
Semana decisiva para a volta do turismo ao “interior” de um cart�o-postal da capital e fundamental para as celebra��es religiosas. O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, nomeou o padre Welinton da Silva Lopes para assistente pastoral da Igreja S�o Francisco de Assis, mais conhecida como Igrejinha da Pampulha, que ter� a cerim�nia de reabertura na sexta-feira, �s 9h30. Amanh�, o sacerdote vai participar de uma reuni�o para definir o hor�rio das missas, esquema de visita��o, funcionamento da lojinha de suvenires e outros detalhes importantes para facilitar a vida dos moradores, brasileiros e estrangeiros que se encantam com a obra projetada por Oscar Niemeyer e parte do conjunto moderno reconhecido como patrim�nio da humanidade. O templo est� fechado desde novembro de 2016 e h� um ano e tr�s meses em obra de restauro.
Visto do outro lado do espelho d'�gua, onde n�o h� tapumes, o espa�o de f� e cultura se reflete em beleza singela. Para muitos belo-horizontinos, a Igrejinha merece ser celebrada. Pelo menos uma vez por semana, o casal Henrique Rodrigues e Paloma Alves, morador do Bairro Santa Rosa, na regi�o, leva a filha Cec�lia, de um ano, para passear ao ar livre e desfrutar do patrim�nio reconhecido h� pouco mais de tr�s anos pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco).
“Tivemos que esperar o fim da obra, mas acho que � momento de comemorar, pois a Igrejinha significa muito para a cidade”, disse Paloma. Com Cec�lia nos bra�os, Henrique admirou longamente os azulejos em azul e branco que fizeram a alegria dos turistas, para fotos e selfies, pois h� um ano e tr�s meses est� em andamento o projeto com recursos federais do PAC das Cidades Hist�ricas, no valor de R$ 1,1 milh�o, e supervis�o dos trabalhos pelo Iphan – nessa empreitada, houve muito empenho da superintendente do Iphan em Minas, a muse�loga C�lia Corsino, exonerada do cargo na quarta-feira por Osmar Terra.
O padre Welinton Lopes, que ser� o assistente paroquial da Capela Curial S�o Francisco de Assis (como o templo � chamado pela Arquidiocese), � o titular da Par�quia de Santo Ant�nio, no Bairro Jaragu�, na Pampulha. De acordo com a Arquidiocese de BH, ele continuar� no cargo. Segundo a Arquidiocese, n�o h� defini��o ainda sobre casamentos, pois n�o h� uma lista e pre�os das cerim�nias. Considerado um dos templos preferidos das noivas, a igrejinha enfrentou atraso no cronograma de obra, visto que havia centenas de casamentos agendados com grande anteced�ncia e que n�o poderiam ser desmarcados.
Imagem forte
Nos setores de neg�cios, a expectativa pela reinaugura��o tamb�m � grande. “A Igreja da Pampulha � �cone da capital. Junto ao tra�o de Niemeyer, de reconhecimento mundial, h� os jardins de Burle Marx, o painel de C�ndido Portinari retratando S�o Francisco e trabalhos de outros artistas. O patrim�nio destaca nossa hist�ria, e, nesse caso, a logomarca com as curvas eternizadas pelo arquiteto”, diz Roberto Fagundes, presidente da Federa��o do Convention Visitors Bureau de Minas Gerais, entidade que re�ne os setores ligados ao turismo para promover a cidade e trazer visitantes.
Sobre o per�odo em que o templo ficou fechado para as necess�rias obras de restaura��o, com tapumes deixando � mostra apenas o painel de Portinari, Fagundes fala da decep��o dos turistas e compara: “� como ir a Paris, Fran�a, e n�o poder ver a Torre Eiffel, � noite, pois as luzes est�o apagadas, pegar um barco, em Nova York (EUA), para chegar � Est�tua da Liberdade e n�o poder, pois o rio est� revolto, ou querer ir ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (RJ), e ser impedido por uma greve dos condutores do bondinho. A�, a pessoa volta para casa e desestimula as outras que pensam em viajar para esses lugares”.
Sempre ressaltando a import�ncia do cart�o-postal para dinamizar o turismo na capital, o presidente da federa��o acredita que a reabertura da igreja, da d�cada de 1940 e localizada � beira da lagoa, dever� ativar trabalho e renda. “Com o fechamento, houve perdas para o com�rcio, e estou certo de que muita gente vir� conhecer o templo restaurado”, diz Fagundes.
