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Estado de Minas

Moradores falam do desespero em deixar casas em zona evacuada em Nova Lima

Popula��o de vilarejo viveu dia de afli��o. 'A gente nunca imagina que vai ter que escolher o que deixar para tr�s', conta um deles


postado em 21/02/2019 06:00 / atualizado em 21/02/2019 07:59

Quarenta pessoas tiveram que deixar a Vila do Peixe, formada por casas do século 19 usadas por funcionários de mineradora(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Quarenta pessoas tiveram que deixar a Vila do Peixe, formada por casas do s�culo 19 usadas por funcion�rios de mineradora (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

 

“A vida aqui era um paradeiro. Galinha, cachorro e horta. Hoje (ontem), estourou uma bomba. De repente, apareceu o pessoal da Vale e estou no mesmo desespero das pessoas debaixo das barragens que podem se romper que vi nesses meses todos. Temos at� as 16h para deixar nossas casas com o que pudermos carregar”. O desabafo, nervoso, de quem esfrega os dedos enquanto re�ne o que pode de roupas e utens�lios para evacuar sua casa antes de uma avalanche de rejeitos de min�rio de ferro, � da dona de casa Josiane Cristina da Silva, de 38 anos. Ela, o marido e o filho adolescente, de 17, est�o entre as 40 pessoas da Vila do Peixe, em Nova Lima, um pequeno aldeamento de casas do s�culo 19 que abriga funcion�rios da mineradora AngloGold Ashanti, que precisou ser evacuado ontem devido ao risco de rompimento da Barragem de Vargem Grande, da Vale. Outras 60 pessoas tamb�m tiveram que deixar suas casas no mesmo munic�pio, segundo a Defesa Civil.

De acordo com o Plano de A��o de Emerg�ncia de Barragem de Minera��o (Paebm) de Vargem Grande, caso a estrutura, que n�o teve sua estabilidade garantida, acabe se rompendo, a avalanche de rejeitos descer� pelo pr�prio territ�rio da mineradora devastando tudo, ingressando no vale que corre ao longo da BR-356, no sentido Belo Horizonte, at� engolir a Lagoa das Codornas, as resid�ncias, s�tios e condom�nios que a margeiam. Ao final do reservat�rio, segundo os profissionais da Vale, a lama mais l�quida e veloz se encaixaria no Vale do Rio do Peixe, um dos principais afluentes do Rio das Velhas, respons�vel por mais de 20% do volume de �gua do manancial antes da capta��o da Copasa, em Bela Fama, esta��o que abastece 60% da Grande BH. Nesse trajeto, a MG-030 tamb�m poderia ser destru�da, entre Rio Acima e Itabirito.

O alerta, antes de a barragem ter sido classificada como de risco de rompimento (n�vel 2), veio logo cedo, �s 8h30 de ontem, para comunidades de Ouro Preto, Itabirito e Nova Lima terem tempo de evacuar suas resid�ncias antes das sirenes. Enquanto isso, de acordo com a assessoria, a estrutura foi mantida em n�vel operacional (n�vel 1). Em Ouro Preto, 25 pessoas foram evacuadas, enquanto em Itabirito o desalojamento ainda n�o foi necess�rio.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


Al�m das pessoas desalojadas para casas de parentes e hot�is em Belo Horizonte, Ouro Preto e Congonhas, segundo a Vale, muitos que estavam no caminho da devasta��o em condom�nios de luxo e comunidades rurais procuraram guarida em outras �reas.

As equipes da mineradora Vale, contando com ambul�ncias, resgate animal, engenheiros para explicar sobre o plano de evacua��o, vans e �nibus para transporte de desalojados, se espalharam para as �reas amea�adas nos tr�s munic�pios. Desde portarias de condom�nios elegantes a vielas de vilarejos, esses comboios de vans, �nibus e caminhonetes ofereciam hot�is e pousadas custeadas pela gigante da minera��o. Animais que habitam as resid�ncias na zona vulner�vel tamb�m seriam recolhidos e tratados, de acordo com a assessoria da empresa.

Na comunidade de Vila do Peixe, onde 40 pessoas foram evacuadas, o desespero ao longo do dia foi grande. Pais e filhos removiam o que podiam de seus arm�rios, c�modas e arcas tentando equacionar o que fosse poss�vel de ser transportado em seus carros pessoais, apenas para se verem depois tentando compactar tudo em porta-malas e no interior dos ve�culos, at� terem de se resignar e aceitar que muito seria deixado para tr�s.”Moro aqui h� 20 anos e as coisas a gente traz aos poucos, nunca imagina que vai ter de correr com o que precisa, escolhendo o que deixar para tr�s. O mais importante para mim s�o as minhas panelas e roupas de cama, que juntei porque n�o temos data para voltar”, disse o operador de usina hidrel�trica Giorlei dos Reis, de 54. De acordo com ele, a moradia na vila � s� durante a semana, j� que vive com sua fam�lia no Centro de Nova Lima. “Mesmo assim, o susto foi grande. Melhor prevenir e sair hoje, de dia, com toda a assist�ncia, do que no meio da noite”, disse.

Josiane escolhe o que levar: 'Muito o que é nosso vai ficar aqui'(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Josiane escolhe o que levar: 'Muito o que � nosso vai ficar aqui' (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


J� a dona de casa Josiane Cristina da Silva, de 38, moradora da mesma comunidade, n�o conseguia disfar�ar a afli��o. “Meu filho de 17 anos e eu viemos correndo para ajudar meu marido a juntar as coisas, mas a gente v� que muito do que � nosso vai ficar para tr�s”, lamenta, enquanto empacota o que pode para transportar nos �nibus fretados da Vale. “V�o ficar muitos m�veis, utens�lios, lembran�as. N�o tem como levar tudo e n�o sei nem se vai dar para vir tirar depois n�o. Meu marido e eu vamos embora juntos. A Vale disse que vai buscar meu filho num outro carro. Isso est� me deixando muito tensa e desconfiada.

Enquanto o vilarejo de casas de madeira e coloniais onde operam as plantas das minas da mineradora AngloGold eram evacuadas, com pessoas tensas, carregando seus carros e �nibus mirando um local seguro em caso de rompimento, o destino de v�rios animais, como galinhas e gansos n�o estava ainda muito claro. Dois c�ezinhos da ra�a pinscher, por exemplo, ficaram trancados numa das casas. Segundo a vizinhan�a, os donos estavam viajando, de f�rias, e os animais eram alimentados por vizinhos, que deveriam recolh�-los.

Segundo a mineradora AngloGold Ashanti, nenhuma �rea operacional da empresa foi afetada e n�o haver� impacto na produ��o. “Os empregados do Sistema Hidrel�trico Rio de Peixe ficar�o em casa, com seus sal�rios sendo pagos”, informou empresa, explicando ainda que o fornecimento adicional de energia ser� feito Cemig. *Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Rachel Botelho


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