Alunos assistem a aula presencial na capital amazonense, que come�ou a reabrir escolas p�blicas na segunda-feira
(foto: T�cio Melo/Secom-AM)
Etapa ainda indefinida em Minas Gerais pelas autoridades no planejamento do combate ao novo coronav�rus (Sars-Cov-2), a volta �s aulas presenciais tem o potencial de ser catastr�fica se mal implementada. � o que indica um levantamento da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) ao qual a reportagem do Estado de Minas teve acesso. Pelos c�lculos, se 10% dos eventuais contaminados necessitarem de cuidados intensivos – o que � considerado uma “abordagem otimista” –, s� em Minas isso poderia representar um acr�scimo de 102 mil doentes internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) e quase 4 mil mortes, certamente um componente de estrangulamento da assist�ncia em sa�de. No Brasil, o potencial de estragos � de 35 mil �bitos e 927 mil pessoas em UTIs.
O levantamento considera o n�mero de idosos e adultos com doen�as card�acas, pulmonares e diabetes – os mais vulner�veis ao v�rus – morando com crian�as e adolescentes em idade escolar, entre os 3 e os 17 anos, que poderiam trazer a COVID-19 para suas casas. De acordo com o estudo, no Brasil, essa popula��o � de 9,2 milh�es de pessoas. Em Minas Gerais, o n�mero � pouco maior do que 1 milh�o, sendo superado apenas por S�o Paulo, que tem 2 milh�es de pessoas com essas comorbidades convivendo com estudantes.
O aumento de 4 mil mortes seria superior a todas os �bitos j� registrados em Minas Gerais em decorr�ncia da doen�a, que ontem chegaram a 3.783, de acordo com boletim da Secretaria de Estado de Sa�de. Por sua vez, o ingresso de 102 mil doentes necessitando de UTIs poderia representar o colapso do sistema hospitalar, mesmo que aos poucos, uma vez que hoje se disp�e de apenas 3.869 leitos, com ocupa��o de menos de 70%. Desses, em m�dia, menos de 30% t�m sido ocupados por casos confirmados ou suspeitos da COVID-19.
O impacto para o Brasil tamb�m seria significativo. Ainda que o pa�s conte com 66,7 mil leitos de UTI � sua disposi��o, a ocupa��o � alta, acima dos 70%. E sofreria uma forte press�o com a converg�ncia de mais 927 mil doentes graves, ainda que n�o ao mesmo tempo, necessitando de respiradores e medicamentos, que j� se fazem escassos.
Mais press�o
De acordo com nota t�cnica da Fiocruz, esse impacto seria ainda maior, pois o levantamento considera apenas os estudantes retornando para suas casas e n�o o significativo grupo de profissionais envolvidos nas escolas, como professores e educadores, e dos servi�os que as orbitam, do transporte � alimenta��o. “Al�m da popula��o adulta com fatores de risco e dos idosos, existe ainda um contingente enorme de pessoas que est�o envolvidas na atividade escolar”, diz a nota.
O texto assinala ainda que “a discuss�o sobre a retomada do ano letivo no pa�s n�o segue um momento em que � clara a diminui��o dos casos e �bitos”. Considera ainda como “agravante” ao risco do retorno o fato de ele ocorrer em momento de “desmobiliza��o de recursos de sa�de e desmonte de hospitais de campanha, que apresentaram subutiliza��o em algumas regi�es, mas que podem ser demandados de forma abrupta num cen�rio de espalhamento da doen�a em fun��o da volta �s aulas”.
(foto: Arte EM)
A Fiocruz considera necess�rio que a retomada das aulas presenciais siga uma metodologia baseada principalmente no n�mero de casos, �bitos e caracter�sticas da popula��o dos munic�pios e seu entorno, considerando a rede de influ�ncia das cidades. “Retomar as aulas (presenciais) sem considerar a complexidade dessa medida � movimento arriscado, pois, para essas pessoas que vivem com crian�as em idade escolar n�o ser� mais poss�vel adotar o 'fique em casa'”, destaca.
