O restauro da Igreja de Nossa Senhora das Dores trouxe de volta pinturas escondidas por d�cadas sob v�rias camadas de tinta no forro e nas paredes – em alguns pontos, at� 10, conforme mostrou o Estado de Minas em mat�ria publicada em 30 de maio. A maior descoberta est� logo na entrada, no forro do �trio, onde a equipe encarregada do servi�o encontrou guirlandas em policromia tampadas pelo branco, que deixava � mostra apenas a cena do calv�rio, correspondente a 10% do trabalho original. A obra foi reivindicada durante anos pela comunidade e custeada integralmente com recursos do Fundo Municipal do Patrim�nio (Funpatri), segundo o secret�rio municipal de Cultura e Patrim�nio, Zaqueu Astoni Moreira. “Nesta reinaugura��o, a igreja ganhou um grande presente especial, que ser� incorporado ao seu patrim�nio e ser� a logomarca. O pintor Carlos Bracher, que j� teve uma resid�ncia em frente do templo, fez uma bela aquarela da fachada”, disse Zaqueu.
Entre as vozes que se levantaram pedindo o restauro, est� Rodrigo da Concei��o Gomes, presidente da Associa��o dos Amigos de Cachoeira do Campo (Amic) e coordenador da comunidade de Nossa Senhora das Dores, o tecn�logo em conserva��o e restaura��o, que sempre alertou para o risco de perda do templo. Para ele, a interven��o significa “uma grande vit�ria dos moradores, que pediram provid�ncia �s autoridades e fizeram novena”.
EM DOIS TEMPOS Tombada pelo munic�pio em novembro de 2010 e alvo de reparos no telhado no ano seguinte, o templo ganhou um projeto arquitet�nico para recupera��o e um pedido, dos moradores, ao Conselho Municipal do Patrim�nio Cultural (Compatri) para coloc�-lo em pr�tica. Coordenadora do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) Cidades Hist�rias pela Prefeitura de Ouro Preto, a arquiteta D�bora Queiroz explicou que a interven��o do templo foi definida como priorit�ria e dividida em dois tempos. Na primeira fase, foram executados os servi�os de recupera��o do piso, paredes e esquadrias, implanta��o de manta de prote��o sob a cobertura, troca de telhas, preenchimento de trincas e drenagem no entorno. Al�m desse pacote de obras civis, a equipe cuidou da parte el�trica, sonoriza��o e Sistema de Prote��o contra Descargas Atmosf�ricas (SPDA).
A segunda fase compreendeu os elementos art�sticos e tamb�m com recursos do Funpatri. Outras surpresas encantaram os restauradores, como o verde forte presente no altar da capela-mor e achado sob oito camadas de tinta de cinco cores diferentes. J� nas paredes, mais descobertas: debaixo de tinta, foi localizado um barrado com pinturas marmorizadas, no tom salm�o, e datadas de 1870-1880, creditadas a italianos que moraram na regi�o no s�culo 19. Tamb�m fi�is �s cores que as prospec��es mostraram, os especialistas decidiram por um tom bege para a parede sobre o barrado. A obra t�o ansiosamente aguardada pela comunidade de Cachoeira do Campo n�o parou de surpreender. Perto do forro da nave, a quatro metros de altura, foram recuperados o forro com narrativa b�blica.
HIST�RIA Constru�da em 1761 para as cerim�nias da semana santa, a Igreja de Nossa Senhora das Dores tem no forro o maior destaque. O que chama logo a aten��o de quem entra � a ornamenta��o com os 15 pain�is da nave, de inspira��o medieval, representando a Paix�o de Cristo, do horto das oliveiras � ressurrei��o.
Muitas hist�rias e lendas rondam a hist�ria da igreja. A imagem da santa de roca, conforme a tradi��o oral, chegou a Cachoeira do Campo em meados do s�culo 18 portando v�rias joias, que desapareceram. “Contam que, sob os ausp�cios de uma mulher chamada Maria Dolorosa, a imagem percorria as casas do distrito angariando fundos para a constru��o da igreja. Outra antiga lenda afirma que os inconfidentes se reuniam no interior do templo para, do alto de sua torre esquerda, espionar o Visconde de Barbacena em seu pal�cio.