Buen�polis, Corinto, Diamantina e Santo Hip�lito – O esfor�o dos vaqueiros e das tropas de burros do Norte de Minas para abastecer a regi�o de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, durou at� o in�cio do s�culo 20, quando a constru��o de trilhos parecia ter levado o progresso finalmente para as montanhas da Serra do Espinha�o. Foi uma revolu��o para a �poca, sendo que o ramal, em Corinto, na Regi�o Central, acabaria conhecido como o “grande entroncamento ferrovi�rio”.
De l�, os trilhos miravam a Serra do Espinha�o, levando quatro anos para vencer os montes antes percorridos pelos animais de carga. De uma altitude de 607 metros acima do n�vel do mar, na esta��o de Corinto, as linhas de metal e madeira sobre pedras se projetariam por 147 quil�metros e se elevariam at� uma altitude de 1.261 metros, na esta��o final de Diamantina. O gosto de progresso durou pouco, at� a d�cada de 1970, quando os trilhos foram desativados.
Hoje, nas montanhas e desfiladeiros por onde a maria-fuma�a passava, n�o restam mais sequer vest�gios dos trilhos e dos dormentes que trafegavam com g�neros e passageiros. Sobraram caminhos de pedras por onde corria o leito da ferrovia e as pontes met�licas que transpunham abismos e cursos d'�gua. “A constru��o da estrada de ferro solucionou por muito tempo as quest�es de abastecimento da regi�o de Diamantina e o escoamento da produ��o do Norte de Minas e tamb�m da regi�o da capital.
O ex-presidente Juscelino Kubitschek, que era diamantinense, chegou a fazer essa viagem diversas vezes e destacava as paisagens bel�ssimas pelas montanhas da Serra do Espinha�o”, destaca o arque�logo do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) Reginaldo Barcelos. Atualmente, o grande interesse nesse percurso descrito pelas marias-fuma�as � hist�rico. “Os vest�gios da ferrovia s�o um grande s�tio arqueol�gico linear. Uma vez que por ali trafegaram pessoas e houve um trabalho empregado com t�cnicas de �poca.
Ainda hoje, se erguem sobre v�rios trechos os antigos pontilh�es de met�licos importados da Fran�a, da Inglaterra e dos Estados Unidos e que t�m valor hist�rico”, afirma o arque�logo do Iphan. Um dos pontilh�es, constru�do em duas se��es sobre uma ilha do Rio das Velhas entre Corinto e Santo Hip�lito, ainda exibe a plaqueta de sua constru��o, ocorrida em 1875 na cidade de Pittsburg, nos Estados Unidos.
"Foi uma daquelas lembran�as ruins que a gente tem na vida. Debaixo de chuva, num perigo danado. Uma �poca de muita amargura e que a gente corria perigo nessa travessia"
Ant�nio Wilson da Silva, funcion�rio p�blico
Essa ponte perdeu seus trilhos e foi transformada numa travessia rodovi�ria da MG-220. E uma travessia ruim, que de t�o estreita n�o permite que dois ve�culos atravessem simultaneamente em sentidos opostos. Para o funcion�rio p�blico Ant�nio Wilson da Silva, de 67 anos, cruzar a ponte em sua bicicleta � relembrar intensamente o passado. Ele se recorda de quando a filha pequena morreu e para ser enterrada em Corinto, do outro lado da ponte, foi preciso o cortejo atravessar a ponte ainda de trilhos, na maior dificuldade. “Foi uma daquelas lembran�as ruins que a gente tem na vida. Debaixo de chuva, num perigo danado. Uma �poca de muita amargura e que a gente corria perigo nessa travessia”, lembra.
O percurso pelas montanhas �ngremes e vales gerou tamb�m lendas. Contava-se, por exemplo, que um dos trens de passageiros despencou do alto da montanha e ficou destro�ado no fundo de uma ravina. “Quando a gente ia de trem para Diamantina e passava pela ponte onde diziam que o trem caiu, todos os passageiros do lado direito levantavam e os do lado esquerdo iam para o lado direito para tentar ver o profundo da garganta e ver se conseguiam enxergar o trem l� embaixo”, lembra Ant�nio Wilson.

Essa atitude gerava p�nico em certos passageiros dentro do trem. “Era um momento dif�cil. Porque tinha gente que gritava para as pessoas voltarem para o seu lado do trem com medo de o contrapeso fazer o trem capotar justamente na beira daquele abismo”, conta o funcion�rio p�blico. A inaugura��o da estada de ferro, pela Ferrovia Vit�ria a Minas, se deu em 1912. Em 1923, a propriedade do meio de transporte ferrovi�rio foi transferido para a Estrada de Ferro Central do Brasil.
O transporte de passageiros e de cargas transcorreu at� 1970, mas a desativa��o oficial, pela Rede Ferrovi�ria Federal Sociedade An�nima (RFFSA), ocorreu apenas em 1994. Consta, contudo, que �quela altura os trilhos e dormentes dessa linha j� tinham sido roubados.