Com o colapso nos hospitais, onde faltam leitos e h� escassez de oxig�nio e medicamentos, a rotina desses socorristas do transporte ficou mais dif�cil e perigosa, como mostra a reportagem do Estado de Minas. � espera de vagas, os pacientes t�m permanecido dentro dos ve�culos de emerg�ncia por at� 40 minutos.
A Fhemig confirmou � reportagem do Estado de Minas que 18 condutores de ambul�ncia trabalham sem ter recebido a vacina e culpa o fato de esses profissionais estarem lotados como setor administrativo da funda��o. Isso a despeito de atuarem na linha de frente do combate � COVID-19, condi��o que estabelece a prioridade das campanhas de imuniza��o contra o coronav�rus. A funda��o afirmou tamb�m que s�o 18 motoristas sem vacina.
“J� foram solicitadas � Secretaria Municipal de Sa�de de Belo Horizonte as doses de vacina para os profissionais que atuam como motoristas das ambul�ncias da Fhemig. A imuniza��o contra COVID-19 teve prioridade para aqueles que atuam na linha de frente e esses profissionais s�o lotados em setor administrativo. Por�m, desde o in�cio foi identificada essa necessidade, dada a rotina de trabalho dos motoristas. Aguardamos a resposta da PBH para inclus�o no calend�rio de vacina��o”, informou a funda��o.
queda do ex-secret�rio Carlos Eduardo Amaral. Agora, outra lista, de 1,8 mil trabalhadores da �rea no interior de Minas, tamb�m levanta suspeita de vacina��o irregular e ser� investigada. Neste �ltimo caso, teriam sido vacinadas pessoas que est�o trabalhando em casa.
O caso levou � Respons�veis pelo transporte de pacientes com a doen�a, muitas vezes em estado grave, os condutores e equpe m�dica de ambul�ncias enfrentam mais perigo em meio ao colapso nos hospitais. A perman�ncia prolongada de doentes com o novo coronav�rus (Sars-CoV-2) nos ve�culos de urg�ncia e emerg�ncia devido � escassez de leitos hospitalares e de cilindros de oxig�nio exp�em cada vez mais os socorristas de transporte de pacientes no estado e na capital, como mostra a reportagem do EM, que ouviu esses profissionais.
O condutor de ambul�ncia da Fhemig Itamar Ant�nio Samora, de 63 anos, n�o tomou nem sequer a primeira dose de imunizante contra o coronav�rus. “N�o tomei ainda nem uma dose de vacina e transporto todos os dias pacientes com a COVID-19 para a Fhemig do Hospital (de Pronto-Socorro) Jo�o XXIII. Hoje (ontem) daqui a pouco vou levar uma paciente para o (Hospital) Eduardo de Menezes”, protesta.
Itamar Samora disse se sentir desprezado, principalmente por saber que parte do pessoal administrativo do governo estadual j� foi imunizado e � investigado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no caso dos fura-filas. “Para mim, disseram: (voc�) vai ter que esperar. N�o chegou a nossa vez ainda”, conta. Ele afirma usar capotes, luvas, m�scaras e todo equipamento de prote��o, mas isso n�o impede o medo de se contaminar.
“N�o me sinto seguro. Tem pacientes graves, geralmente da faixa de 60 ano. Anteontem, carreguei um de 46 anos e a paciente de hoje tem na faixa de 60. Minha fam�lia fica preocupada, sabe que est� tendo alta contamina��o”, desabafa o motorista.
Nervos no lugar
A escassez de vacinas n�o est� apenas na rede p�blica. “Por enquanto, tomei s� a primeira dose. A segunda, est� marcada para abril. A gente fica preocupado enquanto isso, transportando cada vez mais doentes e ficando mais com eles dentro da ambul�ncia. H� dificuldade de vagas. A empresa nos d� todo equipamento de prote��o individual, nunca faltou nada. Mas a preocupa��o existe e nos faz ter sempre mais cuidado e foco”, afirma Thiago Santana Evangelista, de 35 anos, que opera ambul�ncias para a Santa Casa de Miseric�rdia, Hospital das Cl�nicas, Ipsemg, Hospital Militar e Unimed.
Por meio dos relatos das equipes de ambul�ncias, a reportagem do EM percorreu as institui��es que cuidam de doentes infectados pelo novo coronav�rus (Sars-CoV-2) na regi�o hospitalar da capital mineira para verificar o impacto dessa nova fase da doen�a, que abarrota os hospitais e faz v�timas cada vez mais jovens. Os riscos aos quais essas equipes est�o expostas, nem todas completamente vacinadas, demandam aten��o e nervos no lugar, j� que as vidas dos pacientes est�o em suas m�os a caminho dos hospitais. Al�m dos motoristas, tripulam as ambul�ncias, enfermeiros e m�dicos em caso de pacientes mais graves.