O presidente da Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel), Ricardo Rodrigues, tamb�m acredita na “imagem forte” da Igrejinha para atrair turistas de todo canto, e destaca que a reabertura do templo reaquece o sentimento de “pertencimento” do belo-horizontino para com seu patrim�nio. “Ela � realmente um �cone, um equipamento indutor de turismo. O visitante vai ficar mais tempo na regi�o, num bar ou restaurante. Tenho certeza de que nenhum outro monumento do Conjunto Moderno tem apelo t�o forte”, afirma.
De acordo com a �ltima Pesquisa de Satisfa��o do Turista da Belotur/Prefeitura de Belo Horizonte (2017), o conjunto arquitet�nico da Pampulha est� entre os pontos mais visitados da capital, ao lado do Mercado Central e da Pra�a da Liberdade, ambos na Regi�o Centro-Sul. H� dois meses morando em Belo Horizonte, a estudante de letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Tha�s Aparecida Lima, de 19 anos, fala da ansiedade para ver a igreja por dentro. Natural de Porteirinha, no Norte de Minas, e caminhando pela orla com a colega de curso Edimila Cunha, Tha�s destacou a import�ncia do monumento para Minas. “� um patrim�nio muito famoso, importante.”
Surpresas
Quem visitar a Igreja S�o Francisco de Assis poder� ver o projeto paisag�stico de Roberto Burle Marx (1909-1994) revitalizado, com mudas produzidas no viveiro que leva seu nome e fica no Jardim Bot�nico da PBH, tamb�m na Pampulha; os bancos para os fi�is, guardados durantes muitos anos e agora recuperados pelo Memorial da Arquidiocese de BH, sob coordena��o de Goretti Gabrich Fonseca; os 14 quadros da via-sacra de Jesus, de autoria de C�ndido Portinari (1903-1962), ainda mantidos em sigilo absoluto – tr�s, pelos menos, salvos da deteriora��o provocada pela �gua de chuva, que, muitas vezes, obrigou funcion�rios a colocar baldes no interior do templo. Segundo a Funda��o Municipal de Cultura, os jardins ser�o conclu�dos a tempo da cerim�nia e os tapumes somente retirados na v�spera.
Mesmo com a prote��o, parte dos jardins perto do painel recriando a vida de S�o Francisco pode ser contemplada. Est�o l� os l�rios amarelos e alaranjados se juntando ao crinum branco para cobrir os canteiros que emolduram o templo. De acordo com a PBH, o projeto de restauro do museu segue as cartas patrimoniais, por serem jardins hist�ricos, e tamb�m o projeto de Burle Marx. “No in�cio, na d�cada de 1940, os jardins da igreja eram ocupados pelas roseiras, com flores de v�rias cores.“Ele concebeu o local como memorial descritivo sobre a filosofia das rosas. Mas, quando esteve aqui, em 1992, Roberto alterou todo o projeto em forma e conte�do”, informa a diretora de Gest�o e Educa��o Ambiental da Funda��o de Parques Municipais e Zoobot�nica (FPMZB), Laura Mour�o.
Em nota, a PBH informou que a interven��o na igrejinha contemplou, al�m da remo��o completa do forro e do reboco e a impermeabiliza��o de toda a laje interna com instala��o de forro novo, a recupera��o das juntas de dilata��o; prote��o dos pisos e dos bens integrados, tais como afresco, p�lpito, batist�rio, degraus e pain�is internos em azulejos; remo��o do reboco deteriorado e lixamento da pintura na laje frontal; instala��es el�tricas e cabeamento estruturado; tratamento do sistema de drenagem e reforma de esquadrias e passeios externos frontais.
Atrav�s da vidra�a
A Igreja S�o Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, ficou fechada por quase tr�s anos – desde novembro de 2016 – e, nesse per�odo, foram muitos os turistas que bateram com o "nariz na porta" na esperan�a de ver o interior do templo do conjunto moderno reconhecido como patrim�nio da humanidade. Muitas vezes, o Estado de Minas flagrou visitantes de todo o pa�s olhando curiosos e igualmente preocupados com o quadro de degrada��o. N�o raro, cat�licos frequentadores do espa�o de f� se ajoelhavam para rezar na frente da porta, mantendo o costume antigo.