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Estado de Minas

Morte na pandemia: hist�ria de ang�stia de quem n�o p�de se despedir

'Essa doen�a tirou da gente o direito de ficar do lado dela nos �ltimos momentos', lamenta Fabiana, sobre o �bito da tia, que estava isolada em UTI


postado em 15/07/2020 04:00 / atualizado em 15/07/2020 09:10

Fachada do Hospital Eduardo de Menezes, instituição de referência no tratamento da COVID-19 em Minas, onde Maria José (no detalhe) estava internada quando morreu, em isolamento imposto pelo risco de contágio: solidão que aumenta a dor de doentes e familiares(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press %u2013 9/7/20)
Fachada do Hospital Eduardo de Menezes, institui��o de refer�ncia no tratamento da COVID-19 em Minas, onde Maria Jos� (no detalhe) estava internada quando morreu, em isolamento imposto pelo risco de cont�gio: solid�o que aumenta a dor de doentes e familiares (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press %u2013 9/7/20)
A alegria e a generosidade que contagiava a todos � a lembran�a que melhor descreve Maria Jos� de Oliveira, de 74 anos, carinhosamente chamada de Lilia pelos irm�os, sobrinhos e cunhados. Todos se lembram da satisfa��o que ela tinha ao receber os parentes em f�rias na sua casa na praia, em Nova Almeida (ES) e das conversas longas e atenciosas. Mas a pandemia do novo coronav�rus (Sars-Cov-2), em Belo Horizonte, mostra como as mais doces pessoas, como Lilia, sofrem com o isolamento imposto ao contrair a COVID-19. Mesmo acompanhada diariamente pelos familiares, por meio de videochamadas pelos telefones de enfermeiros e cuidadores, quando a doen�a respirat�ria se agravou, Lilia se viu como outros pacientes de UTI, impossibilitada de se despedir daqueles que amava. Essa dura realidade se alastra pelos hospitais mineiros e remete aos recentes relatos dos dias mais sombrios da pandemia na It�lia e na Espanha, pa�ses da Europa com alta parcela de idosos, onde muitos morreram com suas �ltimas palavras sufocadas pelo isolamento.

“Fizemos de tudo para ter contato di�rio com ela, porque as visitas s�o proibidas. Contratamos uma cuidadora para a acompanhar de perto enquanto ficou internada, mas, quando minha tia Lilia foi para a UTI, ficamos impossibilitados de contato, at� a not�cia da morte dela, na manh� de segunda-feira. � muito angustiante. Uma pessoa t�o amada. Essa doen�a tirou da gente o direito de ficar ao lado dela nos �ltimos momentos, de dar um vel�rio decente e de a enterrar como quer�amos. � uma doen�a terr�vel que faz nossos idosos morrerem quase como indigentes”, considera a sobrinha e afilhada de Lilia, a professora Fabiana Aparecida de Oliveira Ramos, de 42 anos. “O que fica dela foi o exemplo de atividade e de caridade. Ela era muito religiosa e estava sempre ajudando a arrecadar roupas e alimentos para os necessitados, pelas pastorais da Igreja Cat�lica. Um exemplo que admiramos e seguimos”, afirma Fabiana.
 
 
(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
 
Lilia faleceu na madrugada de segunda-feira, internada no Hospital Eduardo de Menezes, refer�ncia no tratamento de doen�as infecciosas. Em seu atestado de �bito, assinado por dois m�dicos, consta que a causa foi insufici�ncia respirat�ria aguda, com suspeita de COVID-19. Tudo ocorreu muito r�pido. Desde 2016, Lilia precisava de cadeira de rodas para se movimentar, devido a um acidente vascular cerebral. Isso lhe trouxe complica��es e um dedo precisou ser amputado. Depois dessa interna��o para a cirurgia, no Hospital Metropolitano, h� duas semanas, o seu quadro apresentou significativa piora e os m�dicos constataram pneumonia e suspeita de COVID-19.

Mesmo com esse quadro cr�tico, Lilia precisou aguardar por vaga no Hospital Eduardo de Menezes na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Barreiro, da �ltima sexta-feira para s�bado, quando foi admitida. L�, onde a maioria dos leitos � ocupada por pacientes com suspeita da doen�a, a comunica��o com a fam�lia cessou e devido aos r�gidos protocolos de visita, ela n�o p�de mais falar com ningu�m. A fam�lia pretende se despedir dela da forma como ela gostaria, com os parentes que podem se reunir sem exp�r a sa�de aos perigos do cont�gio da doen�a levando as suas cinzas para descansar no jazigo da m�e, do pai e dos irm�os, no cemit�rio de sua terra natal, Par� de Minas, na Regi�o Centro-Oeste de Minas Gerais.

