
O conjunto moderno da Pampulha, em Belo Horizonte, completa hoje tr�s anos como patrim�nio da humanidade, na categoria Paisagem Cultural, e uma quest�o crucial paira sobre o complexo arquitet�nico projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), na d�cada de 1940, em torno do espelho d'�gua O anexo de 4 mil metros quadrados do Iate T�nis Clube, erguido entre 1977 e 1984, ser� mesmo demolido, conforme recomenda��o da Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco)?
A resposta ainda � d�vida, indefini��o, embora autoridades e dire��o do clube particular concordem num ponto: as negocia��es evolu�ram. Antes da conquista do t�tulo – em 17 de julho de 2016, durante a 40ª reuni�o do Comit� de Patrim�nio Mundial da Unesco, em Istambul, na Turquia –, houve compromisso da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em resolver as pend�ncias. E o principal: no per�odo de tr�s anos, deveria ser demolido o anexo do Iate, recomenda��o que constava do relat�rio final da ONU enviada, via Itamaraty, � PBH e � Funda��o Municipal de Cultura (FMC). O prazo vence hoje.
O caso tem acompanhamento do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG), via Promotoria de Justi�a de Defesa do Patrim�nio Cultural e Tur�stico da comarca de Belo Horizonte. Na tarde de ontem, o promotor de Justi�a J�lio C�sar Luciano informou que at� o fim deste m�s dever� ajuizar a��o contra a PBH e o Iate para que seja demolida “a constru��o irregular, feita sem autoriza��o e alvar�”. E ressaltou: “N�o se pode permitir algo que coloque em risco um t�tulo como esse”.
Tamb�m na tarde de ontem, o presidente do Iate T�nis Clube, Jos� Carlos Paranhos de Ara�jo, disse que “a situa��o est� andando, mas bem devagar”, e explicou que “o clube n�o vai pagar por algo que � de Belo Horizonte, n�o dos s�cios”. Com isso, quer dizer que a demoli��o do anexo, o qual abriga academia de gin�stica, estacionamento e sal�o de eventos, n�o poder� ser custeada pelo clube, muito menos a aquisi��o de novo terreno para edifica��o das benfeitorias."N�o se pode permitir algo que coloque em risco um t�tulo como esse"
J�lio C�sar Luciano, promotor de Justi�a, informando que at� o fim deste m�s deve ajuizar a��o contra a PBH e o Iate para que a constru��o irregular no clube seja demolida
Ressaltando que a dire��o do clube participa das reuni�es no MPMG, Jos� Carlos sente falta de maior articula��o, por parte da PBH, para dar andamento �s negocia��es entre as partes e chegar a uma solu��o. “Hoje, h� muita gente envolvida no caso. Na �poca em que o vice-prefeito Paulo Lamac estava � frente da Secretaria Municipal de Governo, ele cuidava disso muito bem, havia articula��o”.

A��ES Em nota, a PBH esclarece estar ciente da import�ncia da demoli��o do anexo do Iate para a conserva��o da paisagem do conjunto moderno da Pampulha, tendo “a gest�o empenhado esfor�os para que a negocia��o com a diretoria do clube chegue a um resultado satisfat�rio, e que possamos realizar as interven��es necess�rias”. E mais: “Cabe sempre lembrar que o Iate � um clube privado e cabe � PBH preservar o interesse p�blico, o que impede a administra��o municipal de fazer investimentos diretos no espa�o sem o devido processo legal. Para garantir que o interesse p�blico e a legalidade do processo, ser�o preservadas as negocia��es”.
A nota diz ainda que a “Unesco acompanha os esfor�os da PBH e do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) para cumprir as a��es pactuadas” e que, “em dezembro de 2017, foi enviado um relat�rio de nossas a��es para a Unesco, relat�rio aprovado na Reuni�o do Comit� do Patrim�nio Mundial, ocorrida em junho de 2018, no Bahrein.
Sobre o risco de perda do t�tulo, os gestores tranquilizam: “Os planos de Gest�o e Monitoramento apresentados � Unesco, incluindo os prazos para execu��o das a��es acordadas est�o sendo revistos, e o pr�ximo relat�rio ser� enviado em dezembro de 2019. N�o h� indica��o de que o conjunto moderno da Pampulha possa entrar na Lista do Patrim�nio Mundial em Perigo”.
Sobre o risco de perda do t�tulo, os gestores tranquilizam: “Os planos de Gest�o e Monitoramento apresentados � Unesco, incluindo os prazos para execu��o das a��es acordadas est�o sendo revistos, e o pr�ximo relat�rio ser� enviado em dezembro de 2019. N�o h� indica��o de que o conjunto moderno da Pampulha possa entrar na Lista do Patrim�nio Mundial em Perigo”.

BARCO ANCORADO Projetado por Niemeyer, com jardins de Burle Marx (1909-1994) e obras de C�ndido Portinari (1903-1962), num sal�o com o nome do artista, o antigo Iate Golfe Clube tem a forma de um barco ancorado, vis�o que fica melhor ainda do Museu de Arte de Pampulha (MAP), localizado do outro lado do espelho d’�gua, na Avenida Otac�lio Negr�o de Lima. No interior do clube, d� para ver o mastro da embarca��o e a caldeira, e, ao caminhar pelo jardins, logo perto da entrada, o visitante vai ver um busto de Juscelino Kubitschek (1902-1976), que era prefeito de BH quando o Iate foi constru�do. Na pe�a de bronze, h� uma frase de JK: “A Pampulha veio como uma rima sonora, da beleza e harmonia ao poema da cidade”.
Ao chegar ao Iate, inaugurado em 1943 com um baile de gala, deve-se prestar aten��o a detalhes que fizeram a diferen�a, em termos de inova��o, na arquitetura desenvolvida no Brasil e no mundo naqueles tempos. Niemeyer fez ali a cobertura em forma de “asa de borboleta em pleno voo”, conforme o coordenador t�cnico do dossi� apresentado � Unesco, arquiteto Fl�vio Carsalade. Em seu livro Pampulha, da s�rie BH. A cidade de cada um, Carsalade escreveu que “o Iate fora constru�do para aproveitar as novidades n�uticas que aqui se abriam; afinal, remar no Parque Municipal n�o era exatamente o m�ximo em esportes n�uticos. A ideia para o Yatch Golf Club era aproveitar a lagoa para esse tipo de esporte (seu primeiro andar fora projetado para isso e o segundo andar para festas)”.
Fotos do Estado de Minas de meados do s�culo passado mostram esquis, barcos a vela e a remo, e atletas de fim de semana fazendo do espelho d’�gua o melhor lugar para seu lazer.
Os especialistas chamam a aten��o para o fato de a edifica��o se harmonizar plasticamente debru�ando-se sobre a represa. Para imprimir ritmo �s fachadas, foram usados brises met�licos em car�ter funcional, a fim de garantir prote��o quanto � incid�ncia solar no interior do sal�o, que chega pelas paredes envidra�adas. Privatizado em 1960, o clube manteve o uso como espa�o de lazer e pr�ticas esportivas, embora sofrendo muitas altera��es ao longo dos anos – tantas que ficou parcialmente descaracterizado devido � constru��o do anexo de 4 mil metros quadrados, que come�ou a ser erguido em 1977 e foi inaugurado em 1984, chocando o pr�prio Niemeyer, pois impede a vis�o completa do clube para quem olha da Igreja S�o Francisco de Assis.
Tecnologia da Nasa na Igrejinha
O diretor de Patrim�nio Material do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), Andrey Rosenthal, informou ontem que ser� implantada uma estrutura desenvolvida com tecnologia da Nasa, a ag�ncia espacial dos Estados Unidos, na Igreja S�o Francisco de Assis, na Pampulha, em BH, para impedir a infiltra��o da estrutura de concreto para o forro de madeira. Ele explicou que os t�cnicos da autarquia federal realizam vistorias semanais no conjunto moderno reconhecido como patrim�nio da humanidade pela Unesco.
HONRARIA OBTIDA EM 2016 A campanha para o t�tulo de patrim�nio da humanidade come�ou em 1996, mas a decis�o favor�vel ao conjunto moderno da Pampulha s� veio 20 anos depois – em 17 de julho de 2016. O empecilho era o estado de degrada��o da lagoa e complexo arquitet�nico que inclui a Igreja S�o Francisco de Assis, que reabrir� as portas em 4 de outubro; o Museu de Arte da Pampulha (MAP); a Casa do Baile e duas pra�as, al�m de outros bens como a Casa JK, na orla. Durante a 40ª sess�o do Comit� do Patrim�nio Mundial da Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco), houve unanimidade na decis�o do comit�.