
A pesquisa foi divulgada hoje (17) pela Funda��o Renova, entidade criada conforme acordo firmado em mar�o de 2016 entre a mineradora, suas acionistas Vale e BHP Billiton, o governo federal e os governos de Minas Gerais e do Esp�rito Santo. Cabe a ela reparar todos os preju�zos causados em decorr�ncia da trag�dia, na qual 19 pessoas morreram, comunidades ficaram destru�das e dezenas de munic�pios mineiros e capixabas situados na bacia do Rio Doce foram impactados pela polui��o.
De acordo com a Funda��o Renova, a presen�a de metais no ambiente � natural na regi�o, que � conhecida como Quadril�tero Ferr�fero. A entidade afirma que apenas o ferro e o mangan�s teriam correla��o com o rompimento. Segundo ela, com exce��o desses dois, os demais metais foram encontrados em n�veis acima dos par�metros recomendados apenas em amostras pontuais e, na maioria das vezes, fora da �rea atingida pelo rejeito.
"O relat�rio n�o recomenda limita��o de atividades agropecu�rias, do consumo de �gua tratada, nem a remo��o de moradores", diz a Funda��o Renova. A entidade afirma ainda que nas �guas superficiais e nas �guas utilizadas para consumo humano n�o foram identificadas concentra��es acima dos valores de refer�ncia de sa�de. Ainda de acordo com a funda��o, os metais identificados s�o elementos de baixa absor��o pela pele.
Para avaliar o estudo, a Funda��o Renova convidou o m�dico Anthony Wong, que atua no Centro de Assist�ncia Toxicol�gica do Hospital das Cl�nicas da Universidade de S�o Paulo (USP). Segundo ele, n�o h� perigo para a popula��o. "Do ponto de vista toxicol�gico, a quantidade e a concentra��o encontradas, em rela��o � vida humana e at� animal, s�o praticamente insignificantes".
Ele destaca que muitos desses metais s�o essenciais para a sa�de humana em determinadas quantidades e cita, por exemplo, o mangan�s, que est� presente em diversos alimentos. Segundo Wong, n�o existem casos de intoxica��o por mangan�s decorrente de exposi��o ambiental. O m�dico explica ainda que o ferro � necess�rio ao organismo humano.
"Mais de 80% da popula��o do mundo � carente de ferro, mesmo comendo bem. A concentra��o no solo dessa regi�o, como indica a pr�pria atividade miner�ria, necessariamente vai ser alta. Mas essa concentra��o no solo n�o representa risco. S� para se ter uma ideia, locais no estado de S�o Paulo t�m o n�vel de ferro duas vezes maior do que o encontrado aqui. E n�o se pode dizer que a popula��o paulista est� intoxicada por ferro", diz.
Para melhorar as condi��es de sa�de nas �reas atingidas, a Funda��o Renova informa que iniciativas est�o em discuss�o com o governo de Minas Gerais como a melhoria dos laborat�rios p�blicos regionais, a capacita��o dos profissionais de sa�de dos munic�pios atingidos, a revis�o do protocolo de avalia��o toxicol�gica para metais e a amplia��o dos estudos para outras �reas. A entidade afirma que j� vem adotando uma s�rie de medidas, entre elas, a reconstru��o de Unidades B�sicas de Sa�de e o repasse para que munic�pios reforcem infraestrutura e as equipes m�dicas.
Tamb�m est� no plano a realiza��o de estudos epidemiol�gicos e toxicol�gicos para avaliar, por exemplo, a ocorr�ncia de problemas respirat�rios, de dist�rbios mentais e de presen�a de metais no corpo dos atingidos. Um chamamento p�blico ser� aberto para convidar pesquisadores do Brasil para apresenta��o de propostas.
Divulga��o
Avaliar riscos � sa�de humana foi uma demanda apresentada pelo Comit� Interfederativo (CIF). Composto por �rg�os p�blicos estaduais e federais e liderado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov�veis (Ibama), o comit� tem a fun��o de fiscalizar e orientar os trabalhos da Funda��o Renova.
