Uso de m�scaras � obrigat�rio a partir de hoje em BH

O uso de m�scaras passa a ser obrigat�rio em Belo Horizonte a partir de hoje. De acordo com decreto municipal publicado na �ltima sexta-feira, a medida � v�lida para todo espa�o p�blico da cidade, transporte coletivo e para os estabelecimentos comerciais. As lojas ter�o de afixar cartazes informando sobre como usar a m�scara e o n�mero de clientes permitidos ao mesmo tempo no local. Medida essa para evitar aglomera��es. A fiscaliza��o ser� feita pelos pr�prios comerciantes. Se descumprirem a norma, poder�o ser punidos com a perda do alvar� de funcionamento.

A capital mineira n�o est� sozinha nesta medida. Entre as prefeituras das 13 cidades do estado com mais de 200 mil habitantes, seis tornaram obrigat�rio o uso de m�scaras para todas as pessoas que sa�rem de casa. Os quatro munic�pios mais populosos do interior (Uberl�ndia, Contagem, Juiz de Fora e Betim) est�o na lista. A eles, soma-se Santa Luzia. Em Montes Claros, h� uma recomenda��o p�blica para o uso do equipamento, mas a obrigatoriedade se restringe a quem estiver nos grupos de risco (idosos e pessoas com comorbidades). Em Divin�polis, a Secretaria de Sa�de demonstrou inten��o de adotar a medida, mas ainda n�o o fez. A prefeitura de Uberaba tamb�m recomendou a todos o uso das m�scaras, mas ainda n�o tornou obrigat�rio. Em outras cidades populosas, como Ribeir�o das Neves, Governador Valadares, Ipatinga e Sete Lagoas, as administra��es municipais n�o estabeleceram regras t�o r�gidas e abrangentes sobre o equipamento.

Na �ltima semana, o governador Romeu Zema (Novo) sancionou lei que obriga a utiliza��o, em todo o estado, por “profissionais que prestam atendimento ao p�blico em �rg�os e entidades p�blicos, nos sistemas penitenci�rio e socioeducativo, nos estabelecimentos comerciais, industriais, banc�rios, rodovi�rios e metrovi�rios, nas institui��es de acolhimento de idosos, nas lot�ricas e nos servi�os de transporte p�blico e privado de passageiros de compet�ncia estadual”.

Debate

A pol�mica medida abra�ada por prefeituras mineiras segue as recomenda��es atuais do Minist�rio da Sa�de, que mudou suas instru��es em rela��o ao uso de m�scaras de prote��o por pessoas que n�o apresentam sintomas do novo coronav�rus. No entanto, especialistas divergem com rela��o � efic�cia do uso irrestrito do equipamento. A pr�pria Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) admite que n�o existem atualmente estudos conclusivos que comprovem a efici�ncia de m�scaras caseiras. Recentemente, a OMS reuniu em um guia orienta��es sobre a utiliza��o de m�scaras em pa�ses que, assim como o Brasil, recomendam o uso por pessoas sem sintomas e refor�ou que as m�scaras cir�rgicas e respiradores, como N95, devem ser prioritariamente distribu�das a profissionais da sa�de. O guia tamb�m ressalta pr�s e contras do uso da m�scara por pessoas assintom�ticas.  Uma poss�vel vantagem seria a redu��o do risco de transmiss�o por pessoas que ainda n�o apresentaram sintomas como tosse seca e febre.

"Mesmo com a m�scara, se a pessoa colocar a m�o no rosto ela pode ser infectada. A m�o � o principal ve�culo para trazer o coronav�rus para dentro do nosso organismo"

Jordana Coelho dos Reis, professora-adjunta do Departamento de Microbiologia da UFMG

Em contrapartida, o texto elenca uma s�rie de riscos quanto ao uso do equipamento, como autocontamina��o por toque e reutiliza��o da m�scara, dificuldades respirat�rias e falsa sensa��o de seguran�a, o que pode levar a uma menor ades�o a outras medidas como distanciamento f�sico e higiene das m�os. Tendo em vista as contradi��es com rela��o ao uso do equipamento, o Estado de Minas conversou com tr�s especialistas a respeito da quest�o para entender melhor a pol�mica.

Para a professora-adjunta do Departamento de Microbiologia da UFMG Jordana Coelho dos Reis, como j� existem estudos que comprovam que pessoas que utilizam m�scaras cir�rgicas disseminam menos o v�rus, em um contexto de calamidade como o atual, o uso de m�scaras caseiras vem a ser uma alternativa recomend�vel. “Os estudos s�o baseados em m�scaras cir�rgicas. As m�scaras caseiras s�o alternativas e v�o ter sobrevida menor, principalmente se n�o forem usadas adequadamente”, defende.

Medida secund�ria

A OMS n�o recomenda o uso de m�scaras por pessoas saud�veis por considerar a medida desnecess�ria. Nesse quesito, os especialistas t�m opini�es divergentes. Enquanto para uns os riscos n�o compensam o benef�cio, para Jordana, tendo em vista que a COVID-19 pode n�o se manifestar em pacientes infectados, o uso da prote��o poderia controlar a dissemina��o do v�rus por pessoas que nem sequer sabem que est�o com a doen�a.

