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Estado de Minas

Pico Belo Horizonte: na Serra do Curral, as agress�es avan�am longe dos nossos olhos

No s�mbolo da capital, reportagem do EM mostra que trilhas clandestinas invas�es e risco de fogo amea�am paisagem j� degradada pela minera��o


27/06/2019 06:00 - atualizado 27/06/2019 08:20

No terreno da Mineradora Empabra, cujas atividades foram paralisadas há um ano, acúmulo de água e erosões revelam riscos que estariam se estendendo a áreas de proteção ambiental
No terreno da Mineradora Empabra, cujas atividades foram paralisadas h� um ano, ac�mulo de �gua e eros�es revelam riscos que estariam se estendendo a �reas de prote��o ambiental (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press )

No alto, a degrada��o alimentada por falta de educa��o e atitudes predat�rias de visitantes. Embaixo, a �rea repleta de eros�es de uma mineradora hoje paralisada que h� um ano altera a paisagem no sop� do Pico Belo Horizonte, um dos marcos da Serra do Curral, s�mbolo da capital mineira. A equipe de reportagem do Estado de Minas percorreu esse patrim�nio belo-horizontino e constatou uma soma de fatores que come�a pelos danos da explora��o de recursos minerais, passa pela destrui��o provocada por incurs�es clandestinas de aventureiros de fim de semana e chega ao permanente risco de inc�ndios florestais.

O Pico Belo Horizonte, cume da forma��o rochosa, que atinge 1.390 metros, tem sido progressivamente degradado. Pistas clandestinas de motocicletas abrem sulcos cada vez mais profundos sobre toda a linha de cristas no territ�rio em que se abrigam p�ssaros e vegeta��o end�mica de campos rupestres, alvo de agress�es em s�rie e que vai perdendo suas caracter�sticas lentamente, sem que abaixo a maior parte da popula��o se d� conta disso.
 
Do marco geod�sico que identifica a exata localiza��o do Pico Belo Horizonte restou apenas a estrutura da base de concreto. A chapa de metal com as informa��es geogr�ficas foi arrancada. Depredada, a base se transformou em apoio para fogueiras montadas por campistas. Al�m da madeira queimada que pode iniciar um inc�ndio florestal, desses exploradores clandestinos restam tamb�m rastros representados por latas de cerveja e de refrigerante, embalagens de alimentos e outros tipos de res�duos abandonados na paisagem que batizou a cidade e lhe serve de moldura.
 
Da por��o sul do Pico Belo Horizonte se avista Nova Lima e uma sequ�ncia de barragens e cavas de minera��o se enfileirando. Do outro lado, j� em BH, uma grande mancha no conjunto montanhoso revela a localiza��o da mina e as estradas da planta de processamento de min�rio da Empresa Mineradora Pau Branco (Empabra). H� cinco anos as atividades dessa empresa ocorriam sob justificativa de recomposi��o do terreno aberto para a explora��o de min�rio de ferro, que se deu durante meio s�culo, entre a serra e o Bairro Jardim Taquaril, a Leste de BH. Mas, depois de ter suas a��es questionadas pela sociedade, o Minist�rio P�blico e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad), as atividades da companhia foram paralisadas e assim permanecem.
 
O empreendimento est� parado h� um ano, e as condi��es de suas estruturas preocupam ambientalistas e o poder p�blico. De dentro da �rea que serviu � extra��o de min�rio de ferro, a reportagem p�de constatar que os taludes da lavra j� est�o esculpidos por eros�es que chegam at� as estradas usadas pelos caminh�es fora de estrada. Esses processos fazem com que as partes mais �ngremes da mina desmoronem, tragando grandes se��es de terreno que havia sido reflorestado e de espa�os que nem sequer pertencem ao empreendimento. H�, inclusive, den�ncias na Comiss�o de Meio Ambiente e Pol�tica Urbana da C�mara Municipal de Belo Horizonte de que parte do terreno da Serra do Curral e da Mata da Baleia j� estejam sendo afetadas pelos escorregamentos.

EROS�ES O rumo em que avan�a a desagrega��o das encostas �, em boa parte, na dire��o da base do Pico Belo Horizonte. N�o h� sinais de drenagens ou conten��es que tenham sido feitas para impedir que esse carreamento do solo comprometa a montanha. Abaixo das eros�es, outro processo preocupante que ocorre no territ�rio que deveria passar por recupera��o ambiental se localiza no fundo da cava da Mina de Granja Curumi. O ac�mulo de �gua da chuva criou um lago extenso, que pode tamb�m causar instabilidade nos taludes.

Tais problemas, de acordo com o vereador Gilson Reis (PCdoB), um dos parlamentares da comiss�o, tamb�m foram denunciados por pessoas que frequentam a regi�o e puderam acompanhar a degrada��o acelerada desse setor da Serra do Curral. “� uma situa��o que pode trazer um grande preju�zo ambiental e sobre o patrim�nio do munic�pio, que � o Pico Belo Horizonte. Caso esses taludes venham a se romper, o estrago pode ser muito extenso. S�o, tamb�m, um preju�zo para a comunidade como um todo”, define o vereador.