Longa espera
Toda vez em que a ambul�ncia � chamada para atender a um paciente com COVID-19, Thiago leva 10 minutos para preparar todo o aparato de prote��o. � preciso colocar a m�scara N95, vestir o macac�o vedado, capote, usar v�rias luvas, �culos e face shield (escudo acr�lico para o rosto). “S� que tem tido tantos pacientes, que a gente fica cada vez mais tempo com eles dentro da ambul�ncia. Cada minuto a mais, aumenta o risco de exposi��o e de contamina��o. Mas � assim que as coisas est�o hoje, porque a gente precisa esperar que seja feita a triagem, que surja uma vaga. N�o � culpa dos hospitais. Os leitos est�o saturados em BH”, disse Thiago.
Com dois pacientes contaminados na ambul�ncia, em fila, atr�s de outros tr�s ve�culos de emerg�ncia com mais tr�s doentes, na entrada da Santa Casa de Miseric�rdia de BH, a situa��o na ter�a-feira estava tensa para Ant�nio Mois�s de �vila, de 43 anos, condutor do Servi�o de Atendimento M�dico de Urg�ncia (SAMU) de BH. Ele conta que nesta fase da pandemia tem sido frequente esperar at� 40 minutos e tentar mais de uma vez vagas em hospitais diferentes por causa da alta demanda por leitos.
“Al�m disso, o volume de transportes aumentou mais de 50%. H� poucos dias fomos levar um paciente para a UPA Pampulha, mas l� n�o tinha ponto de oxig�nio para ele. Por isso n�o pudemos retirar o paciente do oxig�nio da ambul�ncia. At� a central nos indicar o atendimento mais pr�ximo ficamos com ele mais 40 minutos. O volume est� muito grande”, constata o profissional.
Para dar ideia do impacto da COVID-19, apenas entre profissionais de sa�de de BH, em 31 de dezembro de 2020 eram 1.639 casos positivos. O n�mero cresceu 32,7%, passando para 2.175 at� o dia 16 deste m�s, segundo o boletim epidemiol�gico da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) e no Samu os cuidados t�m dado certo, uma vez que o crescimento foi menor, de 21,1%, passando de 123 para 149 no mesmo per�odo.
Ant�nio Mois�s �vila j� recebeu as duas doses da vacina contra a COVID-19, mas n�o se descuida dos equipamentos de seguran�a. Ele afirma vestir tr�s luvas descart�veis em cada m�o, capote no peito, �culos, touca, uma m�scara N95 (que � utilizada dentro de centros cir�rgicos e comprovadamente evitar a penetra��o de part�culas pequenas como v�rus) e uma m�scara cir�rgica por cima.
“Minha fam�lia ficou apavorada quando soube que eu trataria de doentes de COVID-19. Tenho duas filhas de 11 e de 18 anos. O que fa�o, al�m de tudo, � manter minha aten��o o tempo todo. Evito co�ar os olhos, a boca, nariz e ouvidos por mais que esteja precisando at� que terminemos o atendimento e possamos nos lavar muito bem. Outra pessoa higieniza a ambul�ncia e j� come�amos mais um atendimento”, conta.
Responsabilidade e drama di�rio
O isolamento e a incerteza dos doentes de COVID-19 come�am quando se abrem as portas das ambul�ncias. “N�s somos a primeira e algumas das vezes a �nica equipe para quem uma filha, um neto ou uma esposa v�o confiar o seu doente, antes da cura ou do pior. Isso nos marca todos os dias.
S�o cada vez mais pacientes, mais fam�lias, mais jovens sem saber quando ser�o internados e por quanto tempo estar�o sozinhos”. O desabafo de Ant�nio Mois�s de �vila, de 43 anos, condutor de uma ambul�ncia do SAMU de Belo Horizonte, traz em comum a responsabilidade, al�m dos desafios crescentes das equipes de ambul�ncias mineiras diante do agravamento da pandemia da COVID-19, em meio ao estrangulamento progressivo de leitos e at� � falta de oxig�nio para os pacientes.
“Os pacientes ficam sozinhos depois que entram na nossa ambul�ncia. N�o podemos levar acompanhantes, porque os doentes ficam em uma ala separada de COVID-19”, conta o condutor do SAMU. Esse primeiro isolamento pode ser a �ltima vez em que o parente v� o doente com vida, como relata Thiago Santana Evangelista, de 35 anos, que opera ambul�ncias para a Santa Casa de Miseric�rdia, hospitais das Cl�nicas, Militar e Unimed. “As pessoas parecem ainda n�o terem entendido como a doen�a � facilmente transmitida e leva embora nossos parentes”, alerta.
Thiago Evangelista conta que h� alguns dias a equipe da qual faz parte foi chamada para atender um idoso intubado com suspeita de infec��o pelo novo coronav�rus. “Os parentes diziam que n�o sabiam se ele tinha a COVID-19, mas n�s j� t�nhamos quase certeza. Falaram que estavam em uma festa e que ele acabou dormindo no ch�o. Acharam que pegou friagem e poderia estar com pneumonia. Mas ele caiu e dormiu no ch�o j� por dificuldades respirat�rias da infec��o”, lembra.
Antes de levar o doente, o socorrista se recorda de que a fam�lia tentava se organizar para acompanhar o doente, “provavelmente mais algu�m ali, que participou da festa deve ter se infectado e passado a doen�a. O senhor, nenhum deles mais viu com vida. Morreu poucos dias depois de COVID-19, sozinho no hospital”, disse.