(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

'Pe�am a Deus', diz v�tima de Mariana aos afetados em Brumadinho

Ainda n�o recuperados, atingidos pela cat�strofe do Fund�o revivem drama ao ver cenas da Mina C�rrego do Feij�o. 'Tenham tranquilidade. Agora, s� Deus', diz um deles �s v�timas


postado em 10/02/2019 06:00 / atualizado em 10/02/2019 07:56

Paisagem de Paracatu de Baixo guarda a lembrança do terror vivido pelos moradores há três anos, quando estourou a Barragem do Fundão, da Samarco, em Mariana, matando 19 pessoas (foto: Fotos: Túlio Santos/EM/D.A Press )
Paisagem de Paracatu de Baixo guarda a lembran�a do terror vivido pelos moradores h� tr�s anos, quando estourou a Barragem do Fund�o, da Samarco, em Mariana, matando 19 pessoas (foto: Fotos: T�lio Santos/EM/D.A Press )


“Coitados. Perderam a vida sem saber por qu�. A minha maior dificuldade hoje � a solid�o. N�o tenho mais perto de mim os meus amigos e a minha fam�lia. Foram embora e eu fiquei.” O lamento pelas v�timas de Brumadinho, seguido por um desabafo devido � sua pr�pria situa��o, � do produtor rural de Paracatu de Baixo Divino dos Passos Isa�as, de 68 anos. Um sentimento comum entre as v�timas do rompimento da Barragem do Fund�o, em Mariana, que se consternam e tentam exprimir, por meio sua experi�ncia traum�tica, uma forma de encorajar quem foi atingido pela ruptura da barragem da Mina do C�rrego do Feij�o, na Grande BH.

Hist�rias que mostram ter sido o terror inicial de testemunhar toda a �rea de sua comunidade ser engolida por uma avalanche mortal substitu�do por perdas, separa��es e a completa demoli��o do seu estilo de vida. Assim, muitas das quase 500 mil pessoas atingidas pelo rompimento da Barragem do Fund�o, em Mariana, resumem sua vida. Uma amostra do que ainda aguarda atingidos e familiares que perderam entes e amigos em Brumadinho, na devasta��o provocada pela Vale, em C�rrego do Feij�o, tr�s anos depois do desastre da Samarco, em Mariana. Sem indeniza��es pagas ou nem sequer reconhecimento dos seus traumas e perdas, muita gente em Mariana sobrevive �s custas do pr�prio esfor�o enfrentando sozinha os pr�prios fantasmas, como mostra a reportagem do Estado de Minas, que esteve no munic�pio e no povoado de Paracatu de Baixo.

O escrit�rio do advogado Fl�vio de Almeida Silva representa mais de 100 pessoas em Mariana, a maioria atingidos diretamente pela lama. Segundo o advogado, ao longo do tempo, os atingidos desenvolvem s�rios problemas de sa�de f�sica e mental. “O dano psicol�gico � incomensur�vel. � comum o aparecimento de ansiedade, ins�nia, estresse p�s-traum�tico. H� pessoas com tratamento psicol�gico, mas tamb�m muita gente simples que precisaria desse tratamento, mas nem sequer desconfia disso e a gente v� que est� descompensada”, afirma.

Todos os dias, Divino Isa�as precisa carregar sobre a sua cabe�a um saco de 30 quilos de ra��o para o gado, num trajeto de 40 minutos at� sua propriedade. Antes, cuidar dos animais era mais simples. Tarefa que resolvia na fazenda, com os parentes. Hoje ele precisa de fazer sozinho, tendo de se deslocar, porque n�o h� como as entregas chegarem � �rea tomada pela lama onde fica a sua cria��o. “Quem ficou sem casa partiu. Todos que tinham meninos pequenos para estudar foram embora, mesmo sem as casas terem sido engolidas”, conta.

