Em busca de informa��o sobre v�timas, moradores de Brumadinho organizaram-se por WhatsApp para compartilhar novidades, perguntar por entes queridos e comentar as a��es de resgate. Autorizado por administradores, a reportagem acompanhou o grupo "Desaparecidos Brumadinho", com mais de 200 membros, desde o s�bado, 26. Nas mensagens, os participantes acabaram escrevendo uma esp�cie de di�rio da trag�dia.
S�bado, 26 de janeiro. No dia seguinte � trag�dia, bombeiros faziam sobrevoo de helic�pteros e buscas por terra. Foram localizadas 366, al�m de 34 mortos e 254 desaparecidos. "Gente, que ang�stia. Nunca pensei que passar�amos por isto", escreveu uma mo�a �s 19h17, quando o sol de Brumadinho ia se pondo. As fam�lias sabiam que isso significava a suspens�o das buscas at� a manh� seguinte. "Espero que todos apare�am", outro comentou. "� muito triste ficar sem noticia." Entre as mensagens, por�m, havia quem demonstrasse �nimo. "Enquanto n�o h� corpo, ainda h� esperan�a", escreveram. "Deus, vamos ter f�."
Domingo, 27 de janeiro. "Que barulho � esse h� um tempo? Parece alarme, sei l�", dizia uma mensagem, antes das 6 horas. Era o in�cio de mais um pesadelo: com risco de desabamento da barragem 6, foi preciso evacuar �reas da cidade e suspender buscas. No grupo, proliferaram not�cias falsas: "ALERTA A BARRAGEM ROMPEU".
"M�es, parentes e amigos que sofrem sem not�cia e, para piorar, n�o podem esperar nem em suas casas porque moram perto de rio", comentou uma mulher. �s 11 horas, fotos e v�deos do ex�rcito de Israel animaram o grupo, mesmo ap�s a informa��o de que a ajuda s� desembarcaria � noite. "Que Deus use eles como instrumento", dizia um coment�rio, seguido de emojis de m�os batendo palma. O clima mudou pouco depois. O n�mero de mortos chegou a 58; os desaparecidos, a 305. J� n�o se falava mais em resgates. "Cada dia a mais, a ang�stia aumenta", comentaram. "Ontem, minha prima e afilhada de cora��o estavam arrumando a casa dela para receber o pai", contou uma participante. "Ela tem certeza que ele volta. Tem 11 anos."
Segunda, 28 de janeiro. �s 10h35, veio a ideia que acabou monopolizando o dia: "Algu�m sabe se est�o fazendo buscas nas matas?". Em pouco tempo, muitos se voluntariaram. At� foi criado um novo grupo s� para os interessados. "� um espa�o muito grande para poucos bombeiros. Devemos ir todos." � noite, em coletiva, os Bombeiros descartaram a hip�tese de ter sobreviventes na mata. Os mortos, ao todo, eram 84.
Ter�a, 29 de janeiro. O grupo passou a madrugada calado. "Francis era meu amigo e foi enterrado hoje, caix�o fechado", dizia uma das �ltimas mensagens, ainda do dia anterior. Nem a pris�o de engenheiros que atestaram a seguran�a da barragem quebrou o sil�ncio do grupo. � tarde, uma not�cia sobre a morte de uma vaca que havia ficado atolada mobilizou alguns. Outro reclamou: "T� pouco me lixando para vaca, quero encontrar meu irm�o".
Quarta, 30 de janeiro. "Minha esperan�a � de que encontrem nossos parentes e amigos para que tenham um sepultamento digno", dizia uma mensagem. Ao longo do dia, muitos perguntavam por atualiza��o de lista de mortos, que s� foi divulgada �s 22 horas. "Pena que n�o saiu o nome do meu primo."
Quinta, 31 de janeiro. As mensagens ficaram espa�adas e muitos, sem ter mais por quem precisar de informa��o, deixaram o grupo. �s 23h30, algu�m quis prestar um servi�o e publicou um passo a passo: "Como retirar certid�o de �bito".
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.