Entre quinta-feira e ontem, os investigadores se concentraram, principalmente, no esvaziamento do tanque 10 – a cerveja foi transferida para outro equipamento – um dos 70 da f�brica, e sua higieniza��o. As medidas s�o uma prepara��o para que o equipamento possa, posteriormente, funcionar sem nenhum l�quido dentro. O objetivo � verificar se haver� vazamento das subst�ncias monoetilenoglicol ou dietilenoglicol de sistema de refrigera��o durante o processo.
A previs�o dos investigadores era de que cada uma dessas duas etapas durasse apenas um dia, mas houve complica��es durante a higieniza��o do tanque e a fase n�o foi conclu�da ontem. Durante a manh�, a corpora��o, por meio de nota, chegou a informar que a limpeza do tanque j� tinha sido realizada. “Hoje, os peritos devem colocar as m�quinas para funcionar a fim de detectar a poss�vel causa de contamina��o das cervejas”, detalhou a institui��o naquele momento.
Por�m, em nota de esclarecimento divulgada no fim da tarde de ontem, a Pol�cia Civil disse que ser� necess�rio utilizar uma nova metodologia para a efetiva��o da limpeza. “Esvaziamos os tanques e realizamos uma primeira limpeza padr�o, como se l� tivesse somente a cerveja, mas n�o foi suficiente para limpar. S�o necess�rias produtos espec�ficos para a retirada de mono e dietilenoglicol”, explicou o delegado Fl�vio Grossi, da 4ª Delegacia de Pol�cia Barreiro.
Ainda segundo os peritos, os tanques foram lacrados novamente ontem. De acordo com o delegado, a fornecedora dos tanques est� auxiliando na elabora��o de uma t�cnica que possibilite a retirada total de qualquer produto qu�mico do equipamento a ser testado.
Segundo nota divulgada pela Backer, a Pol�cia Civil coletou duas amostras do l�quido, para prova e contraprova. O material ainda ser� encaminhado a um laborat�rio de testes. Ainda conforme nota da cervejaria, s� a partir do resultado � que o tanque poder� ser ligado vazio. “Caso o resultado seja negativo para os l�quidos intoxicantes (monoetilenoglicol e dietilenoglicol), o tanque ser� liberado para a realiza��o do teste de estanqueidade. Caso o resultado seja positivo, o processo de higieniza��o ser� refeito”, pontuou a empresa.
Al�m de cobrar mais uma an�lise no l�quido presente no tanque, na quinta-feira a Backer tentou impedir o in�cio dos testes, alegando que o Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa) ainda “n�o definiu a melhor metodologia para an�lise quantitativa das amostras coletadas”. No entanto, por meio de nota enviada ao Estado de Minas, o Mapa, que tamb�m participa dos testes, n�o confirmou a afirma��o da Backer.
Com o entrave no processo, ainda n�o se sabe se hoje a per�cia da Pol�cia Civil vai ligar o tanque de n�mero 10 (tanque escolhido entre os 70 da f�brica) ou se a etapa de lavagem do equipamento continuar�. Os investigadores se limitaram a dizer que a PCMG retomar�, nos pr�ximos dias, a segunda fase da per�cia.
Ap�s a segunda fase, ainda h� uma final: caso seja encontrada alguma rachadura, furo ou trinca no tanque, a per�cia vai checar qual a quantidade de material vazada. A hip�tese de contamina��o por vazamento � uma das consideradas pela pol�cia, que n�o descarta, no entanto, que a mistura tenha ocorrido intencionalmente.
Conflito
No dia em que iniciaram essa nova fase nas investiga��es, os policiais j� tinham encontrado resist�ncia da Backer. A mudan�a de tom da empresa, que vinha colaborando com a investiga��o, ocorreu no mesmo dia em que o Estado de Minas revelou que a pol�cia investiga quem, dentro da f�brica, sabia da contamina��o e se algu�m assumiu o risco. Na ocasi�o, a cervejaria resistiu ao trabalho de inspe��o porque considerou que o m�todo para esvaziamento poderia levar � contamina��o de outros tanques.
Ao explicar o caso, a Backer informou que, na quinta-feira, os policiais chegaram ao local por volta das 9h30, mas as an�lises s� come�aram a ser feitas ap�s as 14h30. A empresa alegou que ainda n�o havia os “resultados dos testes quantitativos das amostras coletadas pelo Mapa, de modo a atestar a concentra��o de monoetilenoglicol e dietilenoglicol”.
Ao todo, a Pol�cia Civil investiga a intoxica��o de 34 pessoas e a morte de seis. Dessas, foi constatada a presen�a de dietilenoglicol no sangue de uma e amostras das outras tr�s ainda � analisada no laborat�rio do Instituto de Criminal�stica. Corpos de duas v�timas n�o foram necropsiados. Mais de 40 pessoas j� prestaram depoimentos, entre v�timas, familiares e outras testemunhas. Os laudos dos exames realizados em amostras das cervejas entregues pelos familiares das v�timas est�o em fase final de elabora��o.
Ainda em janeiro, quando a presen�a das subst�ncias t�xicas em cervejas da Backer foi constatada, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) proibiu a venda de qualquer produto da marca com data de fabrica��o igual ou posterior a agosto de 2019.
*Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Rachel Botelho