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Estado de Minas FINADOS

No Dia de Finados, uma homenagem aos que partiram sem despedidas

No primeiro 2 de novembro depois da pandemia, familiares e amigos que perderam entes queridos para a doen�a falam da dor e das lembran�as que n�o se apagam no luto que ficou


02/11/2020 04:00 - atualizado 02/11/2020 07:27

Regina Márcia Franco e a filha Juliana vão homenagear o marido e pai morto pela COVID-19 de forma silenciosa, em casa(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
Regina M�rcia Franco e a filha Juliana v�o homenagear o marido e pai morto pela COVID-19 de forma silenciosa, em casa (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
Foi em 21 de setembro, Dia da �rvore, que a arquiteta Juliana Franco da Paz, de 31 anos, e a m�e dela, Regina M�rcia Franco da Paz, perderam aquele que, muito mais do que pai e marido, era o amigo, o companheiro de todas as horas, o homem com grande disposi��o para o trabalho e a pessoa presente nos momentos bons e ruins. “Ele cultivou o melhor da vida e colhemos, juntos, os frutos da generosidade, da compet�ncia profissional, da capacidade de administrar e do amor pelos amigos. Ficaram as sementes positivas que vamos plantar”, diz Juliana sobre o pai, Luiz Geraldo da Paz, v�tima da COVID-19 aos 63 anos. Administrador de empresas, Luiz Geraldo morava com a fam�lia no Bairro Cidade Nova, na Regi�o Nordeste de Belo Horizonte.

Neste primeiro Dia de Finados em tempos de pandemia do novo coronav�rus, Juliana e Regina M�rcia preferem uma homenagem silenciosa, com ora��es em casa, do que a visita ao cemit�rio. “Sofremos a perda e, devido �s restri��es sanit�rias, n�o pudemos participar do vel�rio, cumprir o ritual de despedidas. Tudo ocorreu muito rapidamente", conta a arquiteta na certeza de que o luto ser� longo. “Foi imposs�vel receber o abra�o dos amigos, o carinho dos parentes, ent�o todas as vezes em que encontramos algu�m conhecido, e essa pessoa naturalmente exp�e seus sentimentos, revivemos os momentos dif�ceis. Penso que essa dor vai ficar por muito tempo”, afirma Juliana, que � filha �nica e est� noiva.

"Ele cultivou o melhor da vida e colhemos, juntos, os frutos da generosidade, da compet�ncia profissional, da capacidade de administrar e do amor pelos amigos. Ficaram as sementes positivas que vamos plantar"

Juliana da Paz, filha de Luiz Geraldo da Paz


Luiz Geraldo foi internado com COVID-19 num hospital da Regi�o Centro-Sul da capital em 4 de setembro – a mulher e a filha tamb�m foram diagnosticadas com a doen�a, mas sem apresentar complica��es. “Ele ficou no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) durante 13 dias, entubado, um calv�rio que os pacientes dessa doen�a enfrentam. Em casa, aguard�vamos not�cias. Minha m�e tem sido muito forte, vamos nos apoiando uma na outra, mas a toda hora v�m as lembran�as. Foi um baque muito forte, pois �ramos unidos, viaj�vamos sempre juntos. Como � recente, a cada instante as recorda��es afloram. No dia em que completou um m�s da morte dele, era meu anivers�rio", emociona-se.

Conforme o �ltimo boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Sa�de (SES-MG), o novo coronav�rus fez 8,9 mil v�timas em Minas. O n�mero de infectados totaliza 355,2 mil. O relat�rio oficial registra ainda 324,2 mil recuperados e 22,1 mil casos em acompanhamento. Em todo o estado, h� 35,4 mil pacientes internados com COVID-19 e outros 317,8 mil cumprem isolamento domiciliar.
Jacqueline do Carmo perdeu a mãe e um irmão em menos de duas semanas e hoje diz buscar conforto na força dela e na alegria dele para aliviar as saudades(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press )
Jacqueline do Carmo perdeu a m�e e um irm�o em menos de duas semanas e hoje diz buscar conforto na for�a dela e na alegria dele para aliviar as saudades (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press )


Uni�o e f� 


Em menos de duas semanas, a belo-horizontina Jacqueline do Carmo Gomes e suas tr�s irm�s perderam o irm�o, J�lio C�sar Gomes, de 51, e a m�e, Mariza do Carmo Gomes, de 86. “Ele morreu em 20 de julho e ela em 3 de agosto”, conta, ainda abalada pelos "dois baques", a analista de Recursos Humanos. “Nossa fam�lia � muito amiga. Somente com uni�o e f� se torna poss�vel suportar uma dor dessas. Um apoia o outro."

Casada com Anderson da Silva Montes, pais de um casal, Jacqueline diz que quase toda a fam�lia testou positivo para a doen�a, com exce��o do filho. “Foi um per�odo de muito sofrimento, de informa��es desencontradas...a gente sempre � espera de not�cias, pois meu irm�o e minha m�e ficaram internados. Houve erro de diagn�sticos: falaram, por exemplo, que minha filha estava com dengue, quando, na verdade, era COVID. Quanto � minha m�e, disseram que era sinusite", afirma.