Foram pesquisadas tr�s �reas nas zonas rurais de Mariana e de Barra Longa. Ao todo, foram 316 pontos de coleta de amostras visitados entre julho de 2018 e agosto de 2019. S� agora dados do levantamento est�o se tornando p�blicos. Na semana passada, o Minist�rio P�blico Federal (MPF) j� havia cobrado uma apresenta��o aos atingidos.
"J� deveria ter havido uma devolutiva para a popula��o sobre os resultados deste estudo", disse Helder Magno da Silva, procurador da Rep�blica de Minas Gerais.
Ele tamb�m contestou procedimentos da Funda��o Renova. Segundo o procurador, a Ambios foi aprovada pela C�mara T�cnica de Sa�de do Comit� Interfederativo, enquanto a Tecnohidro teve o aval da C�mara T�cnica de Rejeitos. Assim, o escopo das an�lises de cada uma era diferente, o que tornaria estranha a apresenta��o conjunta dos dados.
"O estudo da Tecnohidro parece que tem sido aproveitado para contrapor os resultados da Ambios. A Technohidro fez um estudo que foi submetido a uma empresa de consultoria chamada Newfields, contratada pela Funda��o Renova para validar os dados. Se voc�s forem agora no site da Newfields, voc�s v�o perceber que ela presta servi�o para a Samarco e para a BHP Billiton. � muito estranho esse tipo de atua��o", avalia.
O gerente do programa de sa�de da Funda��o Renova, Wagner Tonon, afirma que as duas an�lises permitiram a constru��o de um conhecimento mais abrangente. "A Ambios s� havia analisado a �rea onde o rejeito efetivamente passou. Mas se faz necess�rio ter um conhecimento mais amplo da �rea, considerando as concentra��es dos elementos que j� existiam no ambiente. Os locais n�o atingidos ajudam tamb�m a entender como o rejeito afetou o ambiente. Ent�o, as an�lises da Technohidro foram usadas para ampliar o estudo da Ambios", diz.
Atingidos fazem outra pesquisa
Na semana passada, uma pesquisa apresentada pela C�ritas e pela Associa��o Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) - assessorias t�cnicas que prestam suporte aos atingidos de Mariana e Barra Longa, respectivamente - identificou alta presen�a de ferro no solo. Diferentemente do estudo divulgado hoje pela Funda��o Renova, a pesquisa revelou tamb�m n�veis altos de cobre, zinco e n�quel. Em amostras de �gua, chamaram aten��o concentra��es de ferro, mangan�s, n�quel e, eventualmente, de chumbo. O estudo foi realizado por uma equipe multidisciplinar do Laborat�rio de Educa��o Ambiental, Arquitetura, Urbanismo, Engenharias e Pesquisa para a Sustentabilidade (LEA-AUEPAS) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Segundo Dulce Maria Pereira, coordenadora da pesquisa, o risco de contamina��o pode crescer conforme a frequ�ncia a que o atingido est� exposto aos metais. Ao longo do tempo, ela v� possibilidade de aumento de problemas respirat�rios, al�m de amea�as ao equil�brio mental, emocional e neurol�gico. A pesquisadora argumenta ainda em sentido oposto �s coloca��es do m�dico Anthony Wong. "Posso citar, por exemplo, o mangan�s, que causa efeitos neurol�gicos e psiqui�tricos. Nas quantidades em que ele se apresenta no territ�rio, pode causar instabilidades emocionais, al�m de dist�rbios de comportamento e na fala".
A pesquisa tamb�m avaliou a contamina��o do ar. "Caminh�es transportaram muitos res�duos de lugares que haviam sido atingidos para locais n�o afetados. Isso aumentou a contamina��o e expandiu a presen�a de contaminantes. � preciso ter muita preocupa��o com a presen�a de metais t�xicos no ar, sobretudo do chumbo, do cobre, do ferro, do zinco, do mangan�s", acrescenta a pesquisadora.