“Lilia vai ficar ao lado dos nossos pais, que est�o enterrados em Par� de Minas. Para n�s foi muito triste, pois ela amava a fam�lia. Pensava na fam�lia mais do que nela pr�pria e, por isso, fizemos de tudo para estar ao lado dela, em contato constante. Uma pessoa muito boa, muito caridosa que deixou muitas saudades”, lamentou a irm� de Lilia, a professora Maria Auxiliadora de Oliveira Stol�, de 62 anos.

"Gostava demais dela e, por isso, fazia de tudo para ela ter mais alegria. Levava iogurte, pudim para v�-la mais feliz. Ela estava sofrendo muito sem poder andar e com os problemas no p�. Teve uma suspeita de que ela estava com COVID-19 ainda no Hospital Metropolitano, mas os exames deram negativos. Para mim, foi na UPA, quando ela ficou entre os casos suspeitos, que pegou a COVID-19 e n�o aguentou", disse o cunhado dela, o aposentado Jo�o Batista Ferreira Ramos, de 70. 
 

Ang�stia que se repete em Minas

Equipe de saúde da Espanha usa tablet para permitir contato entre paciente e parentes: saída para reduzir a solidão, especialmente de idosos, maiores vítimas das doença(foto: Oscar Del Pozo/AFP %u2013 14/4/20)
Equipe de sa�de da Espanha usa tablet para permitir contato entre paciente e parentes: sa�da para reduzir a solid�o, especialmente de idosos, maiores v�timas das doen�a (foto: Oscar Del Pozo/AFP %u2013 14/4/20)
O que vem se desenhando com os idosos brasileiros trouxe enorme consterna��o aos europeus. Em mar�o, quando eram poucas mortes no Brasil e as primeiras cidades mineiras como Belo Horizonte iniciavam o isolamento social, a It�lia j� tinha ultrapassado a China em n�mero absoluto de �bitos pela COVID-19, com mais de 5.500 registros. O sistema de sa�de havia praticamente entrado em colapso por falta de m�dicos, enfermeiros, respiradores, m�scaras e leitos. Em meio a essa situa��o, um drama silencioso se abatia sobre os pacientes mais velhos e solit�rios, que depois de contrair a doen�a eram internados em hospitais com pouca chance de sobreviver e ficavam completamente sozinhos, pedindo a m�dicos e enfermeiros que se despedissem de seus entes queridos por eles.
 
Na It�lia, 95% dos mortos pelo novo coronav�rus tinham mais de 60 anos. O �ndice de mortalidade – ou seja, o percentual de �bitos entre os casos confirmados – na faixa dos 50 a 59 anos foi de 3,8%, saltando para 11,5% entre 60 e 69, 31,1% dos 70 a 79, 40,4% de 80 a 89 e 12% para os que tinham acima dos 90 anos. Em Minas Geais, a faixa et�ria dos 50 a 59 anos tem mortalidade de 4,8% entre as mulheres e 8% entre os homens. Dos 60 aos 69, o �ndice salta para 8,9% e 13,8%, respectivamente. Os �bitos femininos s�o 11% e os masculinos de 13,3% na faixa dos 70 a 79 anos, 10,4% e 12,3%, respectivamente, de 80 a 89, e 3,2% e 2,6% para os acima dos 90 anos.
 
O drama do isolamento para os pacientes com os quadros mais cr�ticos da COVID-19 fez com que campanhas arrecadassem doa��es de tablets e smartphones para permitir a comunica��o por videochamada com os familiares, sobretudo nos momentos de despedida. Uma das campanhas foi batizada de “direito de dizer adeus”, liderada por integrantes do Partido Democr�tico na zona 6 de Mil�o. Com o que foi arrecadado, eles compraram mais de 20 tablets e os distribu�ram a pacientes idosos e moribundos no Hospital San Carlo.
 
Na Espanha, esse drama n�o foi diferente. Al�m dos hospitais, as casas de repouso isoladas se tornaram pontos de dissemina��o da doen�a, onde muitos idosos morreram com suas palavras de despedida sufocadas pelo isolamento. As For�as Armadas chegaram mesmo a ser convocadas para ajudar a desinfetar as casas de repouso, numa campanha sistem�tica contra o v�rus. Nos hospitais, foi tamb�m por meio de tablets que muitos pacientes puderam se comunicar e at� se despedir de seus parentes. 

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O que � o coronav�rus

Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp



Como a COVID-19 � transmitida?


A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?



Como se prevenir?


A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�



Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus.

 

V�deo explica porque voc� deve aprender a tossir



VIDEO1]

Mitos e verdades sobre o v�rus


Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:



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