"Era uma pessoa que conseguia administrar tudo, muito din�mica, dessas que s� agregava e jamais separava"

Padre Alam Martins Mendes, irm�o de Z�lia Martins de Melo


O conforto, hoje, � lembrar da for�a da m�e e da alegria do irm�o, embora ele estivesse passando momento dif�cil pela morte da esposa, ocorrida em dezembro do ano passado. "Veio morar conosco, ficamos todos na casa da minha m�e, no Bairro Itapo� (Regi�o da Pampulha). Ela sempre gostou de plantas e animais. Quando viajava, pedia para cuidarmos dos cachorros." Muito cat�lica e din�mica, segundo a filha, dona Mariza ajudava nas barraquinhas para angariar fundos para o grupo de encontro de casais no Santu�rio Arquidiocesano de Adora��o Perp�tua (Igreja da Boa Viagem), na Regi�o Centro-Sul da capital. "Conhecia muita gente l�, era uma pessoa querida, ativa. S� nos resta, agora, sentir saudade e lembrar da conviv�ncia maravilhosa que tivemos."

Celebra��o 

Em Una�, na Regi�o Noroeste de Minas, a fam�lia de Z�lia Martins de Melo, de 44, recebeu muitas manifesta��es de afeto pela morte da professora de qu�mica, em 25 de julho, v�tima da doen�a que, h� quase oito meses, assombra a humanidade. Colegas da escola, alunos e moradores da cidade, dentro das restri��es sanit�rias, demostraram seu carinho aos dois filhos adolescentes, aos irm�os e parentes da conterr�nea falecida precocemente.

Distante dali, no distrito de Inha�, em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a saudade d�i no cora��o do padre Alam Martins de Melo, titular da Par�quia Santana. “Z�lia era a s�tima de 10 irm�os, sou o oitavo, dois anos mais novo. Ent�o, na inf�ncia, brincamos juntos, tivemos nossas 'briguinhas', enfim, passamos um tempo muito feliz de crian�a”, diz o sacerdote que ingressou no semin�rio aos 17 anos.
Padre Alam Martins Melo se apega à fé e se lembra das brincadeiras de infância com a irmã, professora de química vítima do novo coronavírus(foto: Acervo Pessoal )
Padre Alam Martins Melo se apega � f� e se lembra das brincadeiras de inf�ncia com a irm�, professora de qu�mica v�tima do novo coronav�rus (foto: Acervo Pessoal )

Para o padre Alam, este 2 de Novembro deve mostrar, mais do que nunca, que a f� impulsiona a vida, apontando caminhos infinitamente superiores ao que � material, passageiro e terreno. “Precisamos voltar nossos olhos para Deus e pensar o melhor para o mundo, com responsabilidade, valorizando o ser humano. Devemos ter esperan�a em Deus para viver”, acredita. Ao se referir � irm�, que ficou tr�s dias internada, o religioso tem a palavra alegria para descrev�-la. "Era uma pessoa que conseguia administrar tudo, muito din�mica, dessas que s� agregava e jamais separava."

"S� de lembrar da minha m�e, meu cora��o fica apertado. Era uma pessoa que gostava de horta, de plantas e da fam�lia. E sempre muito cat�lica... n�o � � toa que tinha esse nome"

Ernania Aparecida Paiva Coelho, filha de Santinha Adelina de Paiva


Sete mulheres 

A resid�ncia de Santinha Adelina de Paiva j� foi chamada carinhosamente de "a casa das sete mulheres" numa refer�ncia ao livro que gerou s�rie de tev�. Agora, a senhora que completaria 69 anos ontem, dia 1,º de novembro, Dia de Todos os Santos – da� o nome de batismo – vive apenas na mem�ria e na grande saudade das tr�s filhas e tr�s netas.

Falecida em 24 de setembro, v�tima da COVID-19, depois de internada em hospital de Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, onde morava, Santinha s� traz lembran�as amorosas � filha mais velha, Ernania Aparecida Paiva Coelho, de 52, professora do ensino fundamental. “Nasci quando minha m�e ainda era muito jovem, tinha apenas 17 anos.”
Santinha de Paula (dir), que faria 69 anos, partiu deixando lembranças na filha Ernania Aparecida (C) e nas netas. Ela gostava de ver a homenagem aos mortos(foto: Acervo Pessoal )
Santinha de Paula (dir), que faria 69 anos, partiu deixando lembran�as na filha Ernania Aparecida (C) e nas netas. Ela gostava de ver a homenagem aos mortos (foto: Acervo Pessoal )

Hoje, Ernania vai dividir seu tempo entre a visita ao pai (Luiz Lamas De Paiva), falecido h� 11 anos e sepultado em cemit�rio do distrito de S�o Benedito, e o Cemit�rio do Carmo, tamb�m em Santa Luzia, onde est� a m�e. “No ano passado, fomos juntas levar flores ao t�mulo do meu pai. Vou manter a tradi��o, mesmo na pandemia. Minha m�e gostava de ver a chuva de p�talas de rosas para homenagear os mortos", conta Ernania, de 52. “S� de lembrar da minha m�e, meu cora��o fica apertado. Era uma pessoa que gostava de horta, de plantas e da fam�lia. E sempre muito cat�lica... n�o � � toa que tinha esse nome”, ressalta a professora.


CNBB recomenda plantar esperan�a


No pa�s, houve 160.074 mortes confirmadas por COVID-19 at� ontem, segundo dados do Minist�rio da Sa�de. Para lembrar todos os mortos, independentemente da causa, a Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pede para que cada um, dentro das possibilidades, plante hoje uma muda de �rvore, representando “um gesto bonito de homenagem nos par�metros da ecologia integral”.


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