PARALISA��O Segundo o planejamento divulgado pela Empabra, os taludes e estradas receberam reconfigura��o do terreno e plantio de vegeta��o para barrar as eros�es provocadas pelas chuvas. “Precisamos de escavar o terreno para usar o material removido do solo para recompor a paisagem aberta pela minera��o”, disse o representante institucional da Empabra, Jos� Fl�vio Franco. Ele justifica as condi��es observadas pelo fato de a empresa estar parada h� um ano. “S� o que fazemos agora � tirar o min�rio que sobrou, cerca de 150 mil toneladas. A mina j� n�o processa mais min�rio. Nem se quisesse, pois os cabeamentos de cobre do sistema el�trico da planta de processamento industrial do min�rio foram todos roubados por causa do abandono. Foram 300 empregos diretos perdidos”, sustenta.
 
O abandono que amea�a a integridade do Pico Belo Horizonte e da Serra do Curral ser� trazido �s autoridades convidadas para participar de reuni�o da Comiss�o de Meio Ambiente e Pol�tica Urbana da C�mara Municipal de Belo Horizonte, que deve ocorrer nos pr�ximos 30 dias, de acordo com o vereador. “Pretendemos convidar o Minist�rio P�blico, o Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) – uma vez que a serra � tombada – e v�rios �rg�os para que essa situa��o possa ser esclarecida e uma vistoria possa ocorrer para determinar qual a verdadeira situa��o do pico e da �rea atingida”, disse Reis.

Falta de estrutura facilita as invas�es

Área do Pico Belo Horizonte, a 1.390 metros, no cume da formação rochosa: do marco restou apenas a base de concreto, usada como apoio para fogueiras
�rea do Pico Belo Horizonte, a 1.390 metros, no cume da forma��o rochosa: do marco restou apenas a base de concreto, usada como apoio para fogueiras (foto: Mateus Parreiras/EM/DA Press)

Atualmente o Pico Belo Horizonte n�o tem um parque ou estrutura p�blica que permitam a sua visita��o regular e segura, como mirantes, estradas, trilhas, demarca��es e seguran�a pr�pria. O ingresso das pessoas que querem visitar o espa�o ocorre por aberturas nos port�es, cercas e muros de propriedades particulares, espa�os invadidos e tamb�m pela Mata da Baleia, uma �rea verde que � de responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG).
 
O Parque das Mangabeiras faz limite com boa parte desses terrenos, mas seus muros se encontram mais preservados e a presen�a de vigilantes � percept�vel em v�rios pontos de circula��o da unidade, nos acessos e guaritas. V�rias das trilhas que levariam � �rea do Pico Belo Horizonte e � Serra do Curral se encontram com a visita��o p�blica suspensa desde o fim do ano passado. No alto da serra, ao lado do cume em que se destaca na forma��o rochosa ficam antenas privadas de telecomunica��es e tamb�m a antena de r�dio da Pol�cia Militar de Minas Gerais Centelha 1.
 
As trilhas para a Serra do Curral e algumas que levam ao Pico Belo Horizonte passam por um processo de eros�o extremo. A passagem indiscriminada de motocicletas de trilha aprofunda o leito desses acessos, escavando a terra antes dura e refor�ada por ra�zes. Tais percursos se tornam caminhos de pedras soltas entre poeira fina, que acabam lavadas pelas chuvas, resultando em buracos profundos, pontos de desabamentos e uma fonte de detritos que assoreia o fundo dos vales.
 
No alto, o caminho pelas cristas � ainda mais degradado, diante do grande fluxo desses ve�culos. A intensidade � t�o grande que j� ganha a largura de uma estrada rural. O capim rupestre que n�o � esmagado, se transforma em lixeira, retendo garrafas de �gua, restos de comida, pe�as de motos e peda�os de capacetes desprendidos nessas aventuras predat�rias.
No cume, rastros mostram que o espa�o vem sendo ocupado � noite de forma predat�ria, por pessoas que fazem fogueira no seu marco geod�sico, com amea�a de iniciar um inc�ndio num local de dif�cil combate para brigadistas e bombeiros, sobretudo nesta �poca de estiagem. O lixo, especialmente de garrafas de bebidas alco�licas, fica esparramado pelo ponto mais alto da Serra do Curral.
 
Na descida, outro ponto que chama a aten��o � a diferen�a de uma �rea onde o poder p�blico monitora e outra onde isso n�o ocorre. Nas outras extremidades da forma��o montanhosa, os parques das Magabeiras e da Serra do Curral, � vedada a entrada de animais dom�sticos, incluindo c�es, numa forma de proteger a vida selvagem daquele ecossistema. No lado do Pico Belo Horizonte, os rastros de c�es s� n�o s�o superados pelos de cavalos, que deixaram as matas infestadas de carrapatos, al�m de contribuir para o desequil�brio ecol�gico.

Comiss�o barrada na entrada de mina


Uma miss�o da Comiss�o de Meio Ambiente da C�mara Municipal de Belo Horizonte e do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) foi barrada na manh� de ontem na porta da Empabra. A Pol�cia Militar foi chamada e um boletim de ocorr�ncia, registrado, uma vez que os vereadores entendem ser parte do trabalho legislativo a fiscaliza��o de �reas de interesse comum e patrim�nios do munic�pio. A fiscaliza��o estava agendada para as 10h, para averiguar as condi��es ambientais da �rea tombada. O representante institucional da Empabra, Jos� Fl�vio Franco, disse que a entrada s� seria permitida com ordem judicial. “N�o temos mais sequer estrutura de seguran�a para acompanhar essa vistoria ou equipamentos de seguran�a individual que s�o obrigat�rios para que uma visita se d� respeitando as regras de seguran�a exigidas. A mina j� n�o processa mais min�rio e o nosso �nico movimento � o de retirada de min�rio que j� tinha sido extra�do”, afirma.


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