
Apesar disso, nas �ltimas semanas, o reservat�rio registra, diariamente, deflu�ncia (quantidade de �gua liberada pela barragem) em ritmo mais acelerado que aflu�ncia (quantidade que chega). Para se ter ideia, na �ltima sexta-feira, esses indicadores foram de 276 metros por segundo e 41 metros por segundo, respectivamente. O principal motivo est� no sert�o da Bahia: Tr�s Marias precisa liberar mais �gua do que recebe para evitar que a usina de Sobradinho, a l�guas de dist�ncia, entre em colapso por causa da falta de chuva naquele semi�rido. Por isso, o volume �til da represa mineira est� em 20,6%.
Resultado: h� mudan�a na paisagem, despontando bancos de areia sobretudo na parte tradicionalmente mais rasa do reservat�rio, e interfer�ncia na economia da regi�o. A quantidade de turistas diminuiu, interferindo no lucro de comerciantes. “Desde o in�cio do ano, calculo que o movimento seja cerca de 40% menor”, lamentou dona Sandra Leal dos Santos, de 53, a mais antiga dona de barracas na principal praia de Tr�s Marias.
“Estamos aqui h� tr�s d�cadas. Temos de torcer para chegar mais chuva para as coisas n�o piorarem. H� alguns anos, o volume d’�gua chegava mais perto das barracas. Hoje, est� bem distante. Voc� viu a embarca��o encalhada na ilha atr�s daquele monte?”, questionou Djalma Jos�, de 57, marido da comerciante. A embarca��o a que ele se referiu pertence � Companhia de Desenvolvimento do Vale do S�o Francisco (Codevasf). Por causa da longa estiagem, que teve seu �pice em 2014, o transporte encalhou.
O criador de til�pias Marcos Aur�lio de Lima, de 46, alerta que a deflu�ncia maior que a aflu�ncia prejudica criadores de til�pias na represa. O problema afeta mais aqueles que t�m gaiolas nas partes menos profundas, como em Felixl�ndia. “O baixo volume muda a temperatura da �gua, o que reduz a oxigena��o para os peixes. Eles morrem”, explicou Sebasti�o Aparecido Pires, de 54. Por causa do n�vel baixo da represa, ele decidiu encerrar a atividade. “Os peixes n�o est�o crescendo como deveriam por essas bandas. � preju�zo. Eu parei. Para voc� ter ideia do quanto o n�vel da �gua caiu, o normal � (o leito) cobrir todas essas galhas que hoje est�o � nossa vista.”
DIFICULDADES A situa��o n�o prejudica apenas quem ganha a vida com peixes em cativeiro. Pescadores lamentam a dificuldade de capturar algumas esp�cies no lago. “Entre elas, o surubim, que tem bom valor de mercado. � uma esp�cie que vive em �guas profundas. Como a represa est� com menos �gua, fica dif�cil encontr�-lo”, reclamou Sebasti�o de Jesus Souza, de 63.
Mas n�o � s� a estiagem na regi�o e a necessidade de socorro a Sobradinho que levaram o reservat�rio mineiro � atual situa��o. O ser humano tem grande parcela de culpa, destaca seu Norberto, o pescador mais experiente de Tr�s Marias. “As florestas de eucaliptos ajudam a secar as nascentes dos afluentes do Velho Chico. E o desmatamento interfere nas ‘veinhas’ (c�rregos e riachos)”, alerta. Quem viaja de BH � represa passa em pontes sobre ribeir�es que, h� alguns anos, eram caudalosos. Hoje, est�o praticamente secos. � o caso do Extrema Grande, limite natural entre os territ�rios de Tr�s Marias e Felixl�ndia. Em situa��o semelhante, o Riacho Frio, o Rio do Boi e o C�rrego Olhos d’�gua.
Procurada para esclarecer quando a situa��o em Tr�s Marias dever� retornar � normalidade, a Cemig informou que “a gest�o da usina � compartilhada com o Operador Nacional do Sistema (ONS) e envolve outros reservat�rios na bacia do S�o Francisco”. Por sua vez, o ONS comunicou que “� preciso esperar o pr�ximo per�odo �mido, que come�a normalmente no fim de novembro e vai at� abril, para se ter uma ideia de como ficar� a situa��o do reservat�rio da usina”.