
Perguntas a serem respondidas e v�timas em busca de justi�a. Chegam, hoje, ao quinto m�s os trabalhos do inqu�rito policial que investiga a cervejaria Backer pela presen�a da subst�ncia qu�mica dietilenoglicol, causadora da intoxica��o ex�gena que deixou 42 v�timas, segundo n�meros da Pol�cia Civil, em Minas Gerais, das quais nove morreram. Entre os prejudicados est� Luciano Guilherme de Barros, de 57 anos. Ap�s 177 dias de interna��o no Hospital Mater Dei, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, recebeu alta na quarta-feira passada.
A Pol�cia Civil informa que o inqu�rito que apura o caso est� em sua fase final. Mais de 60 pessoas foram ouvidas, entre as pr�prias v�timas, parentes delas e gente ligada � cervejaria Backer. A institui��o de seguran�a p�blica fez per�cias na f�brica da marca, inclusive nos tanques de fermenta��o da bebida. Os resultados “ser�o divulgados em momento oportuno”. Os trabalhos s�o conduzidos pela 4ª Delegacia do Barreiro, localizada no Bairro Estoril, na zona Oeste da capital.
Enquanto a pol�cia ainda trabalha para entregar documentos e o consolidado do trabalho de cinco meses � Justi�a, os advogados das v�timas travam verdadeira batalha com a Backer para garantir o direito de quem morreu e daqueles que ainda se recuperam dos problemas decorrentes do que � tratado oficialmente como intoxica��o. No entanto, para as fam�lias prejudicadas e seus advogados, trata-se de um caso de envenenamento.
“A Backer n�o deu aux�lio algum �s v�timas. Mesmo j� possuindo decis�o judicial h� praticamente quatro meses para que ela preste o aux�lio e depois de se reunir, no in�cio de fevereiro, com as v�timas, a empresa n�o est� ajudando ningu�m”, explica o advogado Guilherme Leroy, que defende duas v�timas no processo contra a cervejaria.
Segundo Leroy, a Backer teve faturamento de quase R$ 80 milh�es em 2019, mas a Justi�a encontrou apenas R$ 12 mil nas contas da empresa. “Primeira coisa � que a gente precisa entender que essa � s� a primeira parte, emergencial, depois vem a indeniza��o, em valores maiores. A gente tem buscado bens que possam responder por esses valores”, afirma o advogado.
Dentro dessa tentativa, est� a inclus�o dos s�cios e propriet�rios da Cervejaria Tr�s Lobos, o CNPJ da Backer, no processo. O objetivo da Justi�a � fazer com que bens em nome dessas pessoas entrem em leil�o para garantir o pagamento dos aux�lios e indeniza��es.
Procurada, a Backer informou que “reconhece que algo grave aconteceu” e � a “maior interessada” na conclus�o do inqu�rito da pol�cia, que segundo a empresa se concentra em um tanque onde foi encontrado o dietilenoglicol. A companhia voltou a afirmar que o bloqueio de bens dificulta os pagamentos emergenciais e negou o descumprimento de ordem judicial.
Est�o bloqueados, hoje, R$ 50 milh�es da Backer por ordem judicial. A tese de que esse bloqueio impede o pagamento �s v�timas � refutada pelo advogado Cl�udio Diniz J�nior, defensor de tr�s pessoas que consumiram a subst�ncia qu�mica dietilenoglicol.
“O fato de bloquear um bem em momento nenhum � sin�nimo de n�o poder vender esse bem. Ele deve ser vendido para gerar liquidez para auxiliar as v�timas”, disse ao EM, em maio, quando outra reportagem sobre o assunto veio a p�blico.
Vida nova “Dia 28 de maio foi meu anivers�rio no hospital e levaram bolo de anivers�rio. Foi o primeiro anivers�rio do primeiro ano do resto da minha vida. � outra vida que estou vivendo”. O depoimento � do banc�rio Luciano Guilherme de Barros, de 57 anos, que estava internado na unidade do hospital Mater Dei do Bairro Santo Agostinho, Centro-Sul de BH, desde 6 de dezembro. Ele recebeu alta na �ltima semana.
O terror vivido por Luciano e sua fam�lia come�ou durante a megacampanha de vendas do varejo Black Friday, quando o morador do Bairro Buritis, no Oeste de BH, aproveitou oferta para comprar 20 garrafas do r�tulo Belorizontina, o mais contaminado da Backer. “Fui trabalhar numa quinta-feira e senti que minha press�o estava alta. Fui ao Biocor e mediram. Passava de 22 pontos. Fui medicado e voltei pra casa. No outro dia pela manh�, sentia fortes dores abdominais. Precisei ir ao Mater Dei e s� sa� agora”, conta o banc�rio.
Nesse per�odo, Luciano viveu momentos cr�ticos. Sofreu uma parada card�aco, teve insufici�ncia renal, parou de andar e perdeu completamente os movimentos da face. Ficou entubado por 45 dias e chegou a pesar apenas 35 quilos. “Meu tratamento daqui pra frente � com fonoaudiologia e fisioterapia. A equipe do hospital foi fant�stica para me recuperar. Aos poucos, estou evoluindo. Consigo falar, mas tenho dificuldade para sorrir, ouvir e mastigar”, conta.
Enquanto ainda faz o tratamento e luta para recuperar os movimentos, Luciano denuncia o descaso da Backer em meio ao tratamento. “Eu lia reportagens sobre o sucesso da empresa e ficava feliz por ela ser mineira como eu. Gostava da cerveja. Mas, minha decep��o � total. O meu maior medo � n�o ter condi��o financeira. N�o quero viver do dinheiro deles, s� quero que me paguem o que � devido”, reclama.
A Backer informou que das 20 pessoas que integram a a��o movida pelo Minist�rio P�blico, apenas tr�s apresentaram “os comprovantes de despesa exigidos pela Justi�a”. A empresa n�o informou se Luciano est� ou n�o entre essas pessoas.