O estudo tamb�m ressalta que os surtos nas escolas seriam de dif�cil controle, sobretudo em alunos menores, que necessitariam de uma a��o mais r�gida dos educadores, bem como a sua exposi��o. “Cabe destacar que, embora a doen�a n�o tenha como principal alvo as crian�as, n�o � descartada a hip�tese de que ocorra aumento do n�mero de casos entre elas e, sobretudo, em idades mais novas, por conta da dificuldade de mant�-las em distanciamento e sem aglomera��es no ambiente escolar”.
Alunos come�am a voltar �s aulas em algumas partes do pa�s, como o Amazonas. S�o Paulo planeja retorno para outubro e a capital do Rio de Janeiro briga na Justi�a para voltar de imediato.
Medo em fam�lia
Rafaela Ramos vive com a av�, Colativa Tavares, e se preocupa com o retorno � escola: %u201CPor ser mais nova, posso at� aguentar o tranco da doen�a. Mas ela n�o%u201D, diz (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
“Tenho muito medo de a minha neta retornar �s aulas na escola dela e trazer o v�rus (novo coronav�rus) para dentro de casa”, afirma a aposentada Colativa Maria Tavares, de 76 anos, que tem problemas respirat�rios, como bronquite cr�nica, e tamb�m press�o alta. Ela mora em Betim, na Grande BH, com a neta Rafaela Ge�rgia Tavares Ramos, de 17, estudante do 3º ano, que tamb�m n�o sente ser este o melhor momento para voltar a conviver com professores, colegas e funcion�rios do col�gio, devido � COVID-19 e por residir com a av�.
A possibilidade de retorno �s aulas presenciais assusta muitos pais e alunos, mas sobretudo aqueles que convivem com pessoas do grupo de risco e t�m a recomenda��o de isolamento mais r�gido desde o in�cio da pandemia. Nesse grupo, que inclui idosos acima dos 60, hipertensos, diab�ticos e pacientes com doen�as pulmonares e card�acas, o risco n�o � apenas de desenvolver a COVID-19 caso seja transmitida pelo estudante, mas de ter a forma mais grave da doen�a, com maior possibilidade de perder a vida.
“Uma das minhas maiores preocupa��es � de que, ao voltar para a escola, contraia o v�rus, n�o apresente sintomas e acabe transmitindo a doen�a para a minha av�. Eu, por ser mais nova, posso at� aguentar o tranco da doen�a. Mas ela (a av�) n�o. A minha preocupa��o maior � essa. Acho que, por enquanto, a gente deveria continuar em casa at� que tudo seja resolvido e que surja uma poss�vel vacina. A� sim, poder�amos voltar para a escola e retornar � normalidade”, afirma Rafaela, cautelosa com os estudos e a sa�de da fam�lia.
Para ela, quem reside com pessoas com condi��es de sa�de que requerem aten��o maior, como Colativa, n�o poder� se descuidar do coronav�rus mesmo depois de passada a pandemia. “Agora, a gente fica em casa, tomando todos os cuidados. Eles precisam ser ainda dobrados no caso de pessoas que, como eu, vivem com algu�m que est� no grupo de risco”, afirma.
Em an�lise
O governo de Minas Gerais informou, por meio da Secretaria de Estado de Educa��o (SEE/MG), que est� avaliando os meios mais seguros para a retomada das atividades presenciais nas institui��es de ensino, considerando crit�rios t�cnicos e cient�ficos. “A SEE/MG est� elaborando um protocolo para o retorno �s aulas presenciais, em conson�ncia com as orienta��es SES. O material ser� finalizado ap�s amplas discuss�es e estudos realizados pela secretaria com entidades educativas e ser� apresentado em breve. Reiteramos que as demandas da �rea da educa��o s�o avaliadas criteriosamente e as aulas ser�o retomadas no momento mais seguro para alunos e profissionais envolvidos”, afirma a pasta.
No caso da capital mineira, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), afirmou nesta semana que dificilmente as aulas presenciais retornar�o enquanto uma vacina contra o novo coronav�rus n�o estiver dispon�vel para a popula��o.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte. V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.