A escolha por ficar se deve � liga��o com Paracatu e tamb�m por n�o haver garantias de que os respons�veis pela trag�dia poderiam cuidar de suas terras. “Fiquei porque tenho as minhas coisas aqui, meu patrim�nio. N�o posso largar isso jogado.”

Sobre a nova comunidade que a Funda��o Renova construir� no terreno que � conhecido como Lucila, ele n�o d� garantias da mudan�a nem demonstra ter gostado da ideia. “N�o � certo n�o (que v� se mudar). Vou pensar.”

Para as v�timas de Brumadinho, ele recomenda paci�ncia. “Digo a eles que tenham tranquilidade e pe�am a Deus. Aqueles que se foram, eles n�o v�o ver mais. Ent�o, t�m de pedir a Deus por eles e ter tranquilidade. Porque, vai fazer o qu� agora? Agora, s� Deus mesmo”.

O desastre em Brumadinho fez muitos atingidos de Mariana reviverem seus traumas. “Quando soube do que aconteceu em Brumadinho nem dormi de noite. A gente fica muito sens�vel. Depois, nos outros dias, veio aquele sono acelerado, de que voc� acorda assustado. Vejo aquela onda (do rompimento) passar na televis�o e penso que j� vi isso”, disse o agricultor Jos� Carlos da Silva, de 56.

“Voc� vive (em Paracatu de Baixo) aqui e depois tem um mar de lama. Algumas casas s� tinham o telhado. Acabaram meus sonhos. Sonhava um dia me aposentar e ter minha casa aqui, mas isso acabou. A lama levou tudo e acabou. Hoje eu tenho cria��o de leite. Mas minha m�e, por exemplo, e meus cinco irm�os foram embora, fui separado de toda a minha fam�lia, n�o podia abandonar a minha propriedade”, lamenta Jos� Carlos. “Em Brumadinho, acho que foi ainda pior, porque n�o sobrou nada onde a lama passou”, considera.



SEM RECONHECIMENTO
As mensagens de esperan�a da Samarco de que a empresa conseguiria voltar a operar, nos �ltimos tr�s anos, fizeram com que muitos investidores e empres�rios mantivessem seus neg�cios. Mas a realidade de uma perda de cerca de 60% da arrecada��o derrubou muitas pessoas que eram empregadoras e proeminentes.

Um empres�rio do ramo de empreendimentos na constru��o civil e treinamentos, de 53 anos, que pede para n�o ser identificado e ser� tratado como Jos� � um deles. Ele prestou servi�os para a Samarco e treinava funcion�rios diretos e terceirizados da mineradora que almejavam melhorar de vida ganhando mais com especializa��o profissional.

“Fui afetado de todas as formas. No setor imobili�rio, constru�a, mas n�o conseguia mais vender im�veis. No campo dos treinamentos, o fechamento dos empregos liquidou essa vontade que os trabalhadores tinham de se aprimorar, porque essa m�o de obra teve de ir embora”, disse. Segundo ele, os pre�os dos im�veis que foram constru�dos e valeriam R$ 460 mil ca�ram para R$ 320 mil.

Depois desse baque, o empres�rio se apegava �s promessas de que a Samarco voltaria a operar e se endividou no cart�o de cr�dito e no banco. “Meu padr�o de vida era elevado. Tinha casa grande, com churrasqueira, chopeira. Dava festas. Hoje moro num apartamento simplesinho. Chegava a tirar R$ 15 mil por m�s, hoje tiro R$ 1 mil de sal�rio como gar�om e R$ 1.080 de aluguel do �nico im�vel que me sobrou”, lamenta.

Para Jos�, a sequ�ncia de desventuras foi dura. “A barragem arrebentou, meu pai morreu e veio a separa��o.” Com ela, pens�o calculada sobre ganhos que j� n�o existem mais. “N�o paro de pagar por causa do meu filho, mas n�o tenho mais condi��es de manter a vida deles de antes. A Samarco e a Renova nem me consideram atingido”, conta.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)