
“Ter uma fam�lia � maravilhoso”. Com entona��o de alegria, a frase entre aspas vem de um jovem que, h� poucos meses, confessava a maior tristeza: “N�o ter uma fam�lia me d�i”. Morando a maior parte dos seus 18 anos, completados em 19 de junho, entre a desarmonia da casa materna e abrigos, o mineiro de Belo Horizonte mudou de cidade na ter�a-feira da semana passada e ganhou sobrenome diferente na certid�o. “Estou muito feliz, pois posso, agora, pensar no futuro, cursar faculdade, fazer um concurso”, diz Robson Anklam, adotado pelo empres�rio F�bio Anklam, de 42 anos, residente em Cambori�, no litoral de Santa Catarina. A homologa��o judicial ocorreu em 13 de agosto e, nesse mesmo dia, pai e filho viajaram de avi�o para o estado do Sul, uma experi�ncia que colocou Robson, mais uma vez, nas nuvens. “Nunca tinha andado de avi�o. Foi legal”, afirmou, por telefone.
A hist�ria de Robson foi mostrada pelo Estado de Minas em 15 de maio, e, a partir dos compartilhamentos nas redes sociais e grupos no WhatsApp, chegou ao conhecimento de F�bio Anklam. “Gra�as � reportagem, muita gente ficou sabendo e procurou informa��es, algumas para apadrinhamento. Mas a ado��o, perto de Robson completar 18 anos, foi uma "vit�ria muito grande", disse a advogada Larissa Jardim, da diretoria jur�dica do Grupo de Apoio � Ado��o de Belo Horizonte. “Ele � um jovem muito inteligente, preocupado com o futuro, ficava sempre pensando no que poderia lhe acontecer ap�s deixar o abrigo”, disse a advogada.
A ado��o do jovem mineiro foge ao padr�o procurado pela maioria dos pretendentes – crian�as com at� 3 anos de idade. Em Minas, por exemplo, 53,7% dos interessados em adotar querem crian�as nesse limite de idade, de acordo com dados do Cadastro Nacional de Ado��o/Conselho Nacional de Justi�a (CNJ) e Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG). No pa�s, ainda segundo o CNJ, o �ndice chega a 92,7%, embora apenas 8,8% das crian�as aptas � ado��o tenham essa idade.
Na reportagem, a desembargadora Val�ria Rodrigues Queir�z, superintendente da Coordenadoria da Inf�ncia e da Juventude (Coinj) do Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG), explicou que, al�m crian�as maiores de 3 anos de idade e adolescentes, ado��o tardia inclui os adolescentes que permanecem indefinidamente � espera de uma fam�lia. J� a ado��o necess�ria se refere �s crian�as e adolescentes portadoras de necessidades especiais e grupos de irm�os. “A realidade, no Brasil, � que o destino da maioria dessas crian�as mais velhas, acolhidas em abrigos, � de ali permanecerem, sendo criadas e educadas pelos funcion�rios dessas institui��es”.
Planos
Na casa nova, em Cambori�, Robson Anklam conta que ainda n�o conseguiu resolver o lado pr�tico, a exemplo da escola (est� no primeiro ano do ensino m�dio). “Estou arrumando as coisas, agora tenho um pai, um irm�o, posso arranjar um emprego”. Nos �ltimos tempos morando na Unidade de Acolhimento Institucional Casa dos Anjos/Grupo de Desenvolvimento Comunit�rio (Gdecom), na capital mineira, ele alimentava a esperan�a de encontrar uma fam�lia, o que ocorreu logo depois, com o interesse de F�bio.
No depoimento ao EM, Robson mostrava seus temores, entre eles a perda de esperan�a. “Vou completar 18 anos em 19 de junho. At� l�, poderei ficar no abrigo. Depois, n�o sei que rumo vou tomar. Desde que me entendo por gente, minha vida tem se dividido entre uma fam�lia aos peda�os, com muitos irm�os, e o acolhimento nos abrigos, de onde n�o tenho o que reclamar. Estudo, estou no primeiro ano do ensino m�dio, e quero ser advogado ou m�dico, mas a ang�stia de n�o ter uma fam�lia me d�i. Toda crian�a ou adolescente que mora em abrigo alimenta a vontade de ter uma fam�lia, receber carinho dos pais, mesmo n�o sendo os de sangue, morar numa casa tranquila. Comigo n�o � diferente, mas, quer saber a verdade? N�o tenho mais esperan�a”, chegou a afirmar.
Foram muitos os sobressaltos e apertos. “Quando eu era bem crian�a, minha m�e falava que iria me levar ao parque, mas me deixava numa creche ou abrigo, n�o me lembro muito bem. E n�o voltava para me buscar. Fui adotado pela primeira vez aos seis anos, mas infelizmente n�o deu certo. O casal brigou, se separou e voltei para minha fam�lia. O pior � que minha m�e bebia, arrumou um namorado que tamb�m bebia, e resultado: um dia, cheguei em casa e eles estavam fazendo amor. Fiquei espantado com o que vi, pois era s� um menino, n�?, Ent�o resolvi fugir. Subi no telhado e fui embora”
Al�m da falta da fam�lia, havia a aus�ncia de amor. “Aos 10 anos, retornei � vida no abrigo e s� tenho a agradecer. Sinto aquela car�ncia de amor de fam�lia, uma tristeza, ansiedade, ang�stia. Seria bom que toda crian�a tivesse um pai e uma m�e mesmo adotados. E n�o pensem que, por estar maior, pode dar errado. Os de 17 anos ou perto dos 18, como � meu caso, t�m mais responsabilidade, sabem o que fazem da vida, t�m vontade de amar. S� precisamos mesmo de ajuda. No fundo, no fundo, ainda tenho vontade de ser adotado”, completou, quase em um press�gio da boa not�cia que viria.