Diones � o retrato da dor que pode afligir por at� dois anos os doentes cr�nicos da febre chikungunya, um mal que se espalhou em Governador Valadares como em nenhum outro lugar de Minas. Basta v�-los para compreender por que a febre foi batizada com o termo que significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanz�nia, onde a doen�a surgiu na d�cada de 1950.
Dos 13.342 registros contabilizados pela Secretaria de Estado da Sa�de, 8.976 est�o na cidade do Leste de Minas. A incid�ncia � de um caso para cada grupo de 3.334,57 habitantes – Valadares tem cerca de 278 mil –, o que torna dif�cil encontrar um valadarense que n�o conhe�a algu�m que sofreu com a doen�a, sendo afastado do trabalho, da fam�lia e de seus afazeres. “Comecei a sentir a dor h� 4 meses. Desta vez j� tem tr�s dias que sinto dores musculares e nas cartilagens. Minhas juntas parecem ser de gelatina. As cartilagens parecem que v�o se descolar dos ossos. Meu p� parece um saco de ossos, n�o tem firmeza. Me d� uma tremedeira sem fim, uma dor no fundo dos olhos, de cabe�a e febre alta”, conta Diones.
O artista � um dos pacientes que lotam o centro, montado pela prefeitura para dar assist�ncia qualificada aos doentes da fase aguda da doen�a. Contudo, as reca�das s�o t�o devastadoras que muitos pacientes cr�nicos voltam at� de ambul�ncia. Segundo a Funda��o Oswaldo Cruz, a fase aguda pode durar algumas semanas, enquanto a cr�nica se estende de seis meses a dois anos. Entre os sintomas mais comuns est�o a febre alta, acompanhada de artrite, v�mito, diarreia, comprometimento das articula��es e at� da coluna vertebral. “Tenho quatro parafusos no tornozelo. A dor de ter quebrado o tornozelo e de ter os parafusos � muito menor do que a da chikungunya”, afirma Diones.
Como ele, v�rios pacientes chegam ao centro se contorcendo em dores. Alguns n�o aguentam nem sequer o toque dos enfermeiros, sendo o processo de deitar nos leitos ou macas um supl�cio. L�, os pacientes s�o hidratados e medidados para conter a dor e a inflama��o das articula��es.
A prefeitura afirma que o grande n�mero de casos da febre chikungunya em Governador Valadares se deve a falhas nas a��es de controle aos vetores da doen�a em anos passados. A doen�a � transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus e o controle � o mesmo feito para a dengue, com foco na erradica��o de criat�rios do inseto. A prolifera��o se d� em locais de �gua limpa e parada. Um dos mais afetados � a ilha fluvial do Rio Doce, um local que sustenta muitos empo�amentos de �gua nas pedras das margens e tamb�m no lixo que � descartado de forma clandestina.

Percorrendo as margens do Rio Doce, a reportagem encontrou v�rios pontos de empo�amento de �gua pr�ximos a �reas habitadas e em todos havia larvas que aparentavam ser do Aedes aegypti. “Aqui na ilha � um inferno de mosquitos. Eles s�o ferozes”, considera Diones, que � morador daquela localidade.
Deitado no leito do centro depois de muito sofrimento, o artista desabafou, emocionado. “Por causa dessas dores n�o consigo fazer nada. N�o consigo ir ao banheiro sozinho, n�o posso nem tomar banho. J� estou h� tr�s dias sem tomar banho, me sentindo sujo, fedido. E eu n�o sou sozinho n�o, mas s� de encostar em mim j� d�i. Tenho uma esposa e se ela encosta em mim d�i tudo. � complicado demais amar uma pessoa e n�o poder encostar nela”.
De acordo com a Prefeitura de Governador Valadares, o munic�pio potencializou as a��es da Aten��o B�sica, por meio das equipes de Sa�de da Fam�lia; criou o Centro de Atendimento em Arboviroses, para facilitar ao m�ximo o acesso aos usu�rios 15 horas por dia, disponibilizando atendimento m�dico, de enfermagem e farmac�utico aos pacientes. Foi aberto ainda um servi�o de Reabilita��o Multiprofissional em Arbovirose, desenvolvido especialmente para pacientes de febre chikungunya e zika v�rus.
“A��es de controle vetorial est�o sendo intensificadas em toda a cidade, especialmente nos bairros onde a infesta��o � mais alta. S�o utilizados o fumac� e a��es de mobiliza��o social como a “Opera��o Ca�a ao Mosquito”, que re�ne cerca de 200 servidores para eliminar poss�veis criadouros e para conscientiza��o da popula��o”, informou a prefeitura.
Chikungunya
O que �?
� uma doen�a infecciosa febril, causada pelo v�rus chikungunya (CHIKV)
Transmiss�o
Pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus
O que significa Chikungunya?
Significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanz�nia. Refere-se � apar�ncia curvada dos pacientes, entre 1952 e 1953
>> A doen�a pode comprometer todas as articula��es, sejam pequenas ou grandes, podendo acometer a coluna vertebral tamb�m. � importante destacar que as articula��es previamente danificadas t�m maior chance de dano viral
Transmiss�o
Pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus
Dura��o
A fase aguda dura de alguns dias a algumas semanas. O problema � a fase cr�nica, que come�a na sexta semana, com sintomas que envolvem m�sculos e articula��es como artrite. Os sintomas podem durar seis meses, um ano, dois ou mais
Tratamento
O tratamento da fase aguda � feito com controle dos sintomas. A partir da fase cr�nica h� tr�s alternativas gerais: anti-inflamat�rios n�o hormonais (AINH), corticoides ou metotrexato (medicamento utilizado no tratamento de artrites reumatoides)
Preven��o
Combater o mosquito Aedes aegypti. Usar repelentes e roupas compridas. Um detalhe de excepcional import�ncia, que � esquecido com frequ�ncia, � passar repelente em quem est� doente para que n�o contamine mais mosquitos