Seis ambientes no Passo das Artes, a galeria do Col�gio Loyola, no Bairro Cidade Jardim, contam a origem, trajet�ria e desdobramentos da Tropic�lia, nascida no fim da d�cada de 1960, em plena ditadura militar. O in�cio � uma homenagem a Gilberto Gil, um dos expoentes do movimento e aniversariante da semana. A influ�ncia do Manifesto Antropof�gico, escrito por Oswald de Andrade, em 1922, a influ�ncia brasileira nos Estados Unidos na figura de Carmen Miranda, a luta e a liberdade de express�o s�o alguns dos seis ambientes da mostra.
Ao longo da galeria, Caetano Veloso e Gal Costa se encontram com Mutantes, Tom Z� e Nara Le�o. Um espelho lembra os desaparecidos pol�ticos nos anos de chumbo. Atr�s de cada painel, pinturas feitas pelos alunos do 9º ano do ensino fundamental remetem � pl�stica da Tropic�lia. A exposi��o � parte da Semana de Arte, Literatura e Cultura, que ocorre todo ano, no fim do primeiro semestre, nos espa�os de arte do col�gio. Na literatura, a homenageada � a escritora Ruth Rocha.
Paralelamente, o p�blico pode ver tamb�m a exposi��o Ra�zes da luta dos trabalhadores brasileiros. S�o 37 desenhos feitos por alunos do col�gio a carv�o e giz. Eles representam v�rios momentos de transforma��o do trabalho no Brasil. Nas imagens, alus�es a greves, igualdade de direitos, jornada de trabalho de 8 horas e proibi��o de trabalho infantil.
Curadora e professora de artes do Loyola, Amanda Lopes diz que a exposi��o n�o tem a pretens�o de esgotar o assunto, mas de fazer um recorte de alguns dos principais acontecimentos que perpassam a m�sica, as artes visuais, o teatro e o cinema, sem uma preocupa��o did�tica formal. “A inten��o aqui � apresentar elementos que possam provocar o espectador a estabelecer diversas rela��es. Espera-se que a experi�ncia possa enriquecer as discuss�es sobre esse importante movimento cultural que, at� hoje, influencia as produ��es art�sticas brasileiras”, afirma.
Cada ambiente tem uma trilha sonora, que pode ser ouvida a partir de caixas de som instaladas especialmente para a exposi��o em tubos presos no teto. Os visitantes podem ainda escutar as listas em seus pr�prios smartphones ou tablets – elas s�o acessadas por meio do site do Col�gio Loyola pela leitura de QR codes em cada espa�o. Entre os estudantes do 9º ano, o tema Tropic�lia, movimento sobre o qual muitos j� tinham ouvido falar, mas n�o sabiam bem do que se tratava, � sin�nimo de mem�ria. “Demoramos muito para conquistar liberdade em rela��o � pintura, desenhos, arte. E temos perdido um pouco disso, porque esquecemos que fomos reprimidos na ditadura. Essa retomada cultural � importante para relembrar o tanto que conquistar essa liberdade foi fundamental”, diz a estudante Lorena do Vale Soares, de 13 anos.
“Hoje, o �nico estilo de m�sica cr�tico a governo, religi�o e ra�a � o rap. Faz analogias por meio das rimas e deixa subentendido, principalmente as quest�es sociais. Outras m�sicas t�m muito pouco a ver com isso. Os artistas cantam o que o p�blico quer ouvir”, relata o aluno Henrique Fran�a Martello, de 16. Para Laura Corr�a da Costa Thibau, de 15, o contexto atual diferente, pautado pela democracia, pode contribuir para esse cen�rio: “As pessoas esquecem um pouco desse objetivo de den�ncia que a m�sica tamb�m tem e as tem�ticas ficam mais livres. Os artistas n�o aproveitam a m�sica para falar o que sentem”. A colega Camila Cardoso Souza, de 14, se encantou pelo tema, mas tamb�m pelos cartazes retratando a hist�ria do trabalho no Brasil – essa conversa com a Tropic�lia, j� que os dois t�m um ponto em comum: as lutas. “Esses trabalhadores lutaram pelos direitos. N�o fossem eles, n�o ter�amos nada. � preciso pensar que as pessoas custaram para conseguir isso.”
Servi�o
Exposi��o Tropic�lia 50 anos
At� 12 de julho
Local: Passo das Artes, no
Col�gio Loyola (Avenida do Contorno, 7.919, Bairro Cidade Jardim).
Hor�rios: de segunda a sexta-feira, das 8h �s 9h30, 10h30 �s 12h, 14h �s 15h30 e 16h30 �s 18h.
Entrada franca.
LIVRE EXPERIMENTA��O A Tropic�lia nasceu de maneira espont�nea, quando Caetano Veloso percebeu que no teatro do Grupo Oficina, no cinema de Glauber Rocha e na arte de H�lio Oiticica havia algo em comum: a livre experimenta��o est�tica sem censura em busca de uma representa��o da cultura brasileira. A ordem era a contracultura em plena ditadura militar. As ra�zes do pensamento tropicalista est�o no Manifesto Antropof�gico de Oswald de Andrade, redigido em 1928. A ideia de uma arte brasileira formada pela “devora��o” cultural de elementos populares e eruditos, por�m, com um car�ter mais cr�tico, carregado de met�foras e ironias.