O desafio de ser mulher em uma corpora��o formada por 91,55% de homens � di�rio. O servi�o do Corpo de Bombeiros Militar muitas vezes exige for�a, elemento que � associado ao homem, ficando longe do sexo, dito, fr�gil. Elas t�m que provar, al�m da for�a, o poder de supera��o de si mesmas e de preconceitos estabelecidos pela sociedade. Mulheres que atuaram no resgate de v�timas do rompimento da barragem de rejeitos de min�rios da Vale em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, mostram que s�o capazes de desbravar as duas primeiras d�cadas da presen�a feminina na corpora��o neste Dia Internacional das Mulheres, comemorado em 8 de mar�o.
A major Karla Lessa Alvarenga Leal, de 36 anos, � piloto de uma das primeiras aeronaves dos bombeiros a chegar em C�rrego do Feij�o. No comando da equipe, ela ajudou a resgatar uma das v�timas ainda com vida. “Ali tinha que transparecer seguran�a e tranquilidade”, disse a major, que teve que colocar em pr�tica tudo que viu na teoria para que o resgate fosse bem feito e o mais r�pido poss�vel, mas a experi�ncia tamb�m foi fundamental. Doze dias antes da trag�dia em Brumadinho, a mesma tripula��o comandada por ela resgatou uma mulher que escorregou e ficou presa nas pedras da Cachoeira do Tabuleiro, em Concei��o do Mato Dentro, na Regi�o Central de Minas. “Eu disse para a equipe: n�s fizemos um ensaio para Brumadinho naquele resgate.”
Major Karla estudou no Col�gio Militar de Belo Horizonte. Quando saiu, prestou concurso para estudar engenharia qu�mica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e tamb�m para ser bombeira. Ela foi aprovada nas duas op��es, mas escolheu a carreira militar. Karla entrou na corpora��o em 2001 e se tornou a primeira mulher comandante de helic�ptero de bombeiros militar do Brasil. “O processo de ser um bom comandante de aeronave exige um profundo estudo e bastante treinamento. Cada etapa tem um desafio espec�fico e n�o ser aprovado � ruim. Existe a press�o e isso talvez seja o desafio. � tamb�m o que motiva, sem d�vida”, disse.
Busca por igualdade
Nos concursos para integrar a corpora��o, pelo menos 10% das vagas s�o para mulheres. A sargento Natalia Daisy Ribeiro, de 31, concorreu a vaga h� nove anos e hoje se encontrou na profiss�o. “Eu fazia enfermagem e n�o gostava. Quando passei no concurso, fiquei muito feliz. Me sinto privilegiada de ter conseguido uma oportunidade”, revela a militar, que garante n�o existir disputa entre homens e mulheres.
A primeira turma a receber mulheres no Corpo de Bombeiros Militar foi em 1993 e o aumento da presen�a feminina � um fator de incentivo. A sargento Daisy conta com alegria que hoje se inspira em outras bombeiras. “A cabo Carolina � a melhor do mundo. Eu sempre digo: quero ser igual ela quando eu crescer”, disse, lembrando tamb�m da professora tenente Silva.
Durante os trabalhos em Brumadinho, Daisy ficou 24 dias longe da fam�lia. “� muito triste, porque, querendo ou n�o, a gente se coloca no lugar da fam�lia, mas os moradores da comunidade nos acolheram”. Por l�, ela contou que as pessoas ficavam surpresas quando a viam. “Muita gente ainda n�o sabe que tem bombeira. As pessoas falam: ‘Olha l�, ela � mulher’. Algumas meninas tamb�m ficavam espantadas e eu dizia: ‘Menina pode fazer o que quiser.’”
E elas fazem isso sem perder a feminilidade. “N�o tem nada que impe�a de ser feminina e continuar sendo vaidosa”, completou a sargento.
*Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Regina Werneck
