
Brumadinho – As noites n�o s�o mais as mesmas. O filme da onda de rejeitos descendo da Barragem 1 da Mina C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, passa a todo momento na mem�ria de moradores que vivem na comunidade de mesmo nome, vizinha ao empreendimento da Vale. Depois que a lama que estava no reservat�rio, distante 2,5 quil�metros das primeiras casas, varreu parte do distrito, o medo persiste por causa de outra atividade miner�ria nas proximidades. Fam�lias temem que um novo desastre aconte�a, na �rea da Minera��o Ibirit� Ltda. (MIB), vizinha a Vale, que fica a pouco mais de um quil�metro do povoado. A atividade no local foi suspensa na �ltima semana pela Justi�a. Por�m, ontem a equipe do Estado de Minas flagrou m�quinas pesadas trabalhando pelos terrenos, em um movimento que preocupa a comunidade.
As atividades no empreendimento da MIB foram suspensas pela Justi�a no fim de janeiro, ap�s pedido do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG). A promotoria citou a proximidade com as estruturas da Vale para embasar a solicita��o. O MP afirma que, pela dist�ncia, a atividade da empresa na regi�o tamb�m est� em risco. A interdi��o foi determinada pela ju�za Perla Saliba Brito. De acordo com o Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG), em sua decis�o a magistrada determinou que a empresa adote medidas para impedir “todo e qualquer carreamento de sedimentos para os c�rregos do Feij�o e Samambaia”, e que fossem contidos “todos os processos erosivos da �rea dos taludes da cava, nas pilhas de est�reis e nas vias de circula��o interna do empreendimento”.

A equipe do Estado de Minas esteve, na manh� de ontem, na regi�o onde o empreendimento est� instalado e p�de observar grande movimenta��o de caminh�es e tratores. M�quinas faziam a retirada de terra em um terreno e a colocavam nos ve�culos de carga. Estes, por sua vez, seguiam at� o p� de uma das barragens, onde o material era depositado. Era poss�vel ainda perceber um grande reservat�rio com rejeitos de min�rio em estado fluido. Tamb�m se notava que parte da barragem desbarrancou, j� que havia terra deslocada. Do alto da cidade, um morador mostrou que o local, que deveria ser uma cava, j� acumula dois degraus de pilhas de rejeitos. Outros exibem v�deos com um cano despejando lama em uma das bacias e sustentam que a companhia usa rejeitos vazados da Vale na produ��o.
O gerente de produ��o Alcimar Jos� de Oliveira, de 39, acompanhou a evolu��o da empresa na regi�o. Ele tem uma cria��o de su�nos perto do empreendimento da MIB, e � um dos que temem uma nova cat�strofe. O produtor sustenta que a mineradora estaria promovendo atividades diferentes daquela para a qual � licenciada e se preocupa com material armazenado em barragens. “Quem vai garantir que n�o v�o se romper?”, questionou.
O medo aumenta pelo fato de que nem mesmo a gigante da minera��o Vale foi capaz de impedir o desastre na Mina do C�rrego do Feij�o, enquanto a MIB � uma companhia comparativamente modesta. Isso fica claro no tratamento das empresas junto � comunidade, dizem moradores. “A MIB n�o tem plano de conting�ncia, pois considera que n�o tem barragem. A licen�a dela n�o � para barragem, ent�o como ela vai fazer um plano de conting�ncia?”, comentou Alcimar Oliveira. Outros moradores relatam que nunca foram avisados sobre como proceder em casos de rompimentos no empreendimento.
SEM SONO A apreens�o se estende a outros vizinhos. “A gente nem dorme”, contou o motorista Eust�quio de Souza, de 54. “N�o quero ficar aqui de jeito nenhum. Se achar comprador, vou embora. N�o tem sirene nem nada. N�o fizeram nenhum tipo de treinamento com a gente”, reclamou.
O sentimento � compartilhado por Joice Rodrigues Paiva. “Fico com medo. No caso da barragem da Vale, tivemos treinamento. Levaram a gente para a quadra, disseram que n�o tinha perigo nenhum. A� aconteceu isso. Ent�o, n�o d� para confiar em ningu�m. Dessa outra mineradora n�o tivemos nem treinamento. Por isso, desde o dia do rompimento, a gente n�o descansa”, contou.
Antes da publica��o desta mat�ria, o Estado de Minas tentou contato com a Minera��o Ibirit� Ltda. (MIB) por telefone, e-mail e at� pessoalmente no empreendimento, por�m, n�o localizou representantes que pudessem falar pela companhia.
Ap�s a publica��o, por volta das 14h desta ter�a-feira, a MIB enviou uma nota ao EM afirmando que mant�m as atividades de explora��o miner�ria paralisadas, conforme decis�o judicial. “A empresa realiza servi�os de manuten��o regular dos acessos, das estruturas e drenagens. Todas as a��es visam garantir as condi��es de seguran�a do local, de acordo com o que foi determinado pela Justi�a”, completa o pronunciamento.
Em nota, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Semad) informou que “os fatos denunciados foram recebidos e cadastrados”. “Faremos apura��o documental e agendaremos uma fiscaliza��o para verifica��o in loco. Se constatada alguma irregularidade, tomaremos as medidas administrativas cab�veis”, completa o texto.