“As pessoas assintom�ticas podem estar infectadas, � o que chamamos de teoria do iceberg. A gente s� v� a ponta da infec��o, mas temos muitos casos subnotificados e as microgot�culas de saliva e contaminantes podem ser propagados mesmo por pessoas assintom�ticas, por isso o uso da m�scara � importante.”

H� um consenso entre os especialistas entrevistados pelo EM com rela��o ao uso de quaisquer tipos de m�scaras – sejam elas caseiras ou n�o. Para os especialistas, a utiliza��o deste equipamento pela popula��o deve ser uma medida secund�ria.

As recomenda��es principais para se prevenir da infec��o pelo novo coronav�rus continuam sendo o isolamento social e a higieniza��o das m�os, como explica o infectologista e professor da UFMG Mateus Westin.
“Quando as pessoas est�o de m�scara, elas podem relaxar com rela��o �s outras medidas de preven��o. Elas podem conversar mais pr�ximas umas das outras, encostar mais umas nas outras, levar mais a m�o no rosto sem fazer a higieniza��o adequada e, inclusive, levar mais as m�os ao rosto para ajustar a m�scara, porque a m�scara sai do lugar, esquenta, dificulta a respira��o e muitas vezes esses fatores podem gerar a confus�o no potencial benef�cio do uso da m�scara”, pondera Westin.

Jordana tamb�m destaca que a higieniza��o das m�os � fundamental. “Mesmo com a m�scara, se a pessoa colocar a m�o no rosto ela pode ser infectada. A m�o � o principal ve�culo para trazer o coronav�rus para dentro do nosso organismo.”

 J� a microbiologista Viviane Alves, tamb�m da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pontua que, al�m da falsa sensa��o de seguran�a que a m�scara pode proporcionar, a utiliza��o do equipamento caseiro feito de pano exige cuidados espec�ficos com rela��o � lavagem, ao tempo de uso e utiliza��o.

“Deve haver a��es educativas voltadas para os mais vulner�veis, para que eles compreendam que a m�scara n�o os protege, e sim, minimiza o risco, e que outras medidas de preven��o s�o obrigat�rias”, alerta. Para ela, entre as op��es de m�scaras caseiras, a mais recomendada, por ter sido cientificamente testada, � a confeccionada com toalha de papel, que deve ser descartada e n�o reutilizada, como as de pano.

Papel-toalha

Outro fato apontado por Viviane seria o tamanho das part�culas contaminantes do v�rus que poderiam penetrar certos tipos de tecido, contaminando a pr�pria pessoa que est� usando.

“Se vamos usar, o ideal � que fossem as cir�rgicas. N�o tem a cir�rgica para todo mundo, por enquanto, mas a produ��o deve aumentar. Enquanto isso, a gente precisa ter cuidados muito importantes, porque sen�o a m�scara vai se tornar uma fonte de infec��o. Pode ser do tecido que for, se ela ficar suja, se n�o trocar a cada duas horas, se n�o lavar diariamente, a pessoa corre o risco de estar fazendo pior. Ent�o, eu creio que � melhor ficar sem. Mas como a ordem agora � usar, o ideal � que seja uma m�scara que tenha como colocar um papel-toalha dentro para que ele absorva a umidade porque a gente vai respirando, vai ficando �mido e essa umidade facilita que coisas de fora entrem”, alerta Viviane. 

"Pode ser do tecido que for, se ela [m�scara] ficar suja, se n�o trocar a cada duas horas, se n�o lavar diariamente, a pessoa corre o risco de estar fazendo pior"

Viviane Alves, microbiologista da UFMG

Outro consenso entre os especialistas � que o uso de m�scaras n�o impede a contamina��o de pessoas saud�veis, e sim, dificulta a propaga��o do v�rus por pessoas doentes.

“N�o existem evid�ncias conclusivas de que usar m�scara na popula��o em geral ajude a combater a transmiss�o da epidemia e a propaga��o do v�rus no contexto acad�mico. Mas existe essa plausibilidade de que, como a infec��o pelo coronav�rus vem sendo transmitida por pessoas sem sintomas ou com poucos sintomas, a estrat�gia de que todos devem usar m�scaras impede que, atrav�s da fala, tosse e espirro a pessoa fique disseminando part�culas respirat�rias contendo v�rus no ambiente. Ainda assim, existem todos esses fatores que podem se contrapor a esse potencial benef�cio. Ent�o, o fato � que � uma medida pol�mica do ponto de vista cient�fico.” *Estagi�ria sob supervis�o o editor �lvaro Duarte

O que � o coronav�rus?

Como a COVID-19 � transmitida?

Como se prevenir?

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

Em casos graves, as v�timas apresentam:

Mitos e verdades sobre o v�rus

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:

Gr�ficos e mapas atualizados: entenda a situa��o agora
Vitamina D e coronav�rus: o que j� sabemosCoronav�rus: o que fazer com roupas, acess�rios e sapatos ao voltar para casa
Animais de estima��o no ambiente dom�stico precisam de aten��o especial
Coronav�rus x gripe espanhola em BH: erros (e solu��es) s�o os mesmos de 100 anos atr�s
V�deo: coronav�rus, quando isso tudo